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Livros de Sangue – Vol. 6
Original:Books of Blood – vol. 6
Ano:2023•País:EUA
Autor:Clive Barker•Editora: DarkSide Books

Após uma longa e macabra estrada pavimentada por sangue e vísceras, Livros de Sangue enfim chega ao seu sexto e último volume.

Após o prefácio, escrito por Gabriela Amaral Almeida, o primeiro conto é A Vida da Morte. Elaine acaba de passar por um longo tratamento contra o câncer e está se recuperando e ficando melhor a cada dia, mas não sem sequelas. Ela não consegue mais comer sem passar mal, sua aparência havia mudado, sua alegria de viver é quase inexistente, apesar de ser uma sobrevivente. Um dia, enquanto observava uma igreja prestes a ser demolida, encontra um homem com traços cadavéricos e que parece estranhamente atraído por ela. Desde então, se vê cada vez mais encantada por temas obscuros e morte e, escondida, decide entrar na cripta da igreja caindo aos pedaços para ver os corpos de vítimas da peste. A partir daí, sua relação com a vida e a morte muda drasticamente. Barker aborda de forma muito envolvente a relação do ser humano com a morte, a fascinação pelo macabro e como doenças que podem ser fatais podem alterar a personalidade de alguém.

Em Como Grileiros Sangram, vemos o que pode (ou que deveria) acontecer quando exploradores tentam tirar nativos de sua terra. Um grupo de europeus invade uma terra indígena, alegando que agora é deles, e tentam a todo custo tirar os habitantes originais dali. A princípio, não queriam usar violência, mas logo mudam de ideia e acabam matando uma criança. Amaldiçoados pelos indígenas, vão embora para o acampamento. Não demora para começarem a se arrepender pelos seus atos. Neste conto o colonialismo e exploração de povos nativos é bem clara, e o autor transforma os predadores em presas descrevendo cenas sangrentas e brutais causadas pelo mal que foram acometidos. Não se mexe com aqueles que entendem sobre poderes ancestrais.

Crepúsculo nas Torres conta a história do agente Ballard, que tem a missão de encontrar Mironenko, ex-agente da KGB, para se certificar de que ele não mais segue ideologias comunistas. Os dois tem uma conversa existencial que surpreende Ballard e, após o encontro, o agente passa a ouvir vozes dentro de sua cabeça que parecem querer que ele liberte algo que está escondido no âmago de seu ser, mas ele luta para enterrar isso – seja lá o que for – bem fundo dentro de si. Coisas estranhas começam a acontecer ao redor de Ballard, e o que começou como um suspense investigativo logo vira um horror sobrenatural e corporal. Esse é o conto mais diferente de Barker de toda a coletânea Livros de Sangue. Tudo indica que seria apenas uma história cheia de mistério e intrigas, mas de repente pequenas peculiaridades começam a aparecer e rasgar o véu da normalidade, até nos depararmos com momentos de bestialidade e um certo grau de fanatismo. A mudança no tom é surpreendente, de espionagem clássica a elementos fantásticos, Barker mostra mais uma vez o quanto é brilhante e consegue incluir o grotesco em qualquer tipo de situação sem perder seu estilo próprio.

Em A Última Ilusão seguimos o mais novo caso de Harry D’Amour, detetive ocultista que já apareceu em outros trabalhos de Barker. Um famoso ilusionista, Swann, é assassinado de formas misteriosas, porém, a única testemunha do ocorrido está desaparecida. Sua morte é então dada como acidente, e a esposa de Swann entra em contato com Harry implorando por sua ajuda. Chegando na mansão da viúva, descobre que seu trabalho é ficar de olho no corpo do falecido até os preparativos para a cremação ficarem prontos. Entre realidade, ilusões e ocultismo, D’amour precisa lidar com demônios e magia se quiser sair vivo desse caso. O ritmo com a qual as coisas acontecem nesse conto prendem a atenção, começando com a morte nada comum do ilusionista e passando por outros momentos bizarros, como o mordomo da mansão e sua relação com o falecido patrão até a revelação do motivo da morte de Swann. Há muitos elementos de clássicos Noir aqui e, novamente, misturados a uma dose de horror sobrenatural para criar uma das melhores histórias desse volume. O conto foi adaptado para as telas pelo próprio Clive Barker em 1995. O Mestre das Ilusões conta com Scott Bakula, Kevin J. O’Connor e Famke Janssen no elenco.

Para finalizar, temos um texto que serve como fechamento/epílogo de toda a coletânea: O Livro de Sangue (Pós-Escrito): Na Jerusalém Street. Em apenas 3 páginas, o texto é diretamente interligado com o início do volume 1 de Livros de Sangue, fechando o ciclo. Todas as histórias estão conectadas, sendo um grande organismo de histórias viscerais e pesadelos inomináveis prontos para habitarem sua mente. Deve-se enaltecer o trabalho de Paulo Ravieri, que traduziu com excelência todos os seis volumes publicados pela DarkSide Books com dedicação.

O último volume de Livros de Sangue mostra o quanto a escrita de Barker é versátil, já que aqui temos histórias que não são exclusivamente de horror ou com elementos gráficos absurdamente bizarros, apesar de estarem sempre presentes de algum modo. Variando de espionagem e noir a elementos fantásticos e horror corporal, a conclusão de Livros de Sangue reforça a importância de Clive Barker na literatura de horror e sua maturidade em abordar os mais diversos temas sem perder sua essência.

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