O ano em que os jogos de terror nos salvaram dos horrores reais de 2020

4.2
(10)

Quando o ano de 2020 começou (pelo menos para o brasileiro médio) as expectativas já não eram boas, mas a verdade é que nunca imaginávamos que a situação poderia ser ainda pior. Praticamente ao viver uma adaptação do filme Contágio no mundo real, fomos pegos por uma pandemia que mudou o mundo como o vivíamos, instalou o maldito termo “novo normal”, nos obrigou a ficar em casa para evitar o espalhamento da contaminação e ainda não temos uma data em que poderemos dizer que estaremos livres disso (queremos vacina, mas tá difícil).

E claro, entre tantas amarguras, consumir cultura pop foi de longe a melhor coisa a se fazer. E agora a um click, com tantos streamings e serviços onlines disputando espaços mensais em nossos cartões de crédito. Mas até mesmo essa indústria sentiu seu baque. Centenas de filmes prontos e em produção foram adiados, séries idem, a música ficou praticamente limitada ao seu celular e as lives, mas, entre todos esses segmentos, os games conseguiram se destacar. Afinal, esse é um setor que já funciona por meio da individualidade de seus consumidores.

E a verdade é que mesmo entre adiamentos de projetos e denúncias de exploração de funcionários em grandes estúdios, 2020 foi um grande ano para o mundo dos jogos, não só pela boa safra de lançamentos, mas principalmente por não adiar a transição de geração, apresentando o PlayStation 5 e o Xbox Series, os novos robustos consoles que até mesmo são difíceis de serem comprados hoje em dia tamanho a demanda, além, claro, das novas, poderosas e caríssimas placas de vídeo que vão levar os jogos até mesmo para o 8k.

Mas e os jogos de terror?

Sim, foi um bom ano para eles. Tão bom, que enfrentar seres de mundos sombrios, monstros gosmentos, zumbis, sociedades apocalípticas e o próprio inferno foram opções excelentes para esquecer o que acontecia no mundo real.

UM COMEÇO EXPLOSIVO

O verdadeiro primeiro grande título dos jogos de terror deste ano é acima de tudo um jogo de ação desenfreada. O aguardado Doom Eternal é marcante, principalmente para os fãs do reboot de 2016. Na campanha, vamos de cara ao controle de Doom Slayer, o lendário destruidor de demônios, que do alto de sua fortaleza flutuante, observa do espaço uma Terra completamente devastada e dominada pelos seres do inferno. É hora de limpar os rastros das trevas do planeta com muita bala, variedade incrível de armas, novos recursos estratégicos e até mesmo uma história que incrivelmente funciona.

Ainda assim, o jogo de terror e ação mais esperado do ano definitivamente era outro. Com o sucesso absoluto do remake de Resident Evil 2 no ano anterior, Resident Evil 3 chegava cheio de expectativas. Mas embora não tenha feito feio, deu uma patinada. A premissa foi a mesma, onde no controle de Jill Valentine precisamos fugir da destruição zumbi da cidade de Raccoon City, tendo ainda o monstro Nemesis na nossa cola. Com gráficos lindos e bastante tenso, o remake de Resident Evil 3 é sim um baita jogo, mas que talvez tenha se fidelizado demais a seu original em aproveitamento do espaço possível e o curto tempo de duração, podendo ser completado pela primeira vez em menos de sete horas e com pouco fator replay (não vamos nem lembrar de Resistance aqui).

A FORÇA DOS NICHOS

Mas nem só de grandes franquias vivem os jogos de terror. Pequenas franquias, ainda que consolidadas com públicos específicos, também foram marcantes em 2020. E talvez o maior símbolo disso seja o lançamento de Amnesia: Rebirth. O jogo de terror e mistério foi muito bem recebido pela crítica e os fãs da aclamada série. Dessa vez, ele se passa em 1937, quase 100 anos após a fuga de Daniel do Castelo de Brennenburg no primeiro game. E temos a história de Tasi Trianon, uma desenhista industrial que se perde no deserto da Argélia após um acidente de avião. Mesmo com o retorno do sistema de sanidade, o jogo apostou em muita coisa nova e foi reconhecido principalmente pelo equilíbrio entre horror e história.

