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Tron: O Legado
Original:Tron: Legacy
Ano:2010•País:EUA, Índia, UK, México, Japão, Canadá
Direção:Joseph Kosinski
Roteiro:Edward Kitsis, Adam Horowitz, Brian Klugman, Lee Sternthal
Produção:Sean Bailey, Steven Lisberger, Jeffrey Silver
Elenco:Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Olivia Wilde, Bruce Boxleitner, James Frain, Beau Garrett, Michael Sheen, Anis Cheurfa, Serinda Swan, Yaya DaCosta, Lizzy Mathis, Yurij Kis, Conrad Coates, Daft Punk

Embora revolucionário e esteticamente fascinante, Tron: Uma Odisseia Eletrônica (Tron, 1982) não foi bem nas bilheterias. Esperava-se uma arrecadação maior pelo trabalho e valores investidos, ainda que o filme tenha tido êxito na venda de mídia doméstica e adquirido o status de cult. Durante muito tempo, a ideia ficou em banho-maria, preservada como um conceito que precisaria de bons investidores para um aguardado retorno ao mundo virtual. Ao mesmo tempo em que uma sequência não era realizada, o universo digital atravessava uma evolução surpreendente: computadores ficaram mais eficientes e menores, os efeitos especiais se uniram aos digitais para levar personagens a interação com dinossauros (vide O Parque dos Dinossauros, de 1993) e criaturas diversas, permitindo vida e consciência a seres inanimados. A comunicação ficou mais facilitada com os celulares, os televisores deixaram seu tubos para trás e passaram a ser vitrines da realidade, e a vida humana se tornou mais dependente da tecnologia. Um cenário que pedia a volta ao mundo cibernético.

Foi uma longa jornada entre roteiros, argumentos e concepções. Havia planos de realização de um novo filme em 1989, depois 1999 até se aventurar nos anos 2000. A Disney se mostrava receosa em investir em um projeto grandioso, temendo um novo fracasso. A ideia desde sempre não seria refazer o original, mas apresentar uma continuação atualizada, um reencontro à proposta. Desta vez, deixariam a inspiração em Alice no País das Maravilhas para abraçar O Mágico de OZ, e, principalmente, traria de volta o protagonismo carismático de Jeff Bridges.

A Walt Disney deu luz verde ao projeto em 2005, com a contratação de dois roteiristas, Brian Klugman e Lee Sternthal. Ao mesmo tempo, iniciavam as negociações com Joseph Kosinski (Spiderhead, 2022) para assumir a direção, aproveitando sua formação em arquitetura. Inicialmente o cineasta não pretendia dirigir o filme, não se mostrando animado a explorar um mundo virtual, depois do que já fora feito com a franquia Matrix. Passou a se empolgar com o conceito, quando percebeu que sua concepção se basearia no trabalho de design, uma vez que, em suas palavras, “o mundo inteiro teria que ser feito do zero.“.

Com as filmagens ocorrendo somente em abril de 2009, com duração de 69 dias, depois o longa passou por um complicado processo de pós-produção e marketing, com teaser que transportavam os espectadores para o novo mundo. Realizado em 3D e buscando se aproximar mais de um embarque real ao mundo digital, por toda a evolução da tecnologia, o resultado mais do que agradou. O orçamento estimado de US$170 milhões de dólares foi ofuscado pela bilheteria mundial, acima dos US$400 milhões, mostrando o interesse do público pela continuação  incluindo o Brasil, com sua estreia elogiosa acontecendo em 17 de abril de 2010. Tron: O Legado parecia mesmo fazer jus à criação original, uma aposta que finalmente deu certo.

Ambientado inicialmente em 1989, começa mostrando a boa relação de Kevin Flynn (Bridges) com seu filho de sete anos Sam (Owen Best). Flynn agora é CEO da ENCOM e costuma contar para o pequeno suas aventuras no mundo virtual como histórias para dormir. Disse ter acontecido um “milagre“, mas não teve tempo para contar: foi embora certa noite como sempre fazia e nunca mais voltou. Aqui cabe um breve comentário sobre a versão jovem de Bridges em efeitos pouco convincentes, algo que depois seria corrigido em outras aparições pelo filme. Vinte anos depois do desaparecimento de seu pai, Sam (Garrett Hedlund) se afastou da empresa, tornando-se apenas um acionista solitário e aventureiro que anualmente invade o prédio para disponibilizar na internet os códigos de seu sistema operacional.

