Cubo 2: Hipercubo
Original:Cube 2: Hypercube
Ano:2002•País:Canadá Direção:Andrzej Sekula Roteiro:Sean Hood, Ernie Barbarash, Lauren McLaughlin Produção:Ernie Barbarash Elenco:Kari Matchett, Geraint Wyn Davies, Grace Lynn Kung, Matthew Ferguson, Neil Crone, Barbara Gordon, Lindsey Connell, Bruce Gray |
Desvendar os mistérios que envolveram o Cubo, de Vincenzo Natali, foi uma das gratas surpresas da segunda metade dos anos 90. Um thriller desenvolvido com poucos recursos, cenário único e um grupo de personagens que, aos poucos, mostrava sua importância para a solução de um enigma mortal. Ao final, sem apresentar todas as respostas, mas com um enredo inteligente, escrito pelo próprio Natali em parceria de Graeme Manson e André Bijelic, despontava ali uma produção que inspiraria o gênero – o próprio Jogos Mortais é um dos frutos – e também os famosos jogos “Escape Room“, onde o público precisa encontrar pistas para partir para a sala seguinte. Trama fechada na construção de um clássico cult, não havia pontas soltas ou qualquer razão para se produzir uma parte 2. Mas aí surgiu um tal Cubo 2: Hipercubo (Cube 2: Hypercube, 2002) porque alguém achou que devia voltar à proposta.
O esboço do roteiro foi escrito por Sean Hood, passando depois para as mãos do produtor Ernie Barbarash até alcançar as de Lauren McLaughlin. Foi desenvolvido realmente com a ideia de ampliar a mitologia, acrescentar um cubo com aspectos mais complexos, explorando o conceito do “hipercubo“, que vai além das três dimensões que compõem a medida tradicional para chegar à quarta, numa estrutura bidimensional. Partiu de um principio apresentado pelo alemão Bernhardt Riemann, em 1854, de que o cubo poderia ir além de suas composições geográficas visíveis (altura, largura e profundidade), tendo continuidade no trabalho do matemático britânico Charles Howard Hinton, que, por ser fã de ficção científica, organizou o que seria um hipercubo de quatro dimensões, chamando-o de tesserato.
A complexidade de sua organização, focando o tempo e realidades paralelas, levaram o longa ao caminho da perdição. Ainda que interessante, seria realmente difícil transpor para a tela o conceito do tesserato, sem que a trama ficasse sem pé nem cabeça. E foi o que aconteceu. No enredo, sete pessoas acordam presas a um imenso cubo em salas diferentes – premissa similar à do anterior: Kate (Kari Matchett), o desagradável Simon (Geraint Wyn Davies), Jerry (Neil Crone), o jovem Max (Matthew Ferguson), Julia (Lindsey Connell), a cega Sasha (Grace Lynn Kung) e a idosa Sra. Paley (Barbara Gordon).
Diferente do cubo do filme anterior, as salas aqui são iguais, brancas e iluminadas, com passagens abertas com o toque nos seis lados. Depois que encontram o Coronel Thomas Maguire (Bruce Gray) e esse opta por ficar para trás, mas deixa uma dica sobre a necessidade de descobrir o código, eles passam a atravessar salas que possuem tempo e gravidade alteradas, enquanto a insanidade de Simon começa a apresentar evidências de uma ameaça. A aparente insana Paley, entre confusões mentais, revela ser uma matemática aposentada, assim como Jerry identifica que se trata de um tesserato, e a cega apresenta uma razão para sua presença ali, justificada por seu envolvimento na construção do labirinto em forma de cubo.
Conflitos de interesses também se mostram uma ameaça maior que a do hipercubo, sem o mesmo nível de armadilhas que o anterior. Se no primeiro as salas eram numeradas e permitiam um cálculo para identificação do caminho a seguir, Cubo 2 só traz uma única numeração em quase todas as salas: 60659. Com novidades que só serviram para complicar a proposta, sem as pistas necessárias, cabe ao espectador apenas acompanhar a luta dos sobreviventes para encontrar uma saída, se é que existe uma. Até lá, realidades paralelas comprovam que todas as escolhas geram uma continuidade no espaço-tempo, o que permite a confusão de um personagem morrer diversas vezes e eles se encontrarem em situações alternativas.
Além de toda essa bagunça narrativa, Cubo 2 também é afetado pelos efeitos especiais que alternam entre o aceitável e o ruim. As atuações até que são razoáveis, assim como a condução de Andrzej Sekula, que, se não faz nada espetacular, pelo menos não interfere no resultado. O longa ainda se conclui com um epílogo desnecessário, mas que deixa pistas sobre a intenção de se fazer um terceiro filme. Cubo Zero, lançado dois anos depois, com direção de Ernie Barbarash, perde-se em seu labirinto de ideias, mostrando que o ideal seria ficar apenas com a lembrança do primeiro.