E ainda que com menos tempo de existência, Remothered chegou ao seu segundo jogo depois de uma estreia aclamada em 2017. Em Broken Porcelain, com o protagonismo dividido entre dois pontos de vista, o game segue a linha de estar preso numa grande casa, com a protagonista precisando se esconder para sobreviver e encontrar itens para avançar na fuga. Com uma mecânica mais dura, a tensão é frequente, mas de fato o enredo é um tanto mal construído em seu mistério, ainda que sua dedicada produção o torne sim um dos destaques de 2020.

A antologia The Dark Pictures Anthology também ganhou seu segundo episódio esse ano. Depois do sucesso considerável de Man of Medan, foi a vez de Little Hope. A fórmula segue a mesma apresentada ainda do clássico Until Dawn, com gráficos realistas e experiência de filme de terror, onde são as suas decisões que determinarão os resultados da narrativa. No jogo, quatro estudantes e um professor ficam presos na cidade abandonada de Little Hope. Encurralados por um nevoeiro impenetrável, eles tentam fugir desesperadamente enquanto têm visões horripilantes do passado enquanto tentam salvar suas almas do inferno. O alcance da franquia, que aposta em menos investimentos e consequentemente menor preço, tem sido tanto que até mesmo seu terceiro episódio já foi anunciado.

E claro, num ano em que o sucesso dos jogos online foram dominados por Fall Guys e Among Us, os jogos de terror também tiveram seu representante de peso nesse segmento. Phasmophobia tornou-se um imprevisível fenômeno no mundo multiplayer. Com download para PC, o jogo chegou a alcançar as primeiras colocações na plataforma de streaming Twitch e na loja digital Steam. O game dá aos participantes a missão de entrar em um local assombrado com um time de até quatro pessoas, com uma vibe de programa de TV sobre caçadores de fantasmas, para coletar evidências que comprovem a atividade paranormal no lugar. Obviamente, sobreviver ao fantasma é o objetivo.

E para quem é fã do terror psicológico, um dos maiores títulos de 2020 definitivamente foi o lançamento oficial de Visage. O jogo, que estava há dois anos em acesso antecipado, finalmente ganhou sua forma final. Com foco em exploração, environmental storytelling e investigação de eventos paranormais, ele é um sucessor espiritual da demo P.T., tendo momentos perturbadores e atraentes para os fãs do horror, nos colocando na pele de um detetive que durante uma investigação terá que lutar por sua sanidade mental.

MAS QUAL O MELHOR JOGO DE TERROR DE 2020?

Essa é fácil até demais de responder, porque, encaremos os fatos, nenhum outro jogo em 2020 teve tamanho reconhecimento. The Last of Us Part II vai além de um game, mas uma experiência que o transforma em uma verdadeira obra prima.

Continuação direta de um dos jogos mais aclamados da história, a superprodução apresenta tecnicamente o auge de uma geração, com gráficos e jogabilidade refinadas ao máximo da capacidade de um PlayStation 4. Mas é seu enredo que se destaca e nos cativa, hilariamente nos colocando dentro de um mundo onde a civilização deixou de existir por causa de uma pandemia.

Há uma mania de chamar alguns enredos de games bem construídos de cinematográficos. Eu mesmo faço isso. Mas com The Last of Us Part II é diferente. Sua trama é corajosa e visceral como poucas obras audiovisuais foram, repletos de dilemas morais e questionamentos sociais que causaram um verdadeiro alvoroço na comunidade gamer ao nos colocar no controle das tão bem construídas Ellie e Abby em suas jornadas de vingança travestidas de justiça.

Embora o jogo também levante uma forte discussão sobre os sombrios processos de produção de games AAA com exploração exagerada de seus colaboradores, um processo da indústria chamado crunch, seus méritos são inegáveis. É um jogo único e marcante, que transforma o horror de um mundo devastado e dividido em uma triste poesia.

Que 2021, ao menos no mundo dos games, consiga manter essa capacidade de nos fascinar pelo entretenimento.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

14 thoughts on “O ano em que os jogos de terror nos salvaram dos horrores reais de 2020

  • 18/01/2021 em 16:19
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    Caralho! Primeira treta pesadona q vejo no Boca! Kkkkkkkk.

