4.3
(4)

A Vida de Chuck
Original:The Life of Chuck
Ano:2024•País:EUA
Direção:Mike Flanagan
Roteiro:Mike Flanagan, Stephen King
Produção:Mike Flanagan, Trevor Macy
Elenco:Tom Hiddleston, Jacob Tremblay, Benjamin Pajak, Cody Flanagan, Chiwetel Ejiofor, Karen Gillan, Mia Sara, Carl Lumbly, Mark Hamill, David Dastmalchian, Harvey Guillén, Michael Trucco, Q'orianka Kilcher, Matthew Lillard, Rahul Kohli, Violet McGraw, Saidah Arrika Ekulona, Annalise Basso, Kate Siegel, Samantha Sloyan

Escrito e dirigido por Mike Flanagan (Doutor Sono), com base em um conto de Stephen KingA Vida de Chuck parte de uma premissa contraditória. É um filme que se propõe a explorar os aspectos mais banais da trajetória do seu personagem principal, oferecendo um olhar que deixa muita coisa de fora ao mesmo tempo em que foca a sua atenção em coisas que poderiam ser consideradas menos importantes. Mas são justamente esses detalhes menos importantes que fornecem a substância para que a narrativa funcione tão bem.

O longa é estruturado em três atos que nos são apresentados na ordem inversa, começando pelo final e terminando no começo. Assim, começamos acompanhando um professor de ensino médio (interpretado por Chiwetel Ejiofor, de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura) que se depara com o que parece ser o fim do mundo: desastres e tragédias tomam conta dos noticiários, continentes inteiros estão sendo engolidos pelo mar e os principais estados e nações produtoras de alimentos estão ruindo por conta desses desastres naturais.

Em meio a todo esse caos e destruição, ele começa a notar estranhos anúncios voltados para um sujeito chamado Chuck. Esses anúncios, que incluem um outdoor, propagandas no rádio e na televisão, pichações nas paredes e até mensagens escritas no céu, dizem a mesma coisa: “39 ótimos anos. Obrigado Chuck”. O estranhamento causado pela repetição dessa mensagem ganha sentido quando acompanhamos os dois atos seguintes da história, focados no tal Chuck – primeiro na sua vida adulta e, em seguida, na juventude.

Nesse ponto, o roteiro de Flanagan é hábil ao inserir pistas e sutilezas para o espectador mais atento. É possível perceber, por exemplo, como alguns diálogos se repetem nos diferentes atos, formando uma conexão entre eles. Da mesma maneira, à medida que o longa avança, reconhecemos vários dos personagens que vimos antes, mas a nossa percepção em relação a eles muda: protagonistas se tornam coadjuvantes ou até mesmo figurantes. E as relações entre eles se desfazem à medida que passamos a acompanhar, de fato, A Vida de Chuck.

Tecnicamente, vale destacar o excelente trabalho de direção de fotografia de Eben Bolter (The Last of Us), que constrói imagens ao mesmo tempo belíssimas e carregadas de significado. Nota-se, por exemplo, um contraste entre os tons azulados (e frios) do terceiro ato com os tons amarelados (e quentes) dos outros dois. Tal escolha acompanha a lógica da narrativa: o terceiro ato simboliza o fim, o segundo é o meio (marcado pela importância de uma cena que se passa no entardecer), e o primeiro é o início, quando muitos dos problemas do protagonista parecem distantes.

Outro ponto de destaque é a montagem, também assinada por Flanagan, que explora muito bem a proposta de contar a história de forma invertida. Em uma determinada cena, o personagem de Chuck, agora adulto, vê uma mulher tocando bateria e, embalado pelo ritmo da música, ele faz um pequeno movimento com a mão acima da cabeça. Nesse momento, vemos um insert de uma outra mão, fazendo o mesmo movimento. Trata-se de uma lembrança do personagem, porém, como estamos vendo a história fora de ordem, não sabemos, naquele momento, de onde vem aquela memória, mas sabemos que ela é importante para o protagonista.

E essa é a temática principal aqui: a importância dos pequenos detalhes. Afinal, o longa não tenta exaltar os grandes feitos da vida de seu protagonista, mas sim valorizar os instantes corriqueiros, o “insignificante”. Ao excluir os momentos “mais importantes” da vida do protagonista (como o casamento ou o nascimento de um filho), a obra nos força a olhar para o restante, para o ordinário. E é justamente aí que encontra a sua beleza: ao dar importância a memórias passageiras, momentos fugazes e relações efêmeras.

Em suma, A Vida de Chuck é um filme belíssimo, que celebra a imensidão do universo de conexões que cada um carrega dentro de si.

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Média da classificação 4.3 / 5. Número de votos: 4

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1 comentário

  1. Adorei esse texto, de fato um filme belíssimo, ainda quero lê o livro.

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