A Besta (2023)

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A Besta
Original:A Besta
Ano:2023•País:Brasil
Páginas:96• Autor:Leander Moura, Cristal Moura•Editora: Escribas

Desde os tempos antigos há relatos de homens que se transformam (ou foram transformados) em lobos. Segundo estudos apontam, a origem dessa lenda surgiu na Grécia e existem diferentes versões, além de cultos que homenageavam lobos e, consequentemente, tais costumes foram passados para a cultura romana. Com a expansão dos romanos, a crença de que tal figura assustadora era real se espalhou Europa afora, com os mais variados motivos para isso acontecer. Obviamente, com a chegada dos portugueses, a lenda do lobisomem acabou se popularizando também no Brasil, assumindo características diferentes em cada região e tornando-se parte do folclore brasileiro. Uns dizem que homens anêmicos poderiam se transformar em lobisomem, indo atrás de sangue humano para poderem se nutrir; outros dizem que o filho fruto de um incesto será um lobisomem e, é claro, uma das crenças mais populares: o sétimo filho de um sétimo filho será, incontestavelmente, um lobisomem. Há variações disso, como por exemplo, o oitavo filho após nascerem sete mulheres que será um licantropo. Em geral, todas essas versões têm em comum que, evidentemente, essa transformação ocorre em noites de lua cheia.

Independente da teoria, o fato é que a figura do lobisomem é mundialmente conhecida, usado em inúmeras mídias e, normalmente, com enredos que se passam em território europeu ou norte-americano. Ora, uma lenda tão forte no nosso folclore merece mais histórias em solo nacional, e Leander e Cristal Moura trazem esse ser para Parnamirim, no Rio Grande do Norte, no quadrinho A Besta.

É noite de lua cheia, as criaturas noturnas estão à solta e horrores estão à espreita na cidade de Parnamirim. Quando amanhece, três homens encontram alguém coberto de sangue caído no meio do mato, e não tardam a resgatá-lo e levá-lo para seu chefe, dono do circo local, que acolhe todo tipo de pária da sociedade. Será que acolher é mesmo a palavra certa? A nova atração será um show de horrores, e o pobre coitado resgatado será o número principal. O show será levado ao pé da letra, mas não do jeito que os espectadores esperam. Horror é pouco para descrever o que está prestes a acontecer.

O autor, Leander Moura, usou como inspiração os “Freak shows”, ou show/circo de horrores, muito populares antigamente, especialmente nos Estados Unidos. Pessoas com alguma deformidade ou anomalia genética eram as grandes atrações desses circos, e eram ridicularizadas e hostilizadas e aceitavam isso para terem um lugar onde dormir e algo para comer. Em A Besta, imaginou o que aconteceria se capturassem justamente um lobisomem e deixassem em exibição em um desses lugares. O roteiro é conciso, com diálogos – com expressões da região nordeste e algumas exclusivamente usadas no Rio Grande do Norte – apenas quando necessário e, em poucas palavras, mostram como o ser humano pode ser cruel. O lobisomem, quando volta à sua forma humana, tem total noção de seus pecados e sofre por sua bestialidade desenfreada, tem visões com suas vítimas e se martiriza por cada gota de sangue derramada quando estava fora de si, mostrando muito mais humanidade do que seus captores cruéis e mesquinhos. Pela história se passar em uma cidade real e utilizar expressões regionais, dá aquela sensação de ser algo contado por alguém que testemunhou o ocorrido. Inclusive, o acréscimo de testemunhas que fazem questão de dar sua opinião, mesmo que não tenham presenciado nada, é algo que dá ainda mais familiaridade à narrativa. Quem não conhece algum parente, amigo ou vizinho que jura que aconteceu algo definitivamente estranho em sua cidade, mesmo não tendo visto nada, e aumenta em detalhes a situação a ponto de parecer algo sobrenatural? É daí que surgem as lendas, afinal.

A arte, que fica a cargo também de Leander e de Cristal Moura, é toda em preto e branco, com traços fortes e muito destaque para o nanquim, deixando tudo com um ar sombrio e macabro que condiz perfeitamente com a narrativa. Apesar das cores escuras, o horror que Cristal reproduz é muito claro.

Dando novos ares à lenda do famoso Lobisomem, A Besta faz uma fusão com a cruel realidade dos Freak shows em um quadrinho que faz questão de adicionar muitos horrores nesse espetáculo.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

One thought on “A Besta (2023)

  • 01/04/2024 em 17:29
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    Obra espetacular parida pelo incrível casal assombrado do RN! Obrigatório quadrinho!

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