![]() Blood Beat
Original:Blood Beat
Ano:1983•País:EUA Direção:Fabrice-Ange Zaphiratos Roteiro:Fabrice-Ange Zaphiratos Produção:Helen Boley, Henri Zaphiratos Elenco:Helen Benton, Terry Brown, Dana Day, James Fitzgibbons, Claudia Peyton, Peter Spelson, Franck Miley, Carol Wagner, Charlie White, Andrea Cauchon, Bill Madlener, Duane Albrecht, |
Papai Noel, velho batuta, não é o único símbolo que representa o Natal no Cinema Fantástico. Além da Rena do Nariz Vermelho, passeio em Marte e slashers vingantivos, essa época de festas, do Tio do Pavê, do arroz com passas e duendes bizarros também pode ser marcada pela presença sempre marcante dos… samurais natalinos. Na verdade, trata-se de uma brincadeira em relação à proposta do horror desenvolvido sob efeitos de substâncias, Blood Beat, lançado em 1983. Filmado em 35mm para um lançamento em vídeo, o diretor e roteirista Fabrice-Ange Zaphiratos assumiu publicamente que estava chapado quando escreveu e filmou seu slasher, cuja ideia surgiu após a compra de roupas de samurai. Teve a intenção de ambientá-lo no Natal porque queria envolver seu filme com a neve que poderia circundar a fazenda alugada para as filmagens, mas só conseguiu os direitos de filmagem na primavera. Ainda assim, manteve o cenário natalino!
A trama, absolutamente bizarra, se passa numa área rural de Wisconsin, às vésperas do Natal, local onde mora a artista de poderes psíquicos, Cathy (Helen Benton, uma mistura de Cher com Justin Long) e seu namorado Gary (Terry Brown), caçador e sempre com roupas de soldado para caçar cervos. Vivem numa relação conturbada em que a mulher só se preocupa com as suas artes, enquanto seu companheiro tem a intenção de assumir um casamento. Chegam para as comemorações natalinas os filhos de Cathy, Dolly (Dana Day) e Ted (James Fitzgibbons), que leva ao local a namorada Sarah (Claudia Peyton). Ao se cumprimentarem, Sarah e Cathy estabelecem uma estranha relação psíquica, como se já se conhecessem.

Quando chega o tio Pete (Peter Spelson), todos à exceção de Cathy saem numa caçada, somente para Sarah sofrer um surto e sair gritando pela mata, atrapalhando o grupo e salvando um cervo, até encontrar um homem seriamente ferido no percurso. Esses episódios sensitivos da garota — lê-se chiliques — irão continuar por diversos momentos para testar a paciência do espectador: ao observar os quadros pintados em arte surreal no quarto, ao encontrar um baú que ninguém vê, com armaduras e uma espada de samurai… e serão acompanhados por Cathy, com tremedeiras nas mãos, como se não pudesse controlá-las. A primeira vítima oficial de um assassino com uma respiração ofegante acontece momentos depois, quando Pete tem problemas na estrada com o veículo, afetando Sarah em mais uma crise, como se sentisse cada morte.

Depois, o samurai irá visitar os vizinhos — sabe-se lá a razão disso —, matando Christie (Carol Wagner) com a espada, e perseguindo Paul (Franck Miley) até a casa de Cathy e Gary. Esses assassinatos, além de atormentarem Sarah e Cathy, chegam finalmente ao local, gerando fenômenos inexplicáveis como movimentação de móveis, objetos sendo atirados contra Gary, janelas batendo e uma áurea azul envolvendo a moradia. Os efeitos visuais são um show à parte: Cathy tem poderes com luzes avermelhadas nas mãos, e o assassino enxerga em tons azulados em flashes divertidos, cuja mistura deixa uma sensação psicodélica 3D. Como as atuações beiram o ridículo — ninguém era ator profissional —, há momentos hilários de olhos arregalados e tremedeiras como um pinscher, além de sequências improvisadas em que alguém encontra um corpo e nem sequer reage com espanto. Destaco o momento em que Paul salta por uma janela para fugir do assassino sobrenatural, exigindo que o próprio diretor fizesse o ato sobre uma verdadeira, sem aqueles vidros de açúcar, o que ocasionou ferimentos.
No primeiros quarenta minutos, quase nada acontece, além de conversas inúteis, uma partida de Banco Imobiliário e o estresse de Gary e Cathy. Quando o Samurai azulado entra em cena, a diversão é garantida. É divertido pensar que a família encontra o corpo de Paul destroçado na janela e depois vai dormir tranquilamente, incluindo Ted, que ainda resolve ter relações com Sarah. O Samurai, que aparentemente foi embora, parte para uma ação gratuita de assassinato de uns caçadores na mata, antes de retornar para mais alguns confrontos na manhã seguinte. Enquanto mata os homens, a cena é intercalada com o ato sexual, apenas para a garota gemer e gritar, provavelmente mais do que de costume.
Como se percebe, Sarah, com seu corte de cabelo “samurai“, usou seus poderes para invocar o espiríto de um guerreiro vingativo. Por qual motivo? Uma foto incediada e algo relacionada a uma irmã de Cathy parece ter a ver, mas não fica claro. Se nem mesmo o diretor, Zaphiratos, conseguiu entender seu filme, imagine nós, fãs de bagaceiras sem sentido. Como na região das filmagens havia cultivo de maconha, o cineasta confessou que estava sob efeito da drogas na realização de Blood Beat. Até mesmo o título escolhido refere-se à batida acelerada do coração quando se está chapado.
Blood Beat é uma pérola do cinema amador, com temática natalina. Feito com apenas US$150 mil dólares, tendo um elenco composto de amigos e conhecidos — até mesmo o produtor do filme é o pai do diretor — e fazendo uso de animais mortos reais, ainda assim pode ser que você encontre motivos para conhecer a obra. Ora, não é sempre que temos a oportunidade de ver o espírito de um assassino samurai atacar uma família, com poderes psíquicos, olhos arregalados e tremedeira.


























