4.3
(6)

Pânico na Floresta 6
Original:Wrong Turn 6: Last Resort
Ano:2014•País:EUA, Bulgária
Direção:Valeri Milev
Roteiro:Frank H. Woodward
Produção:Jeffery Beach, Phillip J. Roth
Elenco:Anthony Ilott, Chris Jarvis, Aqueela Zoll, Sadie Katz, Rollo Skinner, Billy Ashworth, Joe Gaminara, Roxanne Carrion, Danko Jordanov

É comum dentre os fãs de uma franquia a empolgação com um novo filme, pela possibilidade de resgatar velhos personagens ao lado de boas mudanças e o complemento da mitologia desenvolvida. Quando o resultado é insatisfatório, também é praxe considerar a produção desnecessária, uma afronta ao que fora apresentado até então. Exemplos não faltam no cinema de horror, bastando recordar os absurdos de Halloween 6, os equívocos de Sexta-Feira 13 Partes 8 e 9, e até as bobagens de Fantasma 4 e 5, além de algumas sequências de A Hora do Pesadelo, entre outros. Dizem até que é difícil encontrar bons representantes em cinesséries extensas, evidenciando o desgaste da fórmula e o oportunismo do uso dos nomes. Com Wrong Turn não foi diferente.

O primeiro filme, lançado em 2003, foi uma grata surpresa do gênero, mesmo com seus clichês e lugares comuns. Entre 2007 e 2014, foram lançados mais cinco filmes, todos envolvendo a região de West Virgínia e uma família de canibais deformados encontrando viajantes incautos (Wrong Turn 3, 4 e 5), participantes de um reality (Wrong Turn 2), prisioneiros em fuga (Wrong Turn 3), festeiros (Wrong Turn 5) e um herdeiro (Wrong Turn 6). Basicamente, o enredo até tentou sair da mata para surpreender como fora feito em Wrong Turn 4 no hospital psiquiátrico ou em Wrong Turn 6 no hotel, mas não fugiu do óbvio ao mostrar as mesmas armadilhas sangrentas, canibalismo e torturas, além de algumas tradicionais bizarrices. Olhando para tudo o que fora mostrado, o primeiro filme é o único pé no chão, um verdadeiro survival horror, com alguns bons momentos de claustrofobia e tensão.

Wrong Turn 6 deveria unir as pontas soltas da franquia ou pelo menos trazer algumas explicações sobre o que fora mostrado para justificar sua existência. Wrong Turn 2 voltou à mata, mas ignorou a torre de rádio e a cachoeira do primeiro filme, além de trazer uma comunidade da montanha que costuma se reunir numa fábrica de produtos químicos, responsabilizando-a pelas deformidades. Tal ambiente, que passou a abrigar o cemitério de carros vistos ao ar livre no primeiro, não aparece mais, nem no terceiro que, pelo menos, teve uma passagem pela torre de rádio. Wrong Turn 3 traz apenas Three Finger – os demais irmãos, One Eye e Saw Tooth, morreram no primeiro -, que sobreviveu ao tiro que recebera no segundo filme, e uma criança em em referência à mostrada no final do segundo filme. O vilão e a criança morrem no confronto com os presidiários.

O quarto filme traz fatos anteriores ao primeiro longa, apresentando um hospital psiquiátrico que teria abrigado os três irmãos, One Eye, Saw Tooth e Three Finger, encontrados solitariamente na mata, sem menção à influência química na deformidade, apenas a relação incestuosa. Esse hospital também não aparece mais, nem é mencionado. As ações deste se encerram em 2003, mesmo ano provável para Wrong Turn 5 e 6, considerados anteriores ao filme original. Wrong Turn 5 apresenta a cidade de Fairlake e o tradicional Festival Homem da Montanha, sem referências até então, assim como o “pai” dos canibais, responsável por tirá-los no sanatório, Maynard (Doug Bradley). Teve uma grande importância no quinto filme, mas sem explicações sobre seu destino, tanto que ele nem é lembrado em Wrong Turn 6, que só foi feito para tumultuar ainda mais a cronologia, com um herdeiro e até ritual de acasalamento.

Pânico na Floresta 6 – pelo menos deram um título coerente – começa com a tradicional cena de assassinato de mochileiros. No caso, dois bikers, Daria (Talitha Luke-Eardley) e Nick (Luke Cousins), transam na mata para logo depois serem mortos com flechadas por Three Finger (Radoslav Parvanov, que fez One Eye no quinto filme), com um visual mais próximo do que fora mostrado em Wrong Turn 2, e seus irmãos One Eye (Asen Asenov) e Saw Tooth (Danko Jordanov), em péssimas maquiagens. O trio é amparado por seus dois parentes “normais“, Jackson (Chris Jarvis) e Sally (Sadie Katz) – nome dado em homenagem à clássica personagem de O Massacre da Serra Elétrica -, que são os zeladores do resort Hobbs Springs, um hotel com características medievais.

