![]() Sociedade Secreta
Original:The Skulls
Ano:2000•País:EUA, Canadá Direção:Rob Cohen Roteiro:John Pogue Produção:Neal H. Moritz, John Pogue Elenco:Joshua Jackson, Paul Walker, Hill Harper, Leslie Bibb, Christopher McDonald, Steve Harris, William Petersen, Craig T. Nelson, Nigel Bennett, Andrew Kraulis. Noah Dalton Danby. Mac Fyfe, David Christo |
“Anualmente algumas ligas universitárias selecionam alunos para participarem de Sociedades Secretas. Diferentes das Fraternidades, estas sociedades escondem seus atos e moldam os líderes do futuro. Pelo menos três presidentes americanos participaram delas.”
Em meio aos estudos rigorosos e a pressão acadêmica, existe nas universidades a necessidade social de composição de grupos menores, com características próprias. Nessa organização interna e almejando prestígio popular, jovens estudantes buscam se associar a fraternidades com nomes gregos e os famosos testes de ingresso – desafios que já foram temáticas ou são lembrados em várias produções do gênero. E há também as tais “sociedades secretas“, espelhadas nas maçonarias e com a obscuridade dos illuminati. Uma das mais conhecidas – o que chega a ser irônico por ser algo “secreto” – recebe o nome “Skull and Bones” (também já foi chamada de The Order, Order 322 ou The Brotherhood of Death) e que serviu de inspiração para o longa de Rob Cohen, Sociedade Secreta (The Skulls, 2000).
Além de se basear levemente no que se diz sobre essa sociedade da Universidade de Yale e com a experiência do roteirista John Pogue por ter feito parte de uma, o filme também estabeleceu identificação com o período de invasão dos “adolescentes” no cinema de gênero. Na verdade, isso já era comum nos slashers oitentistas ao apresentar jovens, interpretados por pessoas bem mais velhas, como vítimas de um assassino, alienígena ou entidade sobrenatural. Contudo, na segunda metade dos anos 90, houve a febre “terror teen“, tendo como protagonistas atores e atrizes de séries de TV. Assim Sociedade Secreta une um contexto de mistério e conspiração a rostos populares da televisão americana: Joshua Jackson, por exemplo, vinha de Dawson’s Creek (1998-2003), com participação também em Lenda Urbana (Urban Legend, 1998) e Segundas Intenções (Cruel Intentions, 1999). Além dele, o filme tem a presença saudosa de Paul Walker, que depois se tornaria astro da franquia Velozes e Furiosos, e os veteranos Craig T. Nelson (de Poltergeist, o Fenômeno, 1982), Christopher McDonald (Prova Final, 1998) e William Petersen (Medo, 1996).
Em Sociedade Secreta, o estudante universitário Luke McNamara (Jackson) é conhecido pela habilidades nas competições de remo, e tem como principal sonho ingressar em Direito ou fazer parte dos Skulls, um grupo notório de vantagens financeiras e políticas. Observado pelos membros, ele é convidado a fazer os testes que o permitirão se associar, como correr de um ponto a outro e roubar o mascote de uma associação rival. Desperto “para uma nova vida” em um caixão, ele é aceito e tem como “alma gêmea” – o associado que será seu “irmão” nos Skulls – Caleb Mandrake (Walker), filho do juiz Litten Mandrake (Nelson), um dos líderes da Sociedade e candidato à Suprema Corte.
Como associado, ele recebe uma boa quantia de dinheiro, uma chave de acesso ao edifício da instituição em aspecto medieval, um carro e o livro de regras da Sociedade, tendo como principal delas a manutenção do segredo do que acontece por lá, algo que incomoda a amiga e interesse amoroso Chloe (Leslie Bibb) e o timoneiro da sua equipe de remo, Will (Hill Harper). A Lua de Mel com a associação termina quando Will aparece morto, sugerindo um possível suicídio, mas Luke desconfia que a morte pode ter relação com sua investigação pessoal aos Skulls, atraindo a atenção do detetive Sparrow (Steve Harris). Contudo, se insistir em denunciar a associação, ele e Chloe terão problemas com a ordem dos associados, que inclui o reitor Martin Lombard (McDonald) e, talvez, o senador Ames Levritt (William Petersen).
O grande problema de Sociedade Secreta está em sua narrativa, perfurada por incoerências, facilidades e lugares-comuns. O principal deles é a ironia de seu conceito principal: mesmo sendo uma “sociedade secreta“, praticamente todos os alunos sabem que ela existe. E em vez de manter a discrição de seus sócios, eles recebem carrões chamativos, valores na conta, participam de festas com mulheres e são marcados na pele com o símbolo dos Skulls, escondido em um relógio caríssimo. Aliás, a própria ideia de estampar o símbolo em um edifício e apresentar um livro com as leis – consideradas acima das comuns -, já mostra que a intenção de tornar seus atos obscuros não faz muito sentido.
Para piorar, o local secreto é repleto de câmeras, com as gravações, incluindo as que podem comprometer a instituição, sendo guardadas em outro prédio, numa passagem na biblioteca, que não poderia ser mais cafona e óbvia. Quando Luke persiste em sua tentativa de provar um crime cometido internamente – ué, mas as leis dos Skulls não é superior as leis comuns? -, ele e a amiga Chloe passam a ser ameaçados, perseguidos nas ruas pelo próprio reitor, com a arma em mãos, ou pelas estradas, com veículos se batendo de forma que possivelmente chamaria a atenção dos populares e incitaria uma investigação. Não seria melhor e mais prático se Luke fosse simplesmente às mídias, relatar tudo o que viu como tentava Will?
Há, claro, alguns momentos até interessantes como o da jaula em que os sócios são colocados para resolver as diferenças, e que aparecia na contracapa do VHS. Porém, a sequência e as perseguições não são suficientes para valerem uma indicação, ainda mais quando a direção de Rob Cohen se mostra bastante atrapalhada nas cenas de ação, dando um aspecto de filme para a televisão – logo ele que depois comandaria Velozes e Furiosos (2001), Triplo X (2002) e A Múmia: Tumba do Imperador Dragão (2008). E o final, extremamente inverossímil, em um duelo à moda antiga, e a confiança frágil do protagonista que a proposta vai dar certo dificultam ainda mais as chances de uma avaliação positiva.
Mesmo sem ir muito longe no box office ou conquistar boas críticas, Sociedade Secreta ainda rendeu mais dois filmes, Sociedade Secreta 2 (The Skulls II, 2002) e Sociedade Secreta 3 (The Skulls III, 2004), explorando outros caminhos de uma associação que, assim como o filme, deveria permanecer nas sombras.