Os Crimes de Snowtown (2011)

4.3
(7)

Os Crimes de Snowtown
Original:Snowtown
Ano:2011•País:Austrália
Direção:Justin Kurzel
Roteiro:Shaun Grant
Produção:Anna McLeish, Sarah Shaw
Elenco:Daniel Henshall, Lucas Pittaway, Louise Harris, Aaron Viergever, David Walker, Bob Adriaens, Anthony Groves, Richard Green, Frank Cwiertniak, Beau Gosling

James Vlassakis (Lucas Pittaway) vive junto com sua família em um bairro pobre de uma pequena cidade no interior da Austrália chamada Snowtown. Sua mãe, Elizabeth Harvey (Louise Harris), acaba se envolvendo com John Bunting (Daniel Henshall), um homem que aparentemente chegou para assumir o papel de pai da família, mas que esconde um lado obscuro.

Essa é a sinopse de Os Crimes de Snowtown (2011), um filme baseado na história real do maior e mais cruel serial killer da Austrália. Em 1999, um grupo liderado por John Bunting foi incriminado pela morte de 12 pessoas. Os assassinatos envolviam tortura e as vítimas eram escolhidas, ou melhor, julgadas por John, de acordo com seu doentio senso de justiça, incluindo homossexuais, pedófilos, ou simplesmente pessoas “fracas”. Alguns corpos foram encontrados em barris com ácido, dentro de um cofre em um banco abandonado no sul da Austrália.

O filme, primeiro longa-metragem do diretor Justin Kurzel, recebeu elogios da crítica especializada e diversos prêmios no circuito de cinema australiano. Eu não sabia que o filme era baseado em fatos quando resolvi assisti-lo pela primeira vez, mas a sinopse foi o bastante para me convencer. A primeira coisa que chamou a minha atenção foi o fato da história se passar na Austrália. Por querer fugir um pouco dos blockbusters americanos, e também por ter Wolf Creek (2005) como um dos meus filmes preferidos do gênero, pensei que seria uma boa pedida viajar para uma cidadezinha no interior da Austrália para conhecer os crimes de Snowtown. Minha surpresa não poderia ter sido melhor.

O filme começa mostrando o dia-a-dia da família do protagonista James, ou Jamie, como é chamado por todos. Eles parecem ser uma família simples, de classe média-baixa, pelo menos segundo os padrões de um país desenvolvido como é o caso da Austrália. A família me lembra muito o estereótipo dos rednecks americanos (uma família branca, de baixa renda, que vive em uma área pobre, cercada de drogas, violência e outros problemas sociais). Logo no início vem a primeira cena de desconforto (vai se preparando porque essa é a primeira de muitas): Elizabeth tem uma reunião com o ex-marido e deixa os três filhos mais novos, incluindo Jamie, sob os cuidados do vizinho Jeffrey (Frank Cwiertniak), um pedófilo que gosta de tirar foto pornográficas de meninos.

Ao descobrir que seus filhos haviam sofrido esse tipo de abuso, Elizabeth o confronta e o denuncia para a polícia. Jeffrey é solto após pagar a fiança, mas seu pesadelo está apenas começando. Elizabeth conhece John, que logo assume a liderança da família, caindo na graça dos filhos, especialmente de Jamie, que vê nele uma verdadeira figura paterna. John se mostra carinhoso e protetor com os meninos, fazendo de tudo para se vingar de Jeffrey. O que começa com provocações, como fazer barulho com a moto de madrugada ou atirar sorvete na porta de sua casa, chega a atos mais extremos, como despejar pedaços de cangurus desmembrados em sua varanda, com a ajuda de Jamie. Até esse momento o telespectador pode pensar que o vilão do filme é Jeffrey, mas logo ele acaba se mudando devido às provocações e ameaças dos vizinhos.

