4.8
(25)

A Múmia
Original:The Mummy
Ano:1999•País:EUA
Direção:Stephen Sommers
Roteiro:Stephen Sommers, Kevin Jarre, Lloyd Fonvielle
Produção:Sean Daniel, James Jacks
Elenco:Brendan Fraser, Rachel Weisz, John Hannah, Arnold Vosloo, Kevin J. O'Connor, Jonathan Hyde, Oded Fehr, Erick Avari, Stephen Dunham, Corey Johnson, Tuc Watkins, Patricia Velasquez

Exibido à exaustão no início do novo século, o filme A Múmia, de Stephen Sommers, voltou aos holofotes devido ao seu protagonista, Brendan Fraser, e sua forma física. Galã da segunda metade dos anos 90 até a década seguinte, o ator americano, nascido em 1968, que assumia personagens cômicos e de produções de ação, chamou a atenção pelo papel no longa The Whale, de Darren Aronofsky, em que ele interpreta um homem obeso. Um novo passo em sua carreira, Fraser agora tem a oportunidade de mostrar sua competência como ator, sem fugir de múmias, pular em cipós ou invadir o centro da Terra. Revendo A Múmia, após mais de vinte anos, pode-se dizer que as aventuras de Rick O’Connell ainda divertem e proporcionam um alto grau de entretenimento, com monstros, maldições e bom humor.

As intenções de se fazer um novo filme com o monstro lendário já existiam desde meados dos anos 80. A Universal não queria se desfazer de suas criações, e ainda guardava com carinho a obra clássica de 1932, estrelada por Boris Karloff. Contudo, o estúdio ofereceu apenas US$10 milhões de orçamento, com a pretensão de fazer algo mais simples, sem exageros nos efeitos especiais, como afirmou o produtor James Jacks na época. No final dessa década, o roteiro pretendido passou pelas mãos de George A. Romero (!!), que tinha acabado de finalizar a trilogia dos mortos e já era uma referência no gênero. O roteiro fora escrito por Abbie Bernstein, que acrescentou mais informações sobre as intenções da Universal: fazer uma múmia revivida nos dias atuais, incapaz de ser destruída, com força e poderes descomunais. Em entrevista, Bernstein comparou o monstro ao Tiranossauro Rex, de Jurassic Park, dizendo que ele teria menos interações com a sociedade que o dinossauro que roubou a cena no clássico de 1993.

Com a desistência de Romero, o projeto foi engavetado até os anos 90, quando houve contatos do estúdio com Clive Barker (!!!) para dar ao longa um aspecto sombrio e depois Mick Garris (!!!), que faria um museu egípcio em Beverly Hills despertar a criatura. James Jacks elogiou o tratamento de Garris, embora bastante distante do que a Universal queria: seria um filme de baixo orçamento que misturava conceitos sombrios, sexies e repleto de misticismo. Outros nomes foram considerados, como Alan Ormsby e Joe Dante (!!), até 1994, quando Romero voltou a ser considerado. Seria uma espécie de A Noite dos Mortos-Vivos com múmias, envolvendo a arqueóloga Helen Grover, descobrindo a tumba de Imhotep, general que viveu à época de Ramessés II e foi a criatura do clássico de 1932.

Percebe-se que a essência do longa de 1999 começava a ser construída, principalmente depois que a protagonista percebesse que foi descendente de uma sacerdotisa da 19ª Dinastia do Egito – uma ideia parecida foi a base de O Retorno da Múmia. Considerado muito violento pelo estúdio, o projeto saiu das mãos do mestre do horror e voltou para Mick Garris em 1995, que agora queria misturar elementos de A Múmia de 1932 com A Tumba da Múmia, de 1942. Considerado cara a proposta, a dança das cadeiras continuou. Até Wes Craven (!!) havia sido considerado, mas nem quis tentar algum tratamento. Em 1996, Kevin Jarre foi contratado para escrever o roteiro, com o apoio de Stephen Sommers, que imaginava um Indiana Jones ou Jasão e os Argonautas com elementos de horror.

Com o fracasso de bilheteria de Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade, a Universal resolveu bancar os intentos de Sommers. Ele havia feito O Livro da Selva, em 1994, e estava envolvido no terror Tentáculos, de 1998. O estúdio precisava de um sucesso, mas estava temeroso no investimento; ao ler as 18 páginas do roteiro do diretor, resolveu aceitar a proposta. Sommers queria fazer um filme de ação, com múmias ágeis, baseado em suas pesquisas, e com o uso da língua egípcia. Com o aumento do orçamento, tudo o que o cineasta intencionava foi considerado, bastando apenas escalar o protagonista. Rick O’Connell quase foi vivido por Brad Pitt, Matt Damon, Ben Affleck e Tom Cruise – este último faria o péssimo reboot. Fraser só assumiria o personagem pelo sucesso alcançado em George, o Rei da Floresta.

