A Mão da Múmia (1940)

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A Mão da Múmia
Original:The Mummy's Hand
Ano:1958•País:EUA
Direção:Christy Cabanne
Roteiro:Griffin Jay, Maxwell Shane, John L. Balderston, Ben Pivar,
Produção:Ben Pivar
Elenco:Dick Foran, Peggy Moran, Wallace Ford, Eduardo Ciannelli, George Zucco, Cecil Kellaway, Charles Trowbridge, Tom Tyler, Sig Arno, Harry Stubbs, Harry Stubbs ... Bartender Michael Mark Michael Mark

“Para quem profanar os templos dos deuses antigos, uma morte cruel e violenta será seu destino, e nunca sua alma encontrará descanso na eternidade. Tal é a maldição de Amon-Ra, rei de todos os deuses.” (O Sumo Sacerdote)

A Universal Pictures não costuma desistir de seus monstros. Ainda que o primeiro filme, A Múmia (The Mummy, 1932), com Boris Karloff, não tenha alcançado o sucesso esperado, o estúdio via o interesse do público pelas continuações de Frankenstein (A Noiva de Frankenstein e O Filho de Frankenstein), Drácula (A Filha de Drácula) e até dO Homem Invisível (A Volta do Homem Invisível), motivando o desenvolvimento de um novo filme sobre a “maldição do faraó“, iniciada com a descoberta da tumba de Tutancâmon, em 1922. Contudo, a ideia principal sempre foi a de fazer um reboot e não exatamente uma continuação, tentando atrair olhares para um monstro envolto em trapos. A Mão da Múmia (The Mummy´s Hand, 1940) foi o primeiro filme de uma nova franquia, seguido por A Tumba da Múmia (The Mummy’s Tomb, 1942), A Sombra da Múmia (The Mummy’s Ghost, 1944) e A Praga da Múmia (The Mummy’s Curse, 1944).

O longa teve a direção de Christy Cabanne, que já possuía uma vasta filmografia com mais de 100 trabalhos, mas não tinha feito algo do gênero. Ele comandou a produção a partir de um roteiro co-escrito por Maxwell Shane e Griffin Jay – como se nota, a principal intenção do estúdio não era envolver grandes nomes na produção, a fim de conter os gastos. E essa impressão se amplia pelo fato da produção reutilizar cenas do Egito Antigo do filme de 1932, além de cenários já explorados em outras obras, como O Filho de Frankenstein. A Mão da Múmia teve um orçamento modesto de US$80 mil dólares, com alguns extras, e foi rodado em apenas dois meses, sem os exageros da maquiagem, reservando parte de sua quantia para o marketing.

Funcionou. Embora tenha recebido menos críticas positivas que o original, A Mão da Múmia atraiu o interesse do público e impulsionou a realização de continuações. E o melhor de tudo foi a concepção de uma múmia nos moldes que a criatura deveria ser: um cadáver ambulante, com trapos espalhados pelo corpo, um andar lento e arrastado, agindo sob o comando de um mestre, em mais uma belíssima contribuição – não creditada – do especialista em efeitos de maquiagem Jack P. Pierce. Assim, perde-se o carisma do olhar frio de Boris Karloff para sugerir um monstro horrendo, que carrega a mocinha nos braços, e possui olhos negros e uma força descomunal. Como disse o periódico The Philadelphia Record na época: “consegue causar mais alguns arrepios do que outros filmes” lançados no período. Mas também tem sequências de humor e uma história de aventura e exploração.

Ambientado em 1940, o longa começa com a chegada de Andoheb (George Zucco, de A Casa de Frankenstein, 1944) ao Cairo para encontrar o moribundo Sumo Sacerdote de Karnak (Eduardo Ciannelli), que lhe conta a história do príncipe Kharis (Tom Tyler), amante de Ananka, e que 3000 anos antes tentou violar as regras de Osíris para trazer de volta sua amada com folhas sagradas de tana, e foi flagrado e enterrado vivo, sem a língua. Enterrado no lado oposto da Colina dos Sete Chacais, Kharis é mantido vivo através de fluídos de tana administrado pelo Sacerdote durante o ciclo da Lua Cheia, e possui a seguinte regra: caso tentem profanar o túmulo de Ananka, nove folhas de tana devem ser usadas para dar movimento à múmia; se usar uma folha a mais, ela se torna incontrolável.

Distante dali, o arqueólogo Steve Banning (Dick Foran), cujo personagem inspirou a criação de Indiana Jones, e seu parceiro Babe Jenson (Wallace Ford) estão sem sorte. Com pouco dinheiro até mesmo para voltar aos EUA, eles procuram uma oportunidade para mudar de vida. Ela surge quando Steve compra em uma feira um vaso antigo com escritos em hieróglifos e que parece trazer instruções para a localização da tumba de Ananka. Avisado por um falso pedinte, Andoheb tentará a qualquer custo impedir que a dupla consiga fundos para iniciar uma exploração no local, tentando até mesmo atrapalhar o contato com o mágico Sr. Solvani (Cecil Kellaway) e sua filha Marta (Peggy Moran), ainda que tenham conseguido o apoio do Dr. Petrie (Charles Trowbridge), do Museu do Cairo.

“Você é muito bonita… tão bonita que vou torná-la imortal.” (Andoheb)

Como se imagina, as explorações chegarão ao sarcófago de Kharis, e Andoheb precisará despertá-lo para impedir que se aproximem de Ananka. Até lá – e já terá passado mais da metade do filme – o enredo traz as confusões do atrapalhado Babe ao tentar dar seus golpes e os exageros do mágico, com seus diversos truques, mesmo em situações de discussão com a filha. Esse tom mais leve fez o filme receber algumas críticas negativas ou medianas, como o da Variety, que o considerou “confuso na escrita e desajeitado na produção“. Já a Múmia, bem caracterizada pela mão do experiente Jack P. Pierce, caminhará pelas florestas e cavernas, e fará algumas vítimas, estrangulando-as até a morte, lembrando que a produção também tem elementos de horror e são até mais intensos que o do filme de 1932.

Sobre o título A Mão da Múmia, embora tenha relação com a criatura ter uma força maior em uma delas, o que justifica sua caminhada “torta“, é possível enxergar uma ironia do estúdio. Em A Múmia, de 1932, houve quem apontasse o fato da criatura não aparecer por completo em sua condição cadavérica, destacando apenas suas mãos. Neste, ela é vista por completo, arrastando-se pelos cenários, obedecendo os desejos de seu mestre para proteger Ananka. Mais uma vez temos uma história de amor com elementos de horror na filmografia dos Monstros da Universal.

Ainda que não tenha o mesmo “peso” do longa de 1932, A Mão da Múmia traça sua trajetória fantástica de maneira divertida. Além de sua construção modesta, mas interessante, o filme permitiu que a Múmia voltasse mais vezes a ter seu filme solo, afastando qualquer “maldição do faraó” que pudesse ter impedido seu sucesso.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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