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Natal Sangrento 4: A Iniciação
Original:Silent Night, Deadly Night 4
Ano:1990•País:EUA
Direção:Brian Yuzna
Roteiro:Brian Yuzna, S.J. Smith, Arthur Gorson, Richard N. Gladstein
Produção:Richard N. Gladstein
Elenco:Clint Howard, Neith Hunter, Tommy Hinkley, Hugh Fink, Richard N. Gladstein, Reggie Bannister, Allyce Beasley, Glen Chin, Maud Adams, Jeanne Bates

Yuzna vinha em uma crescente promissora quando resolveu assumir o comando da quarta parte de um slasher natalino. Foi convencido pela perspectiva de explorar ideias que tiveram que ficar de fora de A Sociedade dos Amigos do Diabo (Society, 1989) e pela possibilidade de se libertar dos irmãos assassinos Billy e Ricky, de Natal Sangrento, Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro e Natal Sangrento 3: Noite de Silêncio. Seu envolvimento seria similar ao de Tommy Lee Wallace com a franquia Halloween, permitindo explorar elementos sobrenaturais a partir do roteiro de seu velho conhecido Zeph E. Daniel, creditado como Woody Keith.

Keith havia imaginado uma ideia envolvendo uma jornalista sendo assediada por um coven durante o Natal. Alguns dos conceitos tinham sido desenvolvidos pelos produtores Arthur Gorson e S.J. Smith para o terceiro filme, mas foram deixados no chão do estúdio, uma semana antes do início das filmagens, com a reescrita de Rex Weiner. Brian Yuzna gostou do argumento e também deu a sua contribuição, relacionando o conteúdo a Lilith, primeira esposa de Adão, banida dos Jardins do Éden, na representação da força feminina, e à obra “A Metamorfose“, de Franz Kafka. Todas as ideias foram abraçadas para a realização de Natal Sangrento 4 – A Iniciação, ainda que tenham ignorado o principal: a relação com o Natal. Yuzna deixou claro na época que não tinha interesse na temática, mas posteriormente declarou ter se arrependido, com a justificativa: “Até certo ponto, eu simplesmente não sabia como reunir todos esses elementos diferentes“.

Assim, o quarto filme se desenvolveu de maneira independente, afastando-se da estrutura slasher e ainda mais de um “slasher natalino“. Não é à toa que o roteiro inicialmente tinha sido intitulado “Bugs” antes de associá-lo à franquia Silent Night, Deadly Night. É provável que a conexão, além de obrigações contratuais da LIVE Entertainment, que havia adquirido os direitos de distribuição de A Noiva do Re-Animator (Bride of Re-Animator, 1990), seja pela tendência de desenvolver franquias, algo bastante comum nos anos 80. De todo modo, apesar da direção conhecida e dos ótimos efeitos-especiais, a cargo do especialista Screaming Mad George, a verdade é que Natal Sangrento 4 é também ruim. É melhor, claro, que as partes 2 e 3, sem precisar fazer muito esforço, porém trata-se de uma produção insossa, envolta em clichês e obviedades, acenando discretamente para a ousadia.

O enredo tem o protagonismo da jornalista Kim Levitt (Neith Hunter), buscando se destacar profissionalmente numa sociedade machista. Assim que fica sabendo do suicídio de uma mulher, que teria se atirado de um prédio após sofrer combustão espontânea, Kim tenta “ganhar a matéria” para o jornal Los Angeles Eye, administrado por Eli (Reggie Bannister, da franquia Fantasma, de Don Coscarelli). Mas o editor nem dá ouvidos, fechando-se em uma panela masculina com direito a férias natalinas aos homens, incluindo o namorado de Kim, Hank (Tommy Hinkley), que parece achar normal os benefícios de gênero.

Ela resolve, então, investigar por conta própria, aproximando-se através de um contato na livraria, localizada no prédio de onde a jovem se jogou. Aos procurar livros sobre combustão espontânea, ela é convencida pela dona, Fima (a bondgirl Maud Adams), a levar a um sobre ocultismo e feminismo intitulado “Iniciação da Deusa Virgem“, com um capítulo sobre “O Fogo de Lilith“. O interesse da moça se amplia pelos excessos machistas: um açougueiro diz que a jovem que se jogou seria uma prostituta apenas por ser mulher, e o pai de Hank também evidencia de maneira sarcástica seus pensamentos preconceituosos, pelo fato de Kim também ser judia.

Aos poucos, a garota nota que se trata de uma seita de culto a Lilith e que busca a ressurreição da filha de Fima, através de uma iniciação. Tomando chás estranhos como a Rosemary, ela começa a ver insetos por todos os lados, principalmente em casa, sendo incomodada inclusive por uma barata gigante. O coven tem o apoio do lacaio Ricky (Clint Howard, figurinha do cinema de horror B) e ainda mantém discípulos em todos os lugares, até mesmo no jornal, como Janice (Allyce Beasley, a eterna Agnes da série A Gata e o Rato). As tentativas de fugir do culto se mostram falhas e perigosas, e Kim precisará de muita coragem e inteligência para se esquivar das bruxas.

Se os vermes e insetos rastejantes fazem literalmente o prato dos que apreciam nojeiras, o restante da trama é bem ao estilo Supercine, editado para ser exibido na TV aberta. Na sequência em que parece que Yuzna vai ousar como fez em Society, ela acaba antes mesmo de começar, sem explorar adequadamente o ritual. Nunca fica claro exatamente a conexão com Lilith, além do poder de Fima e das consequências envolvendo o fogo, e nem há uma explicação adequada para a intenção da suprema: se a filha tinha se mostrado “fraca” como ela disse, por que a intenção de trazê-la de volta? Não teria sido melhor somente trazer Kim para o grupo e cuidar dela como tal?

Nota-se que Yuzna se inspirou em O Bebê de Rosemary e outras produções de conspiração satânica, mas sem necessariamente lidar com a ideia de insegurança. Se a ideia de mostrar rostos monstruosos em diversos lugares, assim como placas e números invertidos, é bem boa, o restante da narrativa mergulha em conceitos repetidos e explorados à exaustão, sem ter personalidade. É provável que os insetos gigantes e a mutação tenham inspirado Cronenberg, que já havia feito A Mosca (The Fly, 1986), na concepção do surreal Mistérios e Paixões (Naked Lunch, 1991). E é clara a evocação de “A Metamorfose” na transformação de Kim numa adepta ao culto, a partir dos bons efeitos especiais.

Faltou pouco para Natal Sangrento 4 se tornar mais um bom exemplar da carreira de Brian Yuzna. Talvez, se não viesse com a marca Natal Sangrento, o filme, pelo menos, teria vida própria como mais um exemplar mediano de culto demoníaco e bruxaria. Ficou no quase.

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