Com as filmagens realizadas em 1998, em Marrakesh, Marrocos, o longa chegou aos cinemas no ano seguinte, em 7 de maio. Pessoas que participaram dos testes de exibição acharam que o título deveria ser outro, pois este traria uma ideia de refilmagem. A Universal não apenas bancou a ideia como lançou o trailer durante o Super Bowl, atraindo a atenção do público positivamente. A resposta veio na bilheteria pelo mundo. Além de ficar no topo por diversas semanas, A Múmia arrecadou mais de US$ 400 milhões em suas estreias, ainda que as críticas não tenham sido inteiramente positivas, com mais opiniões medianas. De qualquer modo, a Universal conquistou seus objetivos, e o filme de Sommers seria a partir de então lembrado como um bom resgate do monstro clássico.

O enredo todo mundo conhece. Tem início em 1290 a.C, em Tebas, Egito, contando o caso de amor e morte do sacerdote Imhotep (Arnold Vosloo) com Anck-Su-Namun (Patricia Velasquez), mulher do Faraó Seti I (Aharon Ipalé). Eles assassinam o Faraó, enquanto ela é perseguida e morta, acreditando que seu amante, pelos domínios de magia e do Livro dos Mortos, possa ser capaz de trazê-la de volta. Imhotep consegue fugir, roubar o corpo da amada, e partem para Hamunaptra, a cidade dos mortos, onde o ritual será realizado parcialmente, com a interrupção dos Medjai. Imhotep é mumificado e enterrado vivo com centenas de escaravelhos, para depois seu sarcófago ser deixado aos pés da estátua do deus egípcio Anúbis.

A narrativa salta para 1923, mostrando Rick O’Connell (Fraser) tendo combates no deserto enquanto fazia parte da Legião Estrangeira Francesa, quando descobriu a cidade de Hamunaptra. A atrapalhada bibliotecária e arqueóloga Evelyn (Rachel Weisz) recebe de seu irmão Jonathan (John Hannah) uma caixa que contém um mapa para a cidade perdida, dizendo ter roubado o artefato de um aventureiro. Trata-se do próprio Rick, salvo da forca com a promessa de mostrar o local sagrado. No caminho, encontram um outro grupo de caçadores, após a entrega de Jonathan em um jogo de cartas, além do traidor Beni Gabor (Kevin J. O’Connor). A expedição é a todo momento incomodada pelo líder descendente dos Medjai Ardeth Bay (Oded Fehr), que tenta impedir pela tradição de seu povo a ressuscitação de Imhotep – nas sequências de A Mão da Múmia, o descendente se chama Bey.

Mesmo com os esforços dos soldados, Imhotep é descoberto e trazido à vida por Evelyn, depois que ela faz a leitura do Livro dos Mortos. A criatura surge como um cadáver ambulante, que peca pelos efeitos digitais e exageros que envolvem sua bocarra. Para tentar trazer sua amada Anck-Su-Namun, ele liberta outras múmias, além de usar seus poderes para criar tempestades de areia, obrigando Rick e os demais a tentarem de todas as formas assassinar a criatura antes que ela consiga seus objetivos. Assim, o longa reserva momentos de exploração em tumbas, confrontos com soldados e criaturas de areia, escaravelhos carnívoros e a força descomunal de Imhotep, numa aventura bem-humorada com várias sequências de ação e elementos rasteiros de horror.

Boa parte do sucesso de A Múmia deve ser atribuído ao carisma de Brendan Fraser, além da beleza de Rachel Weisz. O ator realmente encarna o papel intensamente, como um Indiana Jones envolto em muita sorte e destreza física. Faz uma boa conexão romântica com Weisz, contando ainda com apoios expressivos dos demais atores. Vale destacar o vilão interpretado por Arnold Vosloo, que lhe dá características ameaçadoras. Imhotep ainda é lembrado hoje como a principal interpretação de Vosloo, que depois entraria para a franquia G.I. Joe, e apareceria em várias séries e produções como O Estranho Thomas.

A Múmia, de Sommers, também seria lembrado pelos exageros digitais. Se a Universal tivesse mantido os pés no chão no orçamento, provavelmente o longa seria muito mais obscuro e concentrado nos elementos sobrenaturais. É possível imaginar uma versão do filme sem os recursos, explorando efeitos práticos, algo mais próximo da intenção inicial de recordar o clássico de Boris Karloff. Mas, dentro da proposta de criar uma aventura para a família, apostando no humor e cenas de ação, os efeitos são condizentes. O objetivo de entreter o espectador foi cumprido, sem que o filme incomode pelos clichês e obviedade do enredo. Distante da obra original, mas adequado à intenção de apresentar uma aventura digital e descompromissada.

Foi sem dúvida um dos maiores sucessos de Fraser, a obra que lhe deu fama e carisma. Depois o ator se envolveria em continuações e outros projetos, e sumiria de cena pelos problemas de saúde. The Whale é a oportunidade de revê-lo com toda a sua capacidade interpretativa.

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2 Comentários

  1. Merecia quatro estrelas, um dos melhores filmes de aventura e ação que já vi.

  2. Apesar de ser um filme que seja um pouco ofensivo ao Múmia original (que era de terror), eu tenho que ser obrigado á assumir isso: Esse filme é simplesmente um dos meus favoritos de toda a minha vida kkkkk. Muito melhor que aquele filme desalmado do Tom Cruise e muito melhor que a maioria dos blockbusters atuais.

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