Sua intenção de se afastar da empresa tem o apoio de Alan Bradley (novamente interpretado por Bruce Boxleitner), amigo de Kevin e idealizador do programa de defesa Tron. Ao receber uma mensagem via pager oriunda do velho fliperama que pertencia a Flynn, Sam vai ao local e encontra um escritório escondido no porão, com o laser de digitalização, e, ao acioná-lo pelo computador, é transportado para o mundo virtual, onde é capturado e enviado aos jogos como comumente acontece com os programas. O novo mundo aqui é bem diferente do visto em 1982: na verdade, trata-se de um universo futurista, com aparência próxima da real, ainda que mantenha algumas similaridades como as torres, agora utilizadas para transporte, e as motocicletas com iluminação em neon servindo para a disputa Light Cycle. Há até uma discoteca e venda de drogas, e espaços de entretenimento para os programas, como se possuíssem vida própria.

Sam combate guerreiros atirando discos até se revelar um usuário e filho de Kevin Flynn. Por conta disso, é levado ao comandante CLU, um programa corrompido e que originalmente fora concebido pelo seu pai, tanto que possuía suas feições da década de 80. O programador vinha constantemente visitar o mundo virtual para atualizá-lo, mantendo o local sob o controle de Clu e Tron, até a descoberta do tal milagre, os “algoritmos isomórficos” (chamados de ISOs), e acreditava que eles apresentariam uma nova realidade e que poderia servir ao mundo real na resolução de problemas. Clu se rebelou, mas não conseguiu assassinar Kevin, salvo por Tron, e obrigou o programador a buscar um refúgio no local, distante da passagem que permitiria seu retorno.

Sam participa da competição de motos, e é ajudado por Quorra (Olivia Wilde), uma auxiliar do verdadeiro Kevin, exilado nas montanhas. Aceitando sua condição ermitã, vivendo como um budista meditando sem qualquer ambição, Kevin não pretende enfrentar Clu até porque teme que seu disco, que contém informações sobre programação, possa cair em suas mãos e permitir que o programa corrupto crie um exército e possa alcançar a realidade. Contudo, Sam quer encontrar o caminho de casa como Dorothy e está disposto a buscar a ajuda de Zuse (Michael Sheen), alguém que vive na cidade digital e pode traçar o caminho para o Portal, acreditando que do lado de fora possa excluir Clu e restabelecer a ordem.

A parte 2 da odisseia digital resgata a atmosfera fantástica do primeiro, apresentando uma necessária evolução. Efeitos mais realistas e condizentes com a proposta acompanham as mudanças tecnológica e cinematográfica e ainda permitem explorar ainda mais a interação entre os programas numa interessante alegoria entre sobrevida e exclusão. Se no primeiro havia a importância dos jogos pela popularidade dos fliperamas e videogames na época, agora as disputas servem como eliminação de programas obsoletos, mantendo a estrutura dos games antigos. Se acompanhasse a evolução dos jogos e ampliasse seus domínios para o que é produzido por ai, o cenário seria algo como o de Jogador Nº1 em referência a Fortnite.

Tron: O Legado é bem divertido, com alguns acréscimos de emoção e drama familiar sem ferir seu contexto. Mesmo sem ganhar prêmios por tudo o que representa, o filme possibilitou a realização do curta Tron: The Next Day (2011) e da série animada Tron: A Resistência (Tron: Uprising, 2012-2013). E não parará por aí: Tron: Ares, de Joachim Rønning, estrelado por Jared Leto e com o retorno de Jeff Bridges, será lançado em outubro, desta vez trazendo para o mundo real as torres e as ameaças virtuais. Em tempos de exploração de inteligência artificial, parece uma continuação bem apropriada.

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