A Noiva do Re-Animator (1990)

4.7
(19)

A Noiva do Re-Animator
Original:Bride of Re-Animator
Ano:1990•País:EUA
Direção:Brian Yuzna
Roteiro:Zeph E. Daniel, Rick Fry, H.P. Lovecraft
Produção:Brian Yuzna
Elenco:Jeffrey Combs, Bruce Abbott, Claude Earl Jones, Fabiana Udenio, David Gale, Kathleen Kinmont, Mel Stewart, Noble Craig

Em uma das entrevistas que Stuart Gordon concedeu para comentar Re-Animator, ele brincou com a possibilidade de realização de uma continuação: “Se fizermos uma sequência de Re-Animator, vamos chamá-la de A Noiva de Re-Animator.” A brincadeira se deve a uma homenagem que poderia ser feita ao clássico A Noiva de Frankenstein, de James Whale, e que traria ideias relacionadas à paixão do Dr. Dan Cain (Bruce Abbott) pela amada Megan Halsey (Barbara Crampton), falecida no final do primeiro filme. Como a atriz não quis se envolver com o projeto, optaram por usar o rosto de uma outra namorada, Gloria (Kathleen Kinmont), internada no hospital. É ela que irá emprestar a cabeça para finalizar a monstruosa criação, contando apenas com o coração de Megan.

A Noiva do Re-Animator começou a ser filmado em junho de 1989 e teve duração de um mês, desta vez contando com a direção de Brian Yuzna, que tinha apenas produzido o anterior e dirigido o intenso A Sociedade dos Amigos do Diabo. Contou com a sorte pelo adiamento das filmagens de O Poço e o Pêndulo, com Jeffrey Combs, e o envolvimento muito bem-vindo do especialista em efeitos especiais Screaming Mad George, responsável pelos testes realizados pelo Dr.Herbert West, além do bem conceituado Robert Kurtzman, fundador da KNB EFX em parceria de Greg Nicotero, que até então desenvolvia trabalhos em Halloween 5. Não é por mero acaso que o longa apresentou criações impressionantes, com bons recursos visuais, falhando apenas nas asas de morcego presas à cabeça de Dr. Carl Hill (David Gale).

Inspirado no conto de H.P.LovecraftHerbert West–Reanimator“, escrito entre 1921 e 1922, A Noiva do Re-Animator faz uma referência, na cena inicial, ambientada durante a guerra civil peruana, com Dr.Cain e Dr. West trabalhando como médicos, aproveitando o ambiente de corpos frescos para os experimentos com o reagente. No conto, é nessa passagem que conhecem o Major Eric Moreland Clapham-Lee, que tem o corpo decapitado como fora representado no filme por Dr. Hill. Quando a situação se aperta, eles são obrigados a retornar à universidade Miskatonic, e fazem residência em uma casa que fica muito próxima ao cemitério local, tal qual acontecia no texto original. O experimento com o Dr.Hill permitiu que West ampliasse suas pesquisas sobre reanimação de apenas partes do corpo humano, e passou a fazer testes com a junção dessas partes como quando utiliza dedos conectados a um olho.

Ele então utiliza o que restou dos corpos do massacre ocorrido no final do filme anterior, incluindo o coração de Megan, algo que irá servir de convencimento para que Dr. Cain não desista do trabalho. Nesse mesmo depósito de restos de corpos, o patologista Dr. Wilbur Graves (Mel Stewart) descobre o reagente e resolve testar com a cabeça de Dr. Hill, apenas para que o personagem volte para no final atormentar West. Quem o irá incomodar desta vez é o tenente Leslie Chapham (Claude Earl Jones), que teve a esposa morta no massacre e retornou como uma criatura insana, mantida com outros zumbis. Ele irá investigar os experimentos do médico-cientista, com visitar inoportunas e pressão sobre suas atitudes suspeitas.

Outra personagem introduzida nesta continuação é a jornalista Francesca Danelli (Fabiana Udenio, de Curso de Verão, 1987), que Dr. Cain conheceu no Peru. Ela reencontra o rapaz, apenas para se tornar seu interesse afetivo, e permitir que seu cãozinho sofra uma experiência curiosa ao ter uma das patas substituídas por uma mão humana. Por alguma razão (ou falha) do roteiro de Rick Fry e Zeph E. Daniel, Dr. Cain marca seu encontro com a garota exatamente na casa onde está realizando os trabalhos com o Dr. West, ocasionando descobertas e o envolvimento indireto dela. Francesca terá uma participação aterrorizante na sequência final, quando irá confrontar zumbis do lado de fora da casa, envolvida em uma atmosfera aterrorizante proporcionada por um temporal.

Ao final, a construção de uma “noiva” resultará em conflitos com zumbis, deformidades vivas saídas de um pesadelo clivebarkerano, além de uma cabeça voadora, coisas que só o cinema de horror é capaz de proporcionar. A Noiva do Re-Animator é tão divertido quanto o filme original e explora monstruosidades a partir dos testes de um cientista louco, ousado e sem limites. Veste a roupagem de um terror B característico, promovendo um espetáculo de aberrações de muitas possibilidades. Boa parte da crítica especializada não comprou a ideia, culpando o filme pelos seus exageros, mas ignorando que a proposta já era por si só insana e poderia muito bem construir um enredo bizarro.

Foi um dos poucos acertos de Brian Yuzna, contribuindo de maneira significativa para a reconstrução de um personagem interessante do escritor Lovecraft. Mesmo com o passar dos anos, continua relevante e divertido, merecendo novas oportunidades.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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