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  • 18/01/2021 em 15:54
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    Grande jogos, apesar da pandemia, o horror conseguiu se manter forte no ano de 2020, e realmente The Last of us 2 conseguiu manter a qualidade que a Naughy Dog faz os jogos, eu realmente to nem ai pro que o pessoal fala, porque se alguém gostar, vai vim um individuo como o algumas pessoas aqui comentaram e falar que é manipulado pela mídia ( como se pessoas tivessem a obrigação de que ter o mesmo gosto desse pessoal), e o pior que não pode nem falar que gosta que eles já vem espernear ( como se uma pessoa aleatória da internet vim encher o saco ia mudar a opinião de alguém) e no final o jogo tá sendo um dos mais vendidos do play 4 tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo, não vai fazer diferença o que esse pessoal acha.

    Mas no geral concordo com o artigo, parabéns

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    • 18/01/2021 em 18:32
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      E no final, Raulzito falou, falou, falou apenas sobre mim. Mas e a qualidade do jogo? “Vendeu muito”. kkkk

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      • 18/01/2021 em 20:53
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        Eu não ia perder tempo para discutir sobre mas como o senhor pediu com educação vamos lá: pra começar eu não tava falando sobre você, tem que ser muito egocêntrico pra se achar tão importante assim. O jogo na parte técnica é praticamente primoroso com gráficos que só a Naughy Dog sabe fazer , eu praticamente não tive problema de bugs , ele pegou elementos da jogabilidade do 1 e deu melhorias principalmente na parte stealth(modo escuta) , que deixa o jogo muito mais tenso tanto com a trilha sonora foda quanto a ótima AI dos inimigos ( que estão bem mais inteligentes que 1 jogo) e ainda tem os cachorros que dão mais dificuldade, a parte de jogabilidade combina bem a fluidez da mecânica de jogar tanto com a Ellie quanto com Abby e o Joel, que tem aquela ação frenética principalmente no corpo a corpo , o cenário tá tão bom quanto 1 ( com muita mais vida e ações acontecendo) e consegue deixar imersivo naquele mundo pos apocalíptico, a história tem um grande mérito por principalmente não ir pro caminho mais fácil e fazer algo mais ousado ( como jogar com a ‘’ vilã’’ do jogo e poder mostrar o caminho traçado de loucura que tanto a abby como a ellie tem que superar nesse mundo, uma história em camadas, emocionalmente destruidora com uma exploração impressionante e matizada da força e fragilidade do espírito humano conseguindo deixar o jogo emocionalmente eficaz.

        Agora depois de dar uma opinião do jogo , você pare de ficar chorando só porque as pessoas gostaram do jogo , pq duvido muito se fosse um FIFA ou um Call of duty , você estaria atormentado tanto o pessoal só por causa de um jogo.

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        • 19/01/2021 em 06:47
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          “pra começar eu não tava falando sobre você, tem que ser muito egocêntrico pra se achar tão importante assim.”

          R: “vai vim um individuo como o algumas pessoas aqui comentaram e falar que é manipulado pela mídia ( como se pessoas tivessem a obrigação de que ter o mesmo gosto desse pessoal), e o pior que não pode nem falar que gosta que eles já vem espernear ( como se uma pessoa aleatória da internet vim encher o saco ia mudar a opinião de alguém)” – Mas não sou eu não, viu, gente?

          ” você pare de ficar chorando só porque as pessoas gostaram do jogo , pq duvido muito se fosse um FIFA ou um Call of duty , você estaria atormentado tanto o pessoal só por causa de um jogo.”

          R: Eu nunca vi fanzinho de CoD ou de FIFA dizer que é o melhor jogo do mundo, revolucionário, “cheio de camadas”. Agora, se o que vc gosta é de um filmezinho interativo, já que gosta de gráficos, e gosta de uma jogabilidade que qualquer Fallout ou Skyrim oferecia há quase uma década atrás, direito seu. Inclusive direito seu se achar um revolucionário mesmo seguindo mesma onda que toda a mídia segue. Agora será que pelo menos eu tenho direito de discordar e ter opinião? Sim ou nao?

