Gattaca: A Experiência Genética
Original:Gattaca
Ano:1997•País:EUA Direção:Andrew Niccol Roteiro:Andrew Niccol Produção:Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher Elenco: Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law, Gore Vidal, Xander Berkeley, Jayne Brook, Elias Koteas, Maya Rudolph, Una Damon, Elizabeth Dennehy, Blair Underwood, Mason Gamble |
O roteirista e diretor Andrew Niccol tem em seu currículo filmes com ótimas ideias, mas que se perdem na realização. Sob a sua direção isso ocorreu com Simone (2002), O Preço do Amanhã (2011), Anon (2018) e infelizmente com este Gattaca, que nos cinemas brasileiros recebeu o subtítulo “Experiência Genética”. Isso não quer dizer que sejam filmes ruins, ao contrário, são até bons e valem muito a pena assistir, contudo, me parece que um diretor com maior senso estético e rítmico valorizariam em muito os interessantes roteiros de Niccol.
Isso aconteceu, por exemplo, com o excepcional O Show de Truman (1998), onde o roteiro esperto de Andrew Niccol encontrou o par perfeito com a visão humanística do diretor Peter Weir, que por sua vez já provou ao mundo seu inegável talento em contar uma história com A Sociedade dos Poetas Mortos (1989) e Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante Do Mundo (2003).
Em Gattaca, o enredo mostra uma sociedade do futuro (nem tanto assim…), onde as pessoas já podem ser aprimoradas geneticamente quando da fecundação, gerando seres perfeitos que terão um futuro brilhante na sociedade. O mesmo não se pode dizer das crianças concebidas naturalmente, que terão os problemas de saúde usuais de todo ser humano e ficarão relegadas a posições inferiores e subempregos. Nessa sociedade distópica, o “geneticamente inferior” Vincent (Ethan Hawke) assume a identidade de Jerome (Jude Law) com o objetivo de sair em missão no espaço. Nesse local onde somente os “geneticamente superiores” tem chance e todos passam cotidianamente por uma vistoria genética, ocorre um assassinato que coloca o disfarce de Vincent em risco. Uma Thurman interpreta Irene, colega de trabalho de Vicent, por quem nutre uma afeição que se transforma em romance.
Com uma pegada noir e uma estética futurista que remete aos anos 40/50, o longa mantém o interesse quando mostra a transformação de Vincent em Jerome e os meios de investigação do detetive vivido pelo grande Alan Arkin (aqui no piloto-automático), sendo que os momentos de maior suspense residem exatamente no receio de Vincent em ser desmascarado. Contudo, a trama do assassinato tem uma explicação pífia, o romance entre Ethan Hawke e Uma Thurman não convence e uma revelação final relacionada a família de Vincent é aproveitada de forma clichê.
De novo, o material proposto é muito rico e um diretor mais habilidoso poderia propor uma discussão mais profunda sobre a supremacia de uma parte da população dita “superior” em detrimento de outra ou apenas acelerar o ritmo e fazer um thriller mais eletrizante. Da forma em que é apresentado o longa, tudo ficou num meio termo, onde as boas ideias não são desenvolvidas em todos o seu potencial e a eventual possibilidade de diversão se perde no meio do caminho.
Em que pese esses problemas, a cenografia é interessante, o casal central esbanja charme, Jude Law tem uma interpretação bastante forte e o tema sempre gera interesse. Tomadas as devidas cautelas e calibrando as expectativas, dá para assistir e até gostar.