O Mundo Depois de Nós
Original:Leave the World Behind
Ano:2023•País:EUA Direção:Sam Esmail Roteiro:Sam Esmail, Rumaan Alam Produção:Sam Esmail, Marisa Yeres Gill, Lisa Roberts Gillan, Chad Hamilton, Julia Roberts Elenco:Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Myha'la, Farrah Mackenzie, Charlie Evans, Kevin Bacon, Alexis Rae Forlenza, Vanessa Aspillaga, Josh Drennen |
Demorei para ver esse lançamento do final de 2023 da Netflix por conta da enxurrada de críticas negativas que me saltaram aos olhos. Com tantos lançamentos, acabei somente tardiamente dando uma chance ao longa e não me arrependi.
Aposta da gigante do streaming para o final de ano, esse thriller gerou controvérsia quanto a eventuais mensagens e discussões propostas no decorrer do longa (racismo, luta de classes, empatia, dominação econômica e militar do ocidente etc.) que não tiveram um desenvolvimento a contento. Concordo em parte, mas será que era a intenção dos realizadores de discutir temas tão sérios e relevantes à exaustão? Lógico que não. Para isso fariam uma tese e não um filme que, no seu desenvolvimento, toca em várias feridas e as deixa abertas, propondo várias leituras, mas não cravando conclusões absolutas.
Há muito clima, uma direção segura do competentíssimo Sam Esmail (assistam a série Homecoming, de 2018, e vocês irão entender), atores ilustres em perfeita sintonia e uma história que (se não alcança o nível desejado de apreensão) é boa o suficiente para segurar a atenção do espectador, com uma inquietude latente e um desconforto geral, bem longe de ser chata ou vazia como boa parte da crítica sacramentou.
Os personagens são interessantes pois nem sempre tomam as atitudes mais louváveis, mas também estão longe dos estereótipos vilanescos que pululam em cenários apocalípticos. A vibe do longa lembra muito mais a dramaticidade do seriado The Last Of Us (2023) e do longa Batem à Porta (2023), para citar os mais recentes, que as incursões aventurescas da cinessérie Resident Evil.
Um casal (Julia Roberts e Ethan Hawke) e seus dois filhos partem para descansar alguns dias numa paradisíaca casa de praia alugada. Contudo, coisas estranhas começam a acontecer (celulares param de funcionar, um petroleiro encalha na praia etc.) e, num início de noite, eles recebem a visita do proprietário da casa (Mahershala Ali) e sua filha (Myha’la), pedindo para pernoitar pois não conseguiram ir para seu apartamento na cidade em razão de um blecaute de energia.
Considero feliz a escolha do roteiro em deixar algumas pontas soltas (fica para sua imaginação preencher) e se ocupar em analisar a dinâmica desse pequeno grupo humano isolado diante de acontecimentos cada vez mais estranhos. Há situações tensas em que o suspense se impõe, mas há também ponderações humanas e sociais bastante críveis e relevantes dentro do cenário proposto.
Assim, tenho aqui uma voz dissonante da maioria dos críticos e considero O Mundo Depois de Nós um acerto que consegue equilibrar entretenimento e análise social sem ser enfadonho. Aliás, concordo com a jornalista Isabela Boscov e minha crítica negativa é com relação ao título adaptado ao português. Muito melhor seria traduzir de forma literal o título original Leave the World Behind (algo como o mundo que deixamos para trás…). Diante disso, por mais que não seja minha praia, sim, é possível entender o empenho que um personagem tem de terminar de assistir ao seriado Friends…
Esse filme é uma patifaria sem tamanho. Alguma construção de tensão através de um óbvio que deixa pra mostrar nos últimos cinco minutos só deixou tudo ainda mais irritante. Fora elementos totalmente fora do próprio contexto, como aquela papagaiada com os veados, mandou qualquer suspensão de descrença pra casa do caralho. Duas horas jogadas fora me deixando enganar com esse engodo só pra ver se eu me enganaria e tivesse alguma substância ali no final.
Uma vez que a crítica foi bem curta e pouco entrou em detalhes – e eu estava curioso para ler sobre os detalhes -, peço licença e tomo a liberdade de discorrer sobre alguns pontos.
Desde já, posso dizer que o filme é eficaz, diferente do que muitos estão falando, pelo menos na minha opinião, logo, vale conferir o longa.
Contudo, não posso deixar de me incomodar com tantas análises falando que o final do longa é aberto, precisa-se explicar o final, é ambíguo. Até mesmo a crítica do Boca concorda ao colocar o seguinte: “…propondo várias leituras, mas não cravando conclusões absolutas”
SPOILER — SPOILER — SPOILER
Na verdade, o filme expõe determinado personagem literalmente falando os motivos daqueles acontecimentos, no caso, o início de uma guerra civil em território norte-americano. Indaga-se, qual é a necessidade de esclarecer mais?
Pode-se questionar os acontecimentos bizarros do filme, porém, todos podem ser relacionados ao início de uma guerra, quais sejam, falta de energia, contrainformação, ataques cibernéticos que justificam os problemas com aeronaves etc. Até as cenas com animais são justificáveis, pois é um comportamento de fuga das áreas de conflito, em que pese o diretor tenha exagerado nas cenas para dar mais tensão ou por alguma representação simbólica do animal.
Ademais, a doença do menino, a reação do Kevin Bacon e até a menina que só pensa na série Friends, são justificáveis, ainda que metaforicamente falando.
Conclusão, a palavra que resume o problema desse filme é anticlímax, porque cria-se uma tensão enorme e eficaz, porém, não se consegue concluir de forma impactante, muito pelo contrário, acho que o diretor erra com a escolha da última cena do longa.