Mr. Mercedes – 2ª Temporada (2018)

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Mr. Mercedes - Segunda Temporada
Original:Mr. Mercedes - Season Two
Ano:2018•País:EUA
Direção:Jack Bender, Laura Innes, Peter Weller
Roteiro:David E. Kelley, Sophie Owens-Bender, Mike Batistick, Bryan Goluboff, Alexis Deane, Samantha Stratton, Jonathan Shapiro
Produção:Samantha Stratton
Elenco:Brendan Gleeson, Harry Treadaway, Holland Taylor, Jharrel Jerome, Breeda Wool, Justine Lupe, Robert Stanton, Jack Huston, Scott Lawrence, Tessa Ferrer, Maximiliano Hernández, Nancy Travis, Robert Fortunato, Mike Starr, Tammy Arnold, Makayla Lysiak, Graeme Buffenbarger, Jonathan Havird

Um veículo assiste silenciosamente a movimentação na madrugada em frente ao que