Os dois aguardam a chegada ao local de Danny (Anthony Ilott), que herdou o estabelecimento e deve se acasalar com Sally para a perpetuação da família. Mas o rapaz, que teve episódios de depressão e tentativas de suicídio (como a sobrevivente de Wrong Turn 2), vai visitar o hotel com mais pessoas do que se esperava: a namorada Tony (Aqueela Zoll), o irmão dela Rod (Billy Ashworth) e os amigos Vic (Rollo Skinner), Charlie (Harry Belcher) e o casal Bryan (Joe Gaminara) e Jillian (Roxanne Carrion). Chegam ao local no momento em que um grupo de idosos conclui sua estadia, sem serem incomodados pelos canibais, à exceção de Agnes Fields (Josie Kidd), que é morta dentro do hotel para irritação de Jackson. Mais tarde, o rapaz vai à mata e pede que ninguém seja morto até o momento certo, quando Danny conhecer suas raízes com a família Hillicker.

Quando Bryan e Jillian vão às compras na cidade – não diz qual, mas poderia ser Fairlake -, o xerife Doucette (Kicker Robinson) faz questionamentos sobre o desaparecimento de Agnes. Sim, a senhorinha que foi morta naquele mesmo dia já tem cartaz de desaparecido afixado, mostrando que a polícia local é de uma eficiência impressionante, apesar de nunca buscar informações na mata sobre pessoas mortas e carros abandonados. O xerife só aparece para logo ter seu destino traçado na mata numa boa cena em que Jackson tenta ensinar Danny a caçar e sua narração traz uma rima entre a morte de uma corsa e de Doucette. Já esse mesmo casal encontrará problemas ao tentar furtar peças valiosas do resort e abrir uma passagem secreta para um ambiente escondido, onde são realizados os rituais de acasalamento, acompanhado pelos demais canibais. O que é pior: os três irmãos chegam a vestir túnicas para a celebração, com uma espécie de culto da espécie, contrariando as orações católicas vistas em Wrong Turn 2.

Não precisa expor mais algumas linhas sobre o que acontece a seguir. Aos poucos, os amigos serão mortos, e Tony terá a árdua missão de impedir que seu namorado seja cativado pelas tradições familiares. Wrong Turn 6 mostrará a comunidade dos canibais e até um churrasco não explicando como os demais viveram ali e foram ignorados nas partes 1, 4 e 5. Provavelmente são os mesmos vistos e mortos na parte 2, que não menciona o resort, mas apresenta uma fábrica. Enfim, nota-se que não há coerência, nem uma cronologia adequada. O roteiro de Frank H. Woodward não se prende à franquia e aos acontecimentos mostrados; e os demais realizadores, como o diretor Valeri Milev, simplesmente não viram qualquer filme da série Wrong Turn.

Mostrando todas as atrizes nuas e se tornando o mais erótico da franquia, Wrong Turn 6 também não funciona como slasher ou survival horror. Tudo acontece de maneira óbvia, apostando em alguns episódios de tensão, como a cena em que os amigos descobrem os canibais na cozinha do hotel. Tem a mesma medida de exageros e violência da série, mas não empolga, deixando claro que se trata de um filme que mesmo que tivesse outro título seria apenas comum e mal realizado, com atuações ruins e efeitos idem.

Se serviu para alguma coisa, o longa pelo menos encerrou a série e deu um descanso para os vários atores que interpretaram Three Finger e seus irmãos canibais. Não da maneira como deveria, preenchendo as lacunas, apenas com mais cenas de violência e perseguição, desta vez em um resort. Com o desgaste da fórmula, viriam especulações sobre um remake ou reboot do original, surgindo assim o terror Pânico na Floresta: A Fundação, lançado em 2021, com uma história completamente diferente, sem pessoas deformadas, e com contexto histórico.

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1 comentário

  1. Marcelo, acredito que esse seja o pior da franquia, por mais que o quinto filme por si só seja uma ofensa a cronologia, ao bom senso e a inteligência de quem assiste, esse sexto filme é um festival ainda maior de bobagens. Essa história do culto incestuoso/canibal, a história do hotel, os irmãos dóceis e recebendo ordens (pior que no quinto) dos irmãos do Hotel. Rituais de acasalamento, atuações bizarras, personagens burros e cheios de clichês, maquiagens ridículas, direção e roteiro de dar dor de barriga. Sinceramente, mesmo como fã de bagaceiras de qualidade duvidosa, esse filme é ruim de dar dó. Só se assiste mesmo pelas mortes, os três irmãos e por carregar o nome Pânico na Floresta.

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