Godzilla Ataca Novamente / Godzilla Contra-Ataca
Original:Godzilla Raids Again / Gojira no gyakushû
Ano:1955•País:Japão Direção:Motoyoshi Oda Roteiro:Takeo Murata, Shigeaki Hidaka, Shigeru Kayama Produção:Tomoyuki Tanaka Elenco:Hiroshi Koizumi, Setsuko Wakayama, Minoru Chiaki, Takashi Shimura, Masao Shimizu, Seijirô Onda, Sônosuke Sawamura, Yoshio Tsuchiya, Yukio KasamaMayuri Mokushô, Shin Ôtomo |
Semanas após o estrondoso sucesso do absoluto Godzilla (1954), os realizadores já estavam planejando um retorno de seu monstro gigante. Não queriam perder a “febre da criatura“, aproveitando a empolgação em relação ao primeiro, mas não se preocupando muito com o roteiro. Assim, Godzilla Ataca Novamente / Godzilla Contra-Ataca (Gojira no gyakushû) chegou aos cinemas japoneses apenas cinco meses de diferença com o original, mas, embora fique em quarto lugar dentre os lançamentos do ano, foi recebido friamente, evidenciando oportunismo. De certa forma, o filme tem tantos problemas quanto importância, principalmente para o cinema americano.
Durante uma comemoração na residência do produtor executivo Iwao Mori, ele anunciou seu interesse numa parte 2 e deu luz verde a Tomoyuki Tanaka. A intenção era ter novamente Ishirō Honda na cadeira de diretor, porém o cineasta estava ocupado com outro projeto e somente se envolveu com a pós-produção, comandando clipes do filme. Honda até tinha interesse em realizá-lo, desde que os produtores tivessem paciência e respeitassem sua agenda. Não tiveram. Motoyoshi Oda foi contratado pela experiência no comando de longas japoneses, incluindo dois filmes: Águia do Pacífico (Taiheiyô no washi, 1953) e O Vingador Invisível (Tômei ningen, 1954) mostraram sua capacidade em lidar com efeitos grandiosos. Os estudiosos de cinema, Steve Ryfle e David Kalat, notaram essa relação para afirmar que Oda tinha experiência com Cinema B, o ideal para um lucro imediato e não para uma sequência de Godzilla.
Godzilla Contra-Ataca foi o primeiro filme da franquia a colocar dois monstros em combate, algo que passaria a ser comum nas produções seguintes. No caso, trata-se do fictício Anguirus, um dinossauro do gênero Anquilossauro, aqueles que possuem uma espécie de armadura de proteção nas costas. Ele é visto logo no começo, quando o piloto Shoichi Tsukioka (Hiroshi Koizumi), trabalhando para a Kaiyo Fishing, Inc., resolve ajudar o colega Koji Kobayashi (Minoru Chiaki), cujo avião sofreu uma pane e ele precisou aterrissar nas proximidades da ilha de Iwato. Eles veem Godzilla brigando com a criatura pré-histórica e se protegem no local, até ambas caírem no mar.
De volta a Osaka, os dois relatam a volta de Godzilla para as autoridades, incluindo o Dr. Kyohei Yamane-hakase (Takashi Shimura), que esteve no primeiro confronto com a criatura e fez a previsão no final: “Não consigo acreditar que Godzilla foi o último de sua espécie. Se os testes nucleares continuarem, algum dia, em algum lugar do mundo, outro Godzilla pode aparecer.” O zoologista Dr. Tadokoro (Masao Shimizu) consegue identificar a outra criatura e teme pela dificuldade em contê-la, assim como Yamane, consciente que a arma utilizada para matar o primeiro Godzilla, o Destruidor de Oxigênio, morreu junto com seu inventor, Dr. Daisuke Serizawa (Akihiko Hirata). Como o primeiro mostrou ter sensibilidade à luz, Yamane sugere que aviões atirem sinalizadores que possam atrair o monstro para longe da civilização.
Não vai demorar para Godzilla ser avistado no Canal Kii entre Shikoku e Wakayama. Lentamente, ele muda de direção, rumo a Osaka, levando Yamaji (Yukio Kasama), chefe de Tsukioka e pai de Hidemi (Setsuko Wakayama), operadora de rádio e namorada do piloto, a temer pelos negócios no porto. Quando Godzilla se aproxima da Baía, as Forças de Autodefesa do Japão (JSDF) causam um apagão no local e disparam sinais luminosos, afastando a criatura temporariamente, porém, na cidade, um grupo de assaltantes, conduzidos em um veículo de locomoção de prisioneiros, consegue escapar e rouba um caminhão. Na fuga, o veículo colide com uma refinaria de petróleo, causando um incêndio de grandes proporções, atraindo Godzilla e Anguirus em direção a Osaka.
