3.9
(8)

Sob as Águas do Sena
Original:Sous la Seine / Under Paris
Ano:2024•País:França
Direção:Xavier Gens
Roteiro:Xavier Gens, Yannick Dahan, Maud Heywang, Yaël Langmann, Olivier Torres, Edouard Duprey, Sebastien Auscher
Produção:Vincent Roget
Elenco:Bérénice Bejo, Nassim Lyes, Léa Léviant, Sandra Parfait, Aksel Ustun, Aurélia Petit, Marvin Dubart, Daouda Keita, Ibrahima Ba, Anne Marivin, Stéphane Jacquot, Jean-Marc Bellu, Nagisa Morimoto, Yannick Choirat

Xavier Gens é uma versão Eli Roth francesa: veio como uma promessa arrebatadora ao dirigir filmes como (A) Fronteira (2007), O Abrigo (2011), um segmento de O ABC da Morte (2012), Exorcismos e Demônios (2017) e A Pele Fria (2017), até assumir o comando de um filme de tubarão convencional, lançado pela Netflix como Sob as Águas do Sena (Sous la Seine, 2024) – Roth começou a perder a mão com Canibais (2013). É uma ilha envolta em clichês, tanto que, durante 75% do filme, você se questiona se é uma refilmagem ou se viu tudo aquilo antes. Sim, já viu em dezenas de produções, igualmente ruins ou em tratamentos melhores. A evidência maior de que se trata de uma reciclagem de ideias aconteceu nos bastidores, com a ameaça de processo do cineasta Vincent Dietschy, alegando que a ideia do filme era igual a de seu não realizado Silure, uma produção sobre um bagre carnívoro causando terror no Sena. E quem será que estaria disposto a processar Dietschy? É só entrar na fila.

Daria para montar uma tabelinha no Excel, separando títulos, ano, diretores e elenco. E uma única coluna para a sinopse. Não tem como um sujeito alegar que um filme sobre tubarão ________ (modificado, adaptado, vingativo, possuído – só escolher a palavra) tem alguma semelhança com o seu, tendo uma base enorme de produções similares. Só faltava Sob as Águas do Sena ter alguma influência política, com alguém não querendo atrapalhar o turismo ou algum evento cultural, mesmo com o alerta de algum biólogo, estudioso ou especialista! É… não falta mais nada.

Começa com o trauma, na primeira aparição da ameaça. A tal especialista se chama Sophia Assalas (Bérénice Bejo), que está liderando uma expedição de rastreio do tubarão Lilith no Oceano Pacífico, perto do Havaí. Os mergulhadores, incluindo o marido dela, Chris (Yannick Choirat), percebem uma mudança de tamanho e comportamento do animal e são massacrados. Três anos depois, Sophia é incomodada pela ativista Mika (Léa Léviant), que diz ter localizado e rastreado Lilith e que seu percurso indica que ele está no rio Sena, em Paris, numa provável adaptação para água doce.

Ao intensificar a investigação em um local onde ocorrera a queda de um veículo, Mika é presa pela polícia fluvial, sob o comando do Sargento Adil Faez (Nassim Lyes). Sophia identifica a movimentação de Lilith e confirma a presença do tubarão, convencendo, após um incidente, o Sargento, e posteriormente a comandante Angèle (Aurélia Petit). O problema é que o Sena receberá um evento olímpico de triatlo, e a prefeita (Anne Marivin) não quer abalar o turismo e toda a publicidade envolvida com a divulgação da existência de um tubarão no local. Lilith não será a única ameaça nas águas frias francesas, pois ela terá toda uma prole já crescida, mantida em um ninho nas catacumbas, restando a Sophia montar uma força tarefa com a polícia para impedir uma tragédia iminente.

Como se percebe, não há muitas surpresas – e pensar que a construção do roteiro tem o envolvimento de sete pessoas! E esse mesmo roteiro tenta dar profundidade ecológica pela personagem Mika, na sua tentativa de salvar o tubarão, fazendo um vídeo viral em que conta a sua luta, e Gens enche de cenas de pessoas em vários lugares assistindo ao vídeo, como se uma nave alienígena estivesse fazendo sombra no país. Já o tubarão, em efeitos digitais evidentes, aparece pouco, sendo que a maior parte é no visor de rastreio como se fosse a tela do jogo Seaquest do Atari 2600.

Você quase não se lembra de que se trata de um filme de Gens, até mesmo nas cenas mais sangrentas, como as dos minutos finais. Aliás, são elas que fazem com que o filme tenha mais que uma única caveira de avaliação, por apresentar algo em tom apocalíptico. Nem todos apreciaram a ideia – há infernautas por aí dizendo que o longa não tem um final -, mas é ela que evita o descarte absoluto da produção. Pelo menos, foi uma tentativa de trazer algo diferente, mesmo que a intenção pareça atrair uma continuação.

Melhor filme de tubarão desde Do Fundo do Mar“, um crítico por aí escreveu. Não mesmo. Há alguns filmes que vieram depois e se mostraram bem intensos (12 Dias de Terror, 2005) e divertidos (A Isca, 2012, por exemplo), mesmo que pouco inovadores. E é preciso lembrar que nessa mar de um subgênero desgastado há o ótimo Mar Aberto (Open Water, 2004), que se esquivou da fórmula para apresentar algo assustador. Em nível de comparação, Sob as Águas do Sena fica na prateleira de Tubarão de Malibu (2009), Tubarão de Veneza (2008) e tantos outros que servem como guia turístico de pessoas radicais ou cardápio de peixe.

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