The Soul Eater / Le mangeur d'âmes
Original:The Soul Eater / Le mangeur d'âmes
Ano:2024•País:França, Bélgica Direção:Julien Maury, Alexandre Bustillo Roteiro:Ludovic Lefebvre, Annelyse Batrel, Alexis Laipsker Produção:Fabrice Lambot, Leo Maidenberg Elenco: Virginie Ledoyen, Paul Hamy, Sandrine Bonnaire, Francis Renaud, Malik Zidi, Chloé Coulloud, Elisabeth Duda |
“Ele devora a pureza da inocência. Ao se banquetear com as almas, ele alimenta seu poder. Nunca o convide para entrar. Ele pode invadir sua casa. Nunca responda a ele para não cair em seu vazio, pois é na essência daqueles que você ama que reside o monstro.”
Um thriller de investigação policial, elementos de horror sobrenatural, com a marca ousada dos diretores Alexandre Bustillo e Julien Maury, ambos carimbados no cinema de horror francês pela realização do perturbador A Invasora (À l’intérieur, 2007), e outros menos intensos como Livide (2011), Aux yeux des vivants (2014) e A Casa Profunda (The Deep House, 2021) trombando com o irregular Massacre no Texas (Leatherface, 2017). Com Le mangeur d’âmes, também conhecido como The Soul Eater, elas retornaram ao cenário que conhecem bem, sem as restrições do cinema americano. Assim, temos aqui uma produção que passeia por temáticas perigosas como suicídio, exploração sexual, deepweb, violência doméstica, culto religioso e sequestro de crianças, além de uma lenda urbana que perturba a sonolenta cidade de Roquenoir.
É para lá que o Capitão Franck de Rolan (Paul Hamy), da Gendarmaria Nacional da França, está indo para investigar uma série de desaparecimento de crianças. Aproveitando uma interrupção na estrada pela queda das toras de um caminhão, ele consegue carona com a Comandante Elisabeth Guardiano (Virginie Ledoyen), enviada pela Polícia Nacional da França para o mesmo local, com o objetivo de investigar um violento duplo homicídio: Laurent Vasseur (Jérémy Margallé) e sua esposa se mataram a facadas, com vestígios que indicam que tiveram orgasmos durante a ação violenta. Embora o Sargento Marcelin (Francis Renaud) e o oficial Fabrice Gonnet (Malik Zidi) não tenham encontrado o filho do casal, Elisabeth descobre que o garoto de 12 anos, Evan (Cameron Bain), está escondido no porão, temendo o que ele chama de “o devorador de almas“, do título. Já Franck, vasculhando um veículo nas proximidades, encontra um boneco de madeira esculpido com chifres.
Os interrogatórios e a investigação colidem com outros personagens como a prefeita Pascale Minot (Elisabeth Duda), a psiquiatra Dra. Carole Marbas (Sandrine Bonnaire), responsável pelos cuidados de Evan, além da vizinha dos Vasseurs, Nina (Wendy Grenier) e seu marido agressivo, que relatam a perda de seu cachorro. Outra vítima em circunstâncias estranhas será encontrada, com vestígios que indicam um suicídio bizarro, além da aparição de um estranho motoqueiro e uma criatura com chifres. As conversas com locais sobre a tal lenda, o bicho-papão da cidade de Roquenoir, envolve um monstro que habita as montanhas, devora as almas e devolve pessoas com a mesma aparência, mas diferentes em suas atitudes insanas, conhecidos como doppelgangers, cometendo atrocidades como as testemunhadas pelos investigadores.
O filme é inspirado no livro “Le mangeur d’âmes“, de Alexis Laipsker. Talvez pela liberdade da escrita, tenha mais detalhes que funcionam melhor do que toda essa mistura de elementos que mais confundem do que explicam. Além dos assassinatos violentos e da atmosfera folk horror de uma cidade coberta por folhagens secas, as várias ideias apresentadas se diluem na dinâmica investigativa, que ainda envolve a queda de um avião e dialoga com uma narrativa de adoração demoníaca similar a Colheita Maldita. É provável que em um formato série, como a curiosa Anthracite, também envolta em várias temáticas, o resultado poderia ser melhor explorado. Não que ao final tudo não faça sentido ou deixe pontas soltas, mas os conceitos acabam sendo atropelados pelos excessos.
Há comparações entre The Soul Eater e o teor investigativo de Rios Vermelhos (Les rivières pourpres, 2000), thriller que também traz elementos que flertam com o sobrenatural, embora esteja mais próximo de Seven – Os Sete Crimes Capitais (Seven, 1995) pelo clima pessimista de personagens, assombrados por traumas, e que sobrevivem com a ajuda de aparelhos. Pode ser que a sinopse até engane o espectador que espera um “filme de monstro” na concepção tradicional; aqui, há monstros, mas com pelugens e características diferentes.
The Soul Eater pode ficar na prateleira dos bons trabalhos de Alexandre Bustillo e Julien Maury. O final surpreendente, ainda que esquematizado pela proposta, pode deixar uma impressão ainda melhor. Se ele não for capaz de perturbar o espectador, pelo menos o manterá desperto até os créditos finais, na tentativa de encaixar todos os subplots de maneira satisfatória.