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La Meute
Original:La Meute
Ano:2010•País:França, Bélgica
Direção:Franck Richard
Roteiro:Franck Richard
Produção:Vérane Frédiani, Franck Ribière
Elenco:Yolande Moreau, Émilie Dequenne, Benjamin Biolay, Philippe Nahon, Matthias Schoenaerts, Ian Fonteyn, Georges Lini, Philippe Résimont, Brice Fournier, Eric Godon

Cunhado pelo crítico James Quandt em 2004, o termo “New French Extremity” propõe um subgênero que mergulha o cinema francês em violência e sangue. Traça paralelos com a origem dos extremos nos espetáculos de horror chamados Grand Guignol, que durou de 1897 a 1962, em Paris, com excessos gráficos que, embora tenham incomodado plateias da época e ocasionado censuras e exibições curtas, serviram para a construção de estilos como o gore e o splatter. Desse cinema cru e sem limites, destacam-se produções como Desejo e Obsessão (Trouble Every Day, 2001), Irreversível (Irréversible, 2002), Alta Tensão (Haute Tension, 2003), Calvaire (2004), (A) Fronteira (Frontière(s), 2007), A Invasora (À l’intérieur, 2007) e Mártires (Martyrs, 2008). La Meute (2010), de Franck Richard, tem todos os elementos que poderiam classificá-lo como mais um exemplar do estilo, mas ter todas as ferramentas nem sempre resulta em uma construção eficiente.

Começa com uma referência ao clássico O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), quando a jovem, viajante sem rumo, Charlotte (Émilie Dequenne), para tentar se esquivar de uma gangue de motoqueiros, aceita dar carona ao estranho Max (Benjamin Biolay, uma mistura de Benício del Toro com Brad Dourif). A conversa amigável e o jeito sincero do rapaz permitem que a garota tenha confiança suficiente para aceitar uma parada no restaurante de estrada La Spack, administrado por uma senhora (Yolande Moreau). Depois de defender Charlotte dos motoqueiros e serem ajudados pela dona, Max avisa que vai ao banheiro e desaparece.

Temendo que o rapaz possa ter sido sequestrado, Charlotte aguarda a madrugada para invadir o local e descobrir o paradeiro do caronista, mas é surpreendida pela senhora que a golpeia e a prende numa jaula ao lado de um outro rapaz. Não demora para que ela perceba que o plano da dona vai além de cuidar dos sequestrados para fins de canibalismo ou tortura por diversão: depois de alimentados, quando chega a noite, suas vítimas são levadas ao alto de uma colina para que seu sangue desperte da terra ghouls vorazes. Até esse momento, com exceção de alguns percalços do roteiro como a necessidade de todo um teatro para esse fim, La Meute abandona a família de Leatherface para abrigar um horror sobrenatural com vampiros em caracterizações muito interessantes.

O problema é a inconsistência do longa de Franck Richard, apesar do bom trabalho de fotografia de Laurent Barès – de (A) Fronteira e A Invasora -, com aspecto noturno e sujo para afundar o infernauta em uma atmosfera aterrorizante e pessimista. As situações acontecem envoltas em facilidades que beiram o absurdo: na primeira aparição dos monstros, você não consegue entender porque eles pouparam a garota, deixando-a com ferimentos superficiais para uma nova refeição na noite seguinte. Se o filme acabasse ali, como um curta-metragem ou até um média, La Meute figuraria como um excelente exemplar do cinema violento e surpreendente do New French Extremity, mas as ideias continuam soltas e se acumulando sem necessidade.

Há, por exemplo, o papel do xerife aposentado Chinaski (Philippe Nahon), que poderia ter resolvido todo o embate e dado um outro rumo ao enredo. Depois de momentaneamente solta, Charlotte pega a espingarda e aponta para a senhora, hesitando por alguns segundos – caramba, por pouco você não serviu de alimento para criaturas horrendas – e dispara. Seria um possível virada no roteiro, com a garota partindo para livrar o local dos ghouls ou tendo que passar mais uma noite sobrevivendo ao ataque voraz delas. Outra ideia que teria funcionado bem seria mostrar que a senhora cuida dos ghouls para que eles não saiam dali e possam ser controlados; após a garota eliminar a dona, eles estariam soltos para atacar a sociedade, numa proposta apocalíptica. Mas não é o que acontece. Até mesmo os motoqueiros retornam para justificar o cachê.

É uma pena que La Meute desperdice o seu potencial e suas ideias se atropelem. Havia um ali um material de grandes possibilidades, mas que se perdeu entre clichês e uma narrativa problemática.

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