 Juntos
Original:Together
Ano:2025•País:EUA, Austrália Direção:Michael Shanks Roteiro:Michael Shanks Produção:Dave Franco, Alison Brie, Mike Cowap, Andrew Mittman, Erik Feig, Max Silva, Julia Hammer, Timothy Headington Elenco:Dave Franco, Alison Brie, Damon Herriman, Mia Morrissey, Karl Richmond, Jack Kenny |
Durante um período delicado de mudança em seu relacionamento, tanto em termos geográficos quanto de status, o casal formado por Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) se vê afetado por um bizarro fenômeno que os deixa cada vez mais dependentes um do outro, até o ponto em que essa ligação se torna, literalmente falando, física.
É interessante pensar como seria um filme feito Juntos (Together, 2025) se tivesse sido realizado uns cinquenta anos atrás. Basta pegarmos um exemplo como Esposas em Conflito (The Stepford Wives, 1975) para percebermos o quanto o papel de esposa se alterou com o tempo. Naquela época, ainda que a revolução sexual dos anos 1960 houvesse modificado relativamente as coisas, a condição social imposta às mulheres ainda as condicionava a serem pouco mais do que uma extensão dos seus maridos e das vontades deles. Tanto que, em 2025, o conto sobre dependência emocional, financeira e, em último caso, física que é Juntos pode ser lido também como uma história da crise da masculinidade no século 21.
Enquanto homem hétero, Tim não dá check em vários dos pré-requisitos culturalmente estabelecidos do que é “ser macho”. Afinal, ele fracassou na carreira dos sonhos de boa parte dos homens brancos ocidentais que hoje se encontram na meia-idade ou próximos dela: ser um astro do rock. Já Millie é tão bem-sucedida em seu ofício de professora que pode optar por um emprego mais modesto, em uma cidade pequena, onde acredita que irá fazer mais diferença na vida dos alunos. Tim não tem carteira de motorista, e depende das caronas de Millie – inclusive, mesmo usando o GPS do celular, ele não possui o tão alardeado senso de direção dos homens. Ele também não sabe direito como utilizar uma serra (cabe à mulher essa tarefa em uma das cenas mais emblemáticas do filme). E, pra completar, ele não dá no couro.
No geral, Millie parece muito menos dependente de Tim do que o contrário. Contudo, é ela quem luta mais efetivamente pela manutenção do relacionamento. Millie possui um espírito prático e pé no chão, como mostra a tal cena da serra – embora esse pragmatismo se espatife quando inevitavelmente choca-se com o sobrenatural.
E, ao lidar com o sobrenatural, o filme consegue se equilibrar bem na delicada corda bamba entre aterrorizar e fazer rir (na qual, oras, o gênero terror como um todo sempre caminha), pois uma premissa como a de Juntos pode servir tanto ao terror quanto a uma comédia dos irmãos Farrelly (quem lembra de Ligado em Você (Stuck on You, 2003)?). Na maior parte do tempo, o humor é bem dosado, e muito disso se deve ao timing de Franco e Brie (um casal também na vida real).
Inegavelmente, o entrosamento perfeito da dupla é um dos grandes responsáveis pelo êxito do filme. Além do humor, Franco e Brie brilham também nos momentos mais dramáticos, mas é igualmente importante destacar sua expressão corporal. Dá para imaginar o quanto de ensaio e treinamento o casal precisou enfrentar até atingir a performance física à qual assistimos, uma mistura tragicômica de Buster Keaton, Jackie Chan e David Cronenberg. Os efeitos visuais competentes e a trilha musical interessante ajudam a embalar essa tétrica dança a dois.
Embora, em alguns momentos, o roteiro tome o caminho conveniente do didatismo, as dicas visuais e alguns aspectos do enredo (como a história dos pais de Tim) versam de maneira harmônica e inteligente sobre o tema da codependência.
Criativo, propondo discussões pertinentes e, acima de tudo, divertido, Juntos vai fazer você se pegar um tanto incomodado toda vez que perceber que você e seu parceiro(a) completam a frase um do outro ou escolhem roupas combinando. E é mais um ótimo exemplar do atual período de inusitado sucesso mainstream do body horror, algo que não se via talvez desde A Mosca (The Fly, 1986).