A partir de então, começamos a conhecer um outro lado de John. Ele se mostra um homem extremamente conservador e preconceituoso, a ponto de comandar reuniões com os vizinhos incitando o ódio e a violência contra os homossexuais da cidade. Neste meio tempo, vemos que Jamie também sofre abuso sexual dentro de sua própria casa. O agressor nesse caso é seu irmão mais velho, Troy (Anthony Groves). Na tentativa de fazer Jamie criar coragem e se impor contra Troy, John o obriga a atirar com um revólver em seu próprio cachorro (outra cena que causa grande incômodo). Até aqui já deu pra ter uma noção maior sobre as reais intenções de John, que, com a ajuda de Robert, acaba cometendo os primeiros assassinatos.

Em uma determinada noite, John e Robert mostram a Jamie dois corpos: Barry (Richard Green), um travesti da vizinhança, e Gavin (Bob Adriaens), o melhor amigo, usuário de drogas, de Jamie. Devastado pela morte do amigo, Jamie se revolta contra John, mas não demora muito para que fique tudo bem entre ele e o padrasto. Apesar de ser cúmplice nos crimes, Jamie ainda demonstra sofrer com a situação, não tendo sangue frio para cometer os atos com as próprias mãos, até o dia em que John escolhe Troy como a próxima vítima. Ao assistir John torturando seu irmão mais velho, Jamie, em um ato de misericórdia, acaba matando pela primeira vez.

Se não quiser saber como o filme termina, não leia o próximo parágrafo

Após uma série de assassinatos, seguindo sempre o mesmo padrão, o filme se encerra com Jamie atraindo o meio-irmão Dave (Beau Gosling) para uma armadilha de John e Robert. Antes dos créditos finais, ficamos conhecendo o destino dos personagens na vida real: Robert foi condenado a dez anos de prisão e John Busting, culpado por onze mortes, condenado à prisão perpetua. Jamie Vlassakis se declarou culpado por quatro assassinatos e em 2025 as autoridades irão decidir se ele será solto ou não.

Fim dos spoilers

Ao longo do filme podemos perceber a transição dos dois personagens principais: Jamie, passando de um adolescente introvertido e passivo para um assassino frio, perturbado e sem sentimentos, capaz de atrair o próprio meio-irmão para uma emboscada. Da mesma forma, se no começo víamos John como o típico cristão metido a justiceiro, que queria apenas se vingar de um monstro pedófilo, já na metade do filme se mostra tão doente e cruel quanto o próprio Jeffrey. Isso fica nítido em cenas como quando ele faz uma vizinha nua e o filho mais novo de Elizabeth, vestido com roupas femininas, posarem para ele nas mesmas posições que Jeffrey fazia.

O filme apresenta vários pontos positivos, destacando a atmosfera tensa criada pelo diretor, que permanece durante todo o filme, e as performances marcantes de Daniel Henshall e Louise Harris. Também não posso deixar de mencionar as cenas de tortura que fazem até os mais assíduos fãs do gênero se contorcerem na poltrona.
O filme possui apenas um defeito: ser longo demais. São praticamente 2 horas de filme seguindo sempre um mesmo ritmo. Se fossem cortados 20 ou 30 minutos, a história não perderia o sentido e o telespectador não ficaria tão entediado.

Se você curte filmes de serial killers, principalmente aqueles baseados em fatos como Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019), Dahmer – Mente Assassina (2002) e Monster – Desejo Assassino (2003), você também deveria assistir aOs Crimes de Snowtown. E se você for como eu, após assistir a esse filme, vai querer incluir a pacata cidade de Snowtown no seu roteiro de turismo, caso o dólar nos permita e possamos ir para Austrália um dia. Claro, depois de uma rápida parada para acampar na cratera de Wolf Creek.

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Média da classificação 4.3 / 5. Número de votos: 7

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Taison Natarelli

Biólogo e enfermeiro, nascido e criado em Jaboticabal-SP, a cidade dos zumbis e das “Sete Catacumbas”. Um geek apaixonado por filmes de terror e ficção científica, especialmente os slashers dos anos 70/80 e Jurassic Park.

One thought on “Os Crimes de Snowtown (2011)

  • 15/03/2023 em 16:17
    Permalink

    O filme é longo e muitas vezes ficamos confusos com os cortes e sequências sem sentido. Será preciso assitir uma segunda vez para conseguir entender melhor a dinâmica do filme.

    Resposta

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