Os monstros brigam entre si e ainda destroem prédios, moradias, pontes, e causam histeria na população, com o armamento militar surtindo pouco efeito. Como sempre é sugerido nessas produções, como mensagem sobre guerra e devastação, há aqueles militares e políticos que acreditam que talvez a solução seja usar bombas nucleares, mesmo sabendo que estas trazem problemas à civilização, além de despertar monstros gigantes. Diferente do primeiro filme, a solução advém da sorte, da luta entre os monstros ter um vencedor e de um estranho posicionamento da criatura, facilitando as ações bélicas.
A ideia de usar um “novo monstro” é válida para evitar a repetição da fórmula do primeiro, mas não traz muito do efeito esperado até pela curta aparição. Logo, Godzilla será visto como antes, causando destruição e pânico, com os bons efeitos da época, ajudados pela fotografia em preto e branco. Devido aos trajes mais leves da vestimenta de Haruo Nakajima, ele aparece mais ágil no filme, com uma movimentação melhor. Contudo, é exatamente na aceleração que constam alguns de seus problemas técnicos, especificamente no confronto com Anguirus, em imagens claramente aceleradas.
Também pode-se apontar algumas do roteiro de Takeo Murata e Shigeaki Hidaka, como a quebra de ritmo no terceiro ato, numa improvável festa por Yamaji e seus funcionários, incluindo os dois pilotos, já antecipando uma possível tragédia. O semblante alegre e disperso não condiz com a situação de destruição e morte de tempos atrás; ora, os monstros acabaram com a Baía de Osaka e eles estão planejando simplesmente levar a empresa para outro local, entre bebidas e risadas. Se tivessem acabado com Godzilla e estivessem em processo de reconstrução até seria compreensível a sensação de alívio, porém ele ainda está vivo e pode muito bem destruir o outro local. Ocorre uma outra quebra de ritmo na sequência dos criminosos, com o roteiro criando uma facilitação para incluir desnecessariamente os personagens principais no episódio.
Inferior ao primeiro, sem simbolizar uma parte 2 como se espera, Godzilla Contra-Ataca é um bom filme, um bom acréscimo à longa trajetória do monstro no cinema. Curto e aparentemente com menos recursos, vale a pena vê-lo novamente em cena, em sua fase inicial, como inimigo da humanidade. A realização do filme promoveu uma versão americana, quando os direitos foram comprados por Harry Rybnick, Richard Kay, Edward Barison, Paul Schreibman e Edmund Goldman, os mesmos que fizeram uma versão nos mesmos moldes do original, lançando em 1956 Godzilla, o Monstro do Mar (Godzilla, King of the Monsters!), com direção de Terry O. Morse, mas usando recortes do filme de 54. Eles reutilizaram as cenas de ataque da criatura em Godzilla Contra-Ataca, filmaram as cenas extras em estúdio e mesclaram para a realização de Gigantis: The Fire Monster, de 1959. Pelo nome já se percebe a picaretagem: apesar da Toho mandar os trajes dos monstros para a América, eles quiseram criar uma assinatura própria, dando-lhe o nome de Gigantis.
“Nós o chamamos de ‘Gigantis’ porque não queríamos que fosse confundido com ‘Godzilla’ [que claramente havia sido morto irremediavelmente pelo oxigenador].“, disse Schreibman na época. Os direitos de exibição foram vendidos a Bill Foreman, presidente da Pacific Theaters, que os revendeu à Warner Bros. para lançamentos nos cinemas e na TV por quatro anos. Depois de encerrado o prazo, quando o filme retornou às mãos de Foreman, ele perdeu o interesse de relançá-lo e nem queria que seu nome estivesse nos créditos. Assim, em 1980, quando os direitos retornaram à Toho, a versão americana foi simplesmente ignorada em prol do filme original. Uma decisão acertada pela valorização do maior monstro que o cinema fantástico construiu!
minha ifnancia foi recheada por esse universo… gostaria de ver Gamera neste novo universo.