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          • 21/01/2021 em 16:41
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            Sim , você continua sendo um egocêntrico , porque teve pessoas que já tinham comentado antes de você criticando o jogo e ainda tem várias pessoas ( incluindo os gringos) que usaram esse argumento bem antes, então baixa a bola ai

            Se você nunca viu fã de COD falar isso, isso significa que você nunca jogou o multiplayer do jogo ou entrou em algum fórum ou grupo de COD
            E filmezinho interativo , e o mesmo argumento que usam para falar de Metal Gear Solid: Phantom Pain ou God of War , então pra mim é um elogio, não sei se você sabe mas a jogabilidade usada é quase a mesma do 1 só que com melhorias ( ao menos que você ache o 1 ruim também , ai seu gosto para jogos é pior que eu imaginava) e também é a linha usada para os jogos que Sony distribui ( God of War , Ghost of Tsushima, Uncharted entre outros), além de que eu não falei em momento algum que ele era revolucionário, falei que era um excelente jogo, além que esse jogos que você citou são muito bons , e Skrim conseguiu trazer algo novo no gênero de RPG , mas são jogos bem diferentes do Last of Us, não tem nem comparação ( seria a mesma coisa que você falar que se for para escolher um jogo melhor que Watch Dogs , melhor escolher GTA que já faz isso a muito mais tempo , então esse negócio de comparar jogo anterior a jogo atuais é argumento já usado demais ( inclusive pela mídia), e isso que você chama de onda tem um nome : gênero de jogos ( sabe tipo jogo de luta , FPS, Futebol, etc….) e sim claro que você pode não gostar do jogo e discordar da opinião das pessoas, contato que saiba falar igual adulto e colocar seus pontos do porque você não gostou do jogo em vez de sair falando que o pessoal que gostou é manipulado ou sair ofendendo a pessoas, por que isso parece coisa que adolescente que odeia o jogo fala e nem tem os argumentos do porque que não gostou do jogo.

            Abraço

  • 16/01/2021 em 15:42
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    Típico “jogadorzinho” manipulado pela mídia. Consegue nem dizer o que o jogo tem de bom.
    E ainda censurou meu comentário. hehehe

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  • 13/01/2021 em 22:23
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    Como assim Last of Us 2 foi o jogo que mais teve reconhecimento do ano? Que nada, o jogo foi merecidamente massacrado pela maioria dos fans, o fato dele ter ganhado um número absurdo de prêmiozinhos e notas altissimas (a maioria comprada) não quer dizer nada. Aqui no Brasil, por ser um pais mais atrasado, o pessoal gostou mais, mas nos Estados Unidos o jogo foi universalmente criticado.

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    • 13/01/2021 em 23:17
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      Comprado foi seu rabo, vc como todo canalha deve ter se incomodado com a sexualidade da protagonista. O jogo sofreu o inverso de sua falacia, uma ruma de cabaço deu nota baixa no jogo apenas por birra. Esse jogo nao é para escrotos mentirosos, falsos e pessoas frageis com a propria maculinidade, como vc.

      Se manca e deixa de postar mentira

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      • 15/01/2021 em 21:36
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        Não seu imbecil, o problema não foi a sexualidade das duas e sim VÁRIAS coisas presentes no jogo, uma delas sendo a história lixo. Aliás esse papinho de perfil falso dando nota baixa não funciona mais, aceita que o jogo foi criticado (coisa que parece que esses gados fans do jogo nunca irão aceitar)

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      • 16/01/2021 em 09:43
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        Renanzinho sentiu. kkkk. Aposto o que for que nunca nem jogou. Só mais um garotinho manipulado.

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  • 13/01/2021 em 21:26
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    Não joguei RE3 na época do lançamento original, as críticas negativas me desmotivarm a jogar essa nova versão do jogo.

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    • 22/05/2021 em 17:37
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      Exatamente. Com tantas críticas e memes sobre, eu nem acompanhei o remake do RE3.
      Nem acho que deve estar tão ruim quanto falavam, mas simplesmente não me despertou interesse…
      Agora, o remake do RE2 esse sim vale e muito a pena foi maravilhoso.

      Aliás, mesmo não tendo acompanhado o RE3 original no lançamento, ainda vale apena jogar nos dias de hoje. Um clássico, uma obra prima da franquia.

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