Frankenhooker: Que Pedaço de Mulher
Original:Frankenhooker
Ano:1990•País:EUA Direção:Frank Henenlotter Roteiro:Frank Henenlotter, Robert Martin Produção:Edgar Ievins Elenco:James Lorinz, Joanne Ritchie, Patty Mullen, J.J. Clark, C.K. Steefel, Shirl Bernheim, Judy Grafe, Helmar Augustus Cooper, Louise Lasser |
por Giulia Nunes
Frankenhooker: Que Pedaço de Mulher! (1990) é uma, dentre muitas, adaptações modernas do clássico e revolucionário conto de Mary Shelley – mas esta adaptação vem com um tempero a mais, ignorando quaisquer convenções sociais e se entregando de corpo e alma a uma comédia de absurdos que não se leva a sério. O filme é recheado de quebras de expectativa e entrega risadas garantidas desde a primeira cena, fazendo-me até mesmo considerar que Frank Henenlotter (a mente por trás dessa joia rara) pautava suas escolhas criativas no que seria o caminho mais chocante e disparatado para seguir. E, na minha opinião, foi o melhor rumo que poderia ter tomado! O resultado é incrível, deturpado e entrega uma experiência única ao elevar um clássico do horror como Frankenstein a um novo patamar de comédia trash.
Somos apresentados a Jeffrey Franken, um auto-declamado “bio-eletricista”: eletricista por profissão, mas aspirante a cientista maluco nas horas vagas, tendo sido expulso de três faculdades de medicina. A vida de Jeffrey sofre uma virada trágica quando acontece o acidente (especialmente hilário) com um cortador de gramas que não só tira a vida de Elizabeth Shelley — sua noiva e foco de sua obsessão —, mas também deixa seu corpo em pedaços. Profundamente despedaçado pela perda de sua amada, ele recorre aos seus conhecimentos de anatomia para tentar trazê-la de volta dos mortos. Isso é, como bem sabemos, uma receita para o desastre; mas pelo menos o que se resulta aqui é um desastre de proporções cômicas inimagináveis.
No clássico original, Dr. Frankenstein recorre ao roubo de túmulos para coletar suas tão preciosas peças para construir a criatura perfeita – já a sua contraparte moderna, Jeffrey, recorre a maneiras um pouco menos ortodoxas para atingir o mesmo objetivo… Por desejar pedaços frescos e que fossem a altura da beleza de sua amada, ele acaba planejando a “morte acidental” de prostitutas – mulheres da noite que sofrem destinos funestos corriqueiramente, e que, para ele, não fariam falta à comunidade. Porém, a parte que mais me deleita, é a maneira que ele decide por tirar suas vidas. Uma vez que ele entende como o crack controla as pessoas do círculo que ele precisa conquistar para angariar as suas tão sonhadas partes femininas, Jeffrey tem sua brilhante ideia de como matar as garotas sem ser propriamente um assassino: ele inventa um tipo de super crack que faz as meninas explodirem. Esse modus operandi rende cenas impagáveis, como a criação e subsequente teste de potência da super droga, e também a cena em que ele avalia cada garota disponível como em um menu degustação: provando tudo e escolhendo as melhores partes.
O filme se encerra numa sequência desenfreada em que a personagem título – Elizabeth, já transformada em Frankenhooker – toma as ruas de Manhattan para disseminar o caos e oferecer uma noite eletrizante aos mais solitários. Depois que Jeffrey reencontra Elizabeth, sucede a cena final icônica e totalmente fora da caixa. Nada nessa história sai como esperado, e é exatamente isso que cativa. De maneira objetiva, a obra consegue explorar, mesmo que superficialmente, temas como o luto e o questionamento filosófico presente na obra original de Shelley sobre o sentido da vida e o que define um ser vivo. Acredito que o enredo caminha a linha tênue entre ser uma história bem desenvolvida e coerente, mas ainda assim contar com elementos de absurdo e do ridículo – equilibrando pontos que explicam a motivação do cientista maluco com momentos ótimos de comédia ácida. Além disso, os efeitos baratos e rudimentares dão um charme maior à obra, deixando tudo mais colorido, divertido e interessante. Os manequins e os fogos de artifício, em especial, foram um toque fantástico para impressionar e ainda mostrar sua latente veia cômica – um dos momentos mais bombásticos de um filme que definitivamente vai deixar uma marca em sua memória.
Sobre a autora do texto:
Formada em Letras pela USP, é tradutora por profissão e amante do universo do Horror nas horas vagas. Como fã obcecada, tem muitas paixões, opiniões e piadas ruins para compartilhar – e está sempre em busca de mais fãs obcecados para trocar teorias mirabolantes! Especialmente afeiçoada por slashers, monstros clássicos e desenhos existencialistas 🙂
Comentários despretensiosos no Instagram: @dju.nunes
Vi ele na “Sexta Sexy” nos anos 90 na Band.
Um verdadeira merda esse filme. Foram duas horas da minha vida que perdi para sempre.
kkk
vou conferir!
O filme tem 85 minutos de duração, não 2 horas, Ivan Junior.
Se liga!
E você acha que o Ivan Junior sabe contar? O cara é uma porta.