4.2
(5)

Vende-se Imóvel
Original:Vende-se Imóvel
Ano:2019•País:Brasil
Direção:Jean Grimard Gauthereau
Roteiro:Jean Grimard Gauthereau
Produção:Jean Grimard Gauthereau
Elenco:Giggio Mariani, Ana Almeida, Wellington Astorga, Vera Diez, Vanessa Ribeiro

O absoluto A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1982) é a principal referência notada no terror nacional Vende-se Imóvel, de Jean Grimard Gauthereau, disponível na Amazon Prime. Há outras facilmente notadas, como Sobrenatural (Insidious, 2011) e Sentinela dos Malditos (The Sentinel, 1977), mas foi o clássico de Sam Raimi que lhe forneceu as maiores inspirações. Contudo, apesar das boas intenções, trata-se de uma produção tecnicamente problemática e mal realizada, evidenciando clichês e canastrice, efeitos ruins e um roteiro pouco criativo.

Com produção da Cult Pictures e co-distribuído pela O2 Play e Breaking Glass Pictures, o filme é mais um que aborda a temática das casas assombradas. Ainda que explorada à exaustão pelo cinema mundial, chega a ser um interessante atrativo assistir a algo brasileiro, desde que tivesse personalidade e fosse para outros caminhos, além dos já conhecidos. Provavelmente Jean Grimard quis mesmo homenagear o subgênero, referenciar terrores mais conhecidos, mas poderia ter feito isso e também dado um toque nacional à produção.

No enredo, os noivos Anderson (Giggio Mariani) e Dayse (Ana Almeida) e a irmã dele, Rebecca (Vanessa Ribeiro), estão em viagem de carro pelo interior, conversando sobre como será o casamento, enfeites e o que será oferecido. A câmera, às vezes, porta-se como um passageiro no banco traseiro, observando a conversa, ora mostrando as expressões indigestas de Rebecca – não dá para saber se ela está assim por dor de barriga ou pelo assunto tratado. Ao passar por uma placa com os dizeres “Vende-se Imóvel“, eles resolvem parar para conhecer o local. O anúncio precário não condiz com a oferta: uma mansão, com um imenso lago próximo.

Com sorrisos fáceis – à exceção da irmã -, eles conhecem a proprietária Norma (Vera Diez) e seu filho com deficiência auditiva Douglas (Wellington Astorga) – não se sabe por que o rapaz foi atender a porta, se tem essa dificuldade de compreensão. São bem recebidos, dão uma breve olhada nos ambientes, elogiando a quantidade de quartos e a escada “que parece antiga“, comentando sobre a falta de luz elétrica, dificuldade de conexão e os valores em conta da oferta. Não olham muito, como depois se percebe, e logo aceitam uma xícara de chá oferecida pela anfitriã.

A silenciosa Rebecca não é vista bebendo, mas logo reclama de dores de barriga, sem sequer dizer uma palavra. Quando já pensam em ir embora, Norma sugere que passem a noite lá. “Está tarde. O tempo está fechando.“, diz algo assim, embora esteja um dia tranquilo de sol, sem previsão de chuva. Eles aceitam a oferta e, mesmo com vários quartos, optam por dormir no mesmo. Como o espectador não tem noção de horário, não fica muito claro que horas foram dormir, pois na cena anterior estava de dia. O que fizeram até lá? Andaram pela casa, ficaram conversando. E, por que não foram embora, se tinham muito tempo para isso?

Dormem um pouco. Logo Anderson levanta para… fazer alguma coisa. Anda com uma luminária pelos cômodos, abre portas, desce escada até encontrar um banheiro. Tinha um no andar superior, mas ele usou o de baixo, sabe-se lá a razão. Dayse acorda, não encontra o noivo, tenta chamar Rebecca em sono profundo, e vai atrás dele pelos corredores e ambientes. Vinte e poucos minutos na andança da garota, eis que aparece uma assombração, um jumpscare até bem feito. Desesperada, ela sai correndo gritando e tenta acordar Rebecca. Ambas saem em busca de Anderson e testemunham mais aparições.

Vende-se Imóvel tem momentos em que nada acontece. Personagens caminham e fogem, encontram e desencontram. Anderson, o Ash da produção, ao avistar uma espécie de cadáver se movimentando em um quarto, sai em disparada, entra no carro e vai embora. Pelo menos não tivemos o clichê do carro quebrado, mas a covardia tem data de validade: logo ele lembra que sua noiva e irmã estão na casa e resolve voltar. Mesmo com a lamparina, coloca uma lanterna daquelas de posicionamento na testa, que ele traz no porta-luvas do veículo, sabe-se lá o porquê disso.

Ele é o “Ash” porque usa uma camisa azul, veio à casa com a noiva e a irmã, e acha uma pá e também um machado pelo caminho para usar como armas contra as aberrações que habitam o local. Rebecca é possuída por alguma entidade presente na mansão e, em dado momento, é vista cantando com voz de criança a música “Atirei o pau no gato“; e há um colar também com uma importância significativa para o filme – viram algo parecido em algum lugar? Já o longa de James Wan é lembrado quando o rapaz caminha na escuridão com a luminária, cercado por assombrações risonhas como se ele estivesse no “the further” de Insidious. E os malditos que aparecem nos cantos dos cômodos trazem recordações sobre os deformados de Michael Winner.

No entanto, os efeitos são muito ruins, principalmente os que são utilizados no último ato, explorando a risada perversa de um Douglas do mal, com direito a raios, um fundo em chamas, coisas voando de um lado para outro. Se Jean Grimard estivesse trabalhado apenas com efeitos práticos, sem esses exageros técnicos, e fizesse uma sátira do gênero, Vende-se Imóvel poderia se tornar mais divertido e próximo do cinema caseiro dos anos 80. As atuações são muito ruins, de todo mundo, com expressividade exagerada que não condiz com a situação, sem saber demonstrar medo ou incômodo. Tenha como exemplo a postura de Anderson depois de ter vivenciado tantas coisas, e como ele se mostra no último ato, ainda caminhando com sua lamparina.

Com apenas 73 minutos e uma ambientação até interessante, Vende-se Imóvel poderia ser muito mais sangrento, mesmo com alguns efeitos toscos, explorando a atmosfera de uma casa maldita e claustrofóbica. Ao final, fica apenas um endereço para se evitar na plataforma de streaming.

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3 Comentários

  1. Quem poderia imaginar que um filme de terror brasileiro teria altas chances de ser ruim, não?

    1. Avatar photo

      Caro “anônimo”, se vc tiver um pouco de boa vontade, vai perceber que todo sábado publicamos críticas de filmes de terror brasileiros e a grande maioria é excelente. Pelo menos tenha a coragem de mostrar seu nome quando for destilar preconceito com o cinema nacional 😉

    2. Avatar photo
      Author

      Nem todos são assim. O da resenha é realmente bem ruim exatamente porque tenta emular o cinema hollywoodiano, copiar clichês e homenagear clássicos de outros países. Mas, temos bons exemplos de produções fantásticas e que fazem jus ao cinema nacional. Em se tratado dos recentes, recomendo Bacurau e Propriedade. Este último disponível na Netflix, com um final aterrador.

      Abs

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