Testemunha de Acusação
Original:Witness for the Prosecution
Ano:1957•País:EUA Direção:Billy Wilder Roteiro:Billy Wilder, Harry Kurnitz, Lawrence B. Marcus, Agatha Christie Produção:Arthur Hornblow Jr. Elenco:Tyrone Power, Marlene Dietrich, Charles Laughton, Elsa Lanchester, John Williams, Henry Daniell, Ian Wolfe, Torin Thatcher, Norma Varden, Una O'Connor, Francis Compton |
Durante os créditos finais de Testemunha de Acusação, uma locução adverte: “A administração deste cinema sugere que, para maior entretenimento de seus amigos que ainda não viram o filme, não se divulgue o segredo do final”.
Tendo como base um conto da escritora britânica Agatha Christie, que depois seria adaptado por ela mesma numa peça de teatro, o filme ficou super conhecido pelo final, que tem um plot twist bastante esperto que até hoje surpreende, apesar de muito copiado. Segundo consta, foi o primeiro filme a fazer uma ampla companha anti spoiler, já que além da advertência ao final do filme, em alguns cartazes de promoção estava escrito “você vai falar sobre o filme, mas não diga o final do filme”!
Tal marketing foi plenamente justificado, tanto que o filme fez muito sucesso e foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Diretor (Billy Wilder), Ator (Charles Laughton), Atriz Coadjuvante (Elsa Lanchester), Edição e Som.
Além da revelação final, o filme tem ainda outros atrativos, como a direção ágil de Billy Wilder e a performance magistral de Charles Laughton, ator experimentado que dirigiu um único filme, o angustiante O Mensageiro do Diabo (1955). Aqui ele interpreta um advogado com alguns problemas de saúde que, a contragosto de sua enfermeira (Elsa Lanchester), aceita defender Leonard Vole (Tyrone Power), acusado de matar uma senhora rica por quem se afeiçoou e que deixou para ele sua enorme fortuna. Apesar das evidências, Leonard se mostra uma pessoa cordial, pacífica, que jura inocência enquanto sua esposa (Marlene Dietrich) é fria e parece ter intenções dúbias.
Disponibilizado aos assinantes da Amazon Prime, trata-se de um ótimo thriller de tribunal, com diálogos afiados e um bom ritmo que segura a atenção do espectador, mas as interpretações um tantinho acima do tom (para o padrão atual) podem causar certa estranheza, além da relação cômica forçada entre o advogado e a enfermeira que, na minha opinião, quebra um pouco o clima de suspense.
Dizem que foi a própria Marlene Dietrich, a eterna diva alemã que causou furor em O Anjo Azul (1930), que levou o conto para Wilder, pois tinha intenção de interpretar Christine Helm, esposa de Leonard, mas que somente faria isso se fosse com ele como diretor. Para quem não conhece o cinema de Billy Wilder, esse cidadão foi o responsável pela direção de uma infinidade de clássicos, de comédias, dramas, policiais a suspenses, sempre com muita elegância e extrema habilidade em contar uma boa história. Filmes como Pacto de Sangue (1944), A Montanha dos Sete Abutres (1951), Quanto Mais Quente Melhor (1959) e Se Meu Apartamento Falasse (1960) são alguns exemplos da versatilidade e competência desse grande artesão do cinema.
Posso correr o risco de cometer uma injustiça, mas essa é, na minha opinião, a melhor adaptação de um material de Agatha Christie, melhor até que a clássica versão de Assassinato no Expresso Oriente, de 1974, com elenco estelar e direção do também grande Sidney Lumet, diretor este que tem no seu currículo outro eletrizante drama de tribunal, o também clássico 12 Homens e uma Sentença (1967).