![]() O Terror do Ano 5000
Original:Terror from the Year 5000
Ano:1958•País:EUA Direção:Robert J. Gurney Jr. Roteiro:Robert J. Gurney Jr., Henry Slesar Produção:Robert J. Gurney Jr. Elenco:Ward Costello, Joyce Holden, Frederic Downs, John Stratton, Salome Jens, Fred Herrick, Beatrice Furdeaux, Jack Diamond, Fred Taylor, Bill Downs, William Cost |
“No ano de 1947 o homem rompeu a barreira do som. No ano de 1958 o homem lançou o primeiro satélite e atravessou a barreira espacial. Agora em uma área da Flórida central o homem luta para cruzar a barreira mais imponente de todas: a barreira do tempo. O Professor Howard Earling, físico nuclear, investiga implacavelmente o futuro apenas para liberar sobre o mundo o terror do ano 5000.”
As produções que ajudaram na fomentação da Ficção Científica no Cinema Fantástico variavam suas temáticas entre exploração do espaço, alienígenas de borracha, cientistas loucos e o medo de uma guerra nuclear. São filmes e séries de TV que, entre recursos limitados, evidenciavam sobretudo ingenuidade ao utilizar a Sétima Arte como ferramenta de informação e alerta. O contexto era o motor propulsor de roteiros dos mais absurdos: o mundo tinha sobrevivido a duas guerras mundiais e atravessava uma época de corrida espacial e ameaça armamentista, com os polos centrados nos Estados Unidos da América e na União Soviética, na chamada Guerra Fria. Pode-se exemplificar a fertilidade cinematográfica por meio de inúmeras obras lançadas no período – muitas delas resenhadas pelo Juvenatrix aqui no Boca do Inferno -, mas vale se ater ao tema da análise e ressaltar os envolvidos nessa bagaceira intitulada O Terror do Ano 5000 (Terror from the Year 5000, 1958), a crítica 5001 do site.
Foi produzido pelo estúdio americano American International Pictures (AIP), fundada por James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, em 1954. Entre os anos 1955 e 1980, a produtora alimentou o Cinema com inúmeros filmes, grande parte voltada ao interesse de adolescentes, os principais consumidores da Sétima Arte na época. Depois ela foi angariada pela Orion Pictures, que depois passaria a fazer parte da Amazon MGM Studios. Durante sua época mais frutífera, a AIP seguiu a fórmula Arkoff de desenvolvimento de temáticas, com cada letra associada a uma intenção do estúdio: Action – Revolution – Killing – Oratory – Fantasy – Fornication, letras que rondaram o cinema exploitation nas décadas vindouras.
A fábrica de produções baratas e populares teve a manufatura de nomes importantes para o cinema de baixo recurso como Roger Corman (incluindo sua filmografia Poe) e Bert I. Gordon, também constantemente mencionados por aqui. Somente no ano do lançamento de O Terror do Ano 5000 a AIP levou às telas grandes outras 21 produções, destacando pérolas como O Grito da Caveira (The Screaming Skull), A Criação de um Monstro (How to Make a Monster), Teenage Caveman, War of the Colossal Beast, Attack of the Puppet People, Night of the Blood Beast, Os Devoradores de Cérebro (The Brain Eaters) e A Maldição da Aranha (Earth vs. the Spider). Ainda que sejam risíveis ao público de hoje em dia, são produções ruins de puro entretenimento, com efeitos especiais precários e enredos bizarros, a partir de roteiros muitos vezes escritos durante o processo de filmagem, com os realizadores tendo apenas o elenco e o título.
Com fotografia em preto e branco e baixa metragem, O Terror do Ano 5000 aborda o tema da viagem no tempo com mensagem sobre um futuro com ar radioativo, geração atômica e pessoas deformadas. Inspirado no conto “Bottle Baby“, de Henry Slesar, que foi publicado na revista de ficção científica Fantastic (em abril de 1957), após a narração que inicia este texto, o filme mostra o cientista louco, Professor Howard Erling (Frederic Downs), que, com seu parceiro Victor (John Stratton), desenvolveu uma máquina de transporte para o futuro: ela funciona em um sistema de escambo em que você coloca algo dentro dela e é substituído por um artefato ou objeto oriundo de milhares de anos a frente.
“O primeiro homem a desbravar o futuro estaria no topo do mundo”
Com o uso excessivo de energia e que obrigou os experimentos acontecerem numa ilha na Flórida, Howard envia uma estátua pequena para um museu e laboratório que investiga através de carbono 14 a data de origem de coisas encontradas em escavações. O famoso arqueólogo Dr. Robert Hedges (Ward Costello) fica intrigado ao perceber que ela veio de uma época por volta do ano 5200. Ao perceber que se trata de um objeto radioativo – no argumento do diretor Robert J. Gurney Jr. a exposição por duas semanas poderia ser fatal -, ele parte em viagem ao local para encontrar o Professor e indagar a intenção de envio.
No caminho, ele conhece a filha dele, Claire (Joyce Holden), noiva de Victor, que o conduz ao laboratório. A afeição entre os dois, além da ambição de Victor, é um dos principais problemas do projeto: como acontece no cinema fantástico, o rapaz quer ir além de moedas, chaves e a estátua, e também deseja transportar matéria orgânica, escondendo dos demais um gato deformado e a aparição de uma mulher radioativa. E esta que representará o “terror do ano 5000” ao matar quem cruzar seu caminho, com a intenção de levar material genético de uma pessoa pré-atômica e evitar o nascimento de pessoas deformadas.
A ideia parece boa, mas a realização peca em diversos sentidos. Além dos terríveis efeitos de maquiagem e figurino, com a mulher do futuro usando maquiagens toscas e uma roupa de mergulho com moedas penduradas, O Terror do Ano 5000 perde tempo considerável em sequências que não levam a lugar algum: toda a viagem de Robert, incluindo uma desnecessária e pouco empolgante perseguição entre carros; o affair do rapaz com Claire em várias cenas de mergulho no lago; e a pior de todas, quando o cientista, sua filha e Robert levam Victor ao hospital e aproveitam para jantar no restaurante da cidade e ir ao cinema ver I was a teenage Frankenstein, lançado um ano antes pela própria AIP.
O Terror do Ano 5000 não deve ser colocado numa lista dos bons exemplares do período. Mesmo com sua mensagem moral sobre conservar o presente pensando em um futuro melhor, há outras excelentes produções de Ficção Científica como O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, 1951), servindo ao propósito com mais qualidade técnica e argumento. Poderia servir como um episódio de A Quinta Dimensão ou outras séries fantásticas do período, garantindo o tempo adequado de entretenimento.