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Ju-on: O Grito
Original:Ju-on
Ano:2002•País:Japão
Direção:Takashi Shimizu
Roteiro:Takashi Shimizu
Produção:Takashige Ichise, Kunio Kawakami, Yoshinori Kumazawa, Hiroki Numata
Elenco:Megumi Okina, Misaki Itô. Misa Uehara, Yui Ichikawa, Kanji Tsuda, Kayoko Shibata, Yukako Kukuri, Shuri Matsuda, Yôji Tanaka, Yoshiyuki Morishita, Hideo Sakaki, Takashi Matsuyama, Yuya Ozeki, Takako Fuji, Chikara Ishikura, Chikako Isomura, Chiona Ôkuni, Miho Fujima

“Ju-On: A maldição de quem morre vítima de fúria violenta. Essa maldição se materializa nos lugares onde a pessoa vivia. Quem a encontra também morre, e outra maldição é gerada.”

Dois anos após o lançamento de Ju-On: The Curse e Ju-On: The Curse 2, Takashi Shimizu voltou a trabalhar com assombrações inquietantes em mais duas produções japonesas dentro do mesmo universo. Poderiam ser intituladas Ju-On: The Curse 3 e 4, uma vez que trazem novos conteúdos à mitologia, sem desperdiçar tempo com a repetição de cenas como aconteceu com Ju-On: The Curse 2, funcionando como reboots que exploram a maldição da casa dos assassinatos, mas também valorizam o que foi apresentado antes. Depois do sucesso de O Chamado (Ring, 2002) e as boas críticas à refilmagem americana, O Grito (The Grudge, 2004), Ju-On: O Grito chegou às fitas de VHS por aqui, seguindo os passos de Ring: O Chamado. Foram graças a essas produções japonesas que teve início uma valorização absoluta ao cinema oriental, permitindo que outros filmes estreassem nos cinemas, antes mesmo de suas refilmagens.

E curiosamente Ju-On: O Grito foi o primeiro filme da série a ter um amplo lançamento nas telas grandes. Teve a primeira exibição no Screamfest Film Festival, em outubro de 2002, já com distribuição da LionsGate. Depois passou pelo Festival Internacional de Cinema de Toronto, até chegar aos EUA em 2004, quando o remake já estava engatilhado. Teve boas críticas e muitas comparações à versão americana, considerada mais limpa e simples, e beneficiada por um grande elenco, tendo Sarah Michelle Gellar, Clea DuVall e Bill Pullman. Mas Ju-On: O Grito tem personalidade e vida própria, principalmente por partir para um final que não foi recriado no remake.

Como marca da franquia, Ju-On: O Grito apresenta um letreiro com a definição da maldição do rancor e uma rápida reconstituição dos assassinatos em tom sépia. Dividido em capítulos, intitulados pelos nomes das personagens, as ações aqui também são apresentadas de forma não-cronológica, uma estrutura interessante por permitir a sensação de uma cadeia de eventos perturbadores que acontecem de maneira concomitante. O ponto de partida para que se compreenda Ju-On é o feminicídio ocorrido depois que Takeo Saeki (Takashi Matsuyama) encontrou um diário de sua esposa Kayako (Takako Fuji) declarando sua paixão pelo professor Kobayashi, resultando em um estado de fúria e o assassinato dela, do pequeno Toshio (Yuya Ozeki) e do gato preto Mar, numa simples residência em Nerima, Tóquio.

Após as mortes mostradas nos dois primeiros filmes, Ju-On: O Grito começa com o capítulo “Rika“, em referência a assistente social (Megumi Okina) que foi enviada por seu chefe Hirohashi (Chikara Ishikura) para cuidar da senhora Sachie (Chikako Isomura), que era de responsabilidade do senhor Takahashi, considerado desaparecido. Mesmo sendo apenas uma voluntária, Rika aceita o trabalho de verificar o estado da residente, encontrando uma casa bagunçada, sujeiras e a senhora sem qualquer cuidado. Logo, ela encontrará fotos rasgadas, um gato, o próprio Toshio, com feridas pelo corpo, até culminar na aparição sombria de Kayako com seu olhar mortal sobre Sachie.

O segundo segmento, “Katsuya” mostra os primeiros dias da família Tokunaga ao local, composta pelo personagem-título (Kanji Tsuda), filho de Sachie, e sua esposa Kazumi (Shuri Matsuda). Se na versão americana a senhora é vista em estado praticamente normal, cuja condição moribunda se deve à manifestação da casa, na japonesa, Sachie já necessita de cuidados especiais. Katsuya divide as atenção no cuidado com a irmã Hitomi (Misaki Itô), convidada a vir jantar à noite. Mas a moradia tem outros planos. Sons de miados e aparições deixam Kazumi catatônica, enquanto explora aparições fantasmagóricas como a de Toshio e seu miado, além da possessão de Katsuya, assumindo o papel de Takeo para findar a esposa pela justificativa dela o estar traindo. Hitomi, que dá nome ao terceiro episódio, é expulsa do local para viver seu próprio pesadelo de perseguição sobrenatural.

Perturbada no banheiro da empresa em que trabalha pela figura escura de Kayako, ela pede o apoio de um segurança e depois chega ao seu apartamento, com aparições de Toshio no elevador, como no filme americano. É enganada também pela suposta visita de Katsuya, ouve a voz serrada de Kayako ao telefone, vê imagens distorcidas da TV como nas fotografias de Ringu, e tenta se proteger onde também não é seguro: embaixo das cobertas de sua cama. O capítulo seguinte leva o nome de “Toyama” (Yōji Tanaka), detetive aposentado que conhece a infame casa dos assassinatos. Depois que Hirohashi vai à casa a procura da desaparecida Rika e a encontra desmaiada, dois detetives, Nakagawa (Hirokazu Inoue) e Igarashi (Daisuke Honda), vão ao local e encontram os corpos de Katsuya e Kazumi no porão. Sabendo do sumiço de Hitomi e da morte do segurança, ao conversar com Rika e saber que ela contatou Toshio, entram em contato com Toyama, que conhece a maldição e, perturbado pelos eventos do passado e da sombra de Kayako visto na gravação que envolveu a morte do segurança, resolve incendiar a casa, acreditando que assim consiga evitar novas mortes.

Pai da pequena Izumi (Tomomi Kobayashi), na casa ele tem uma visão do futuro onde é mencionado sobre sua filha, agora adolescente (Misa Uehara), com outras três jovens. É Izumi quem conduz o capítulo seguinte, explorado em O Grito 2 (The Grudge, 2006). Depois de ter fugido da casa e deixado as três amigas, estas são consideradas desaparecidas, e passam a assombrá-la. O interessante da saga Ju-On é exatamente essa ideia de que as pessoas mortas por Kayako, Takeo e Toshio se transformam em assombrações, e iniciam uma nova maldição, ocasionando mais mortes como um vírus. Ninguém parece ter meios de escapar dela, e o terror ainda revisitará Rika, sua amiga e professora de ensino fundamental Mariko (Kayoko Shibata), que busca informações sobre o garoto evadido Toshio, tal qual o professor Kobayashi.

A parte final é reservada a “Kayako“, mostrando o que aconteceu Rika, incomodada pelos fantasmas, seja no restaurante ou no banho, como aconteceu com Sarah Michelle Gellar em O Grito. Rika fará a corrida pelas ruas para tentar salvar a amiga, encerrando com a descida maldita de Kayako, com expressão fria, olhar arregalado e sangue vertendo dos olhos. A caracterização dela e dos fantasmas que seguem quem tem contato com o rancor de Takeo estão entre os destaques da construção narrativa da franquia Ju-On. O longa foi muito bem recebido nos cinemas e recebeu diversas críticas positivas, e que foram fundamentais para o desenvolvimento de Ju-On: O Grito 2, lançado no ano seguinte, e também da versão americana e sua continuação.

Ainda que explorando tradições japonesas de lendas fantasmagóricas, Takashi Shimizu concebeu um universo de fantasmas inquietos e maldições. Nota-se a melhora na qualidade técnica, nos efeitos especiais e na direção, sabendo posicionar câmeras diversas para captar cada aparição, acompanhada da expressão de horror de suas vítimas. Rever a maldição, desde sua gênese, é um experimento ainda satisfatório e assustador, se você assistir sozinho, envolto em um ambiente pouco iluminado e aparentemente silencioso. Pode ser que escute algo além do que visto na tela, como se o terror pudesse atravessar para o mundo real e lhe causar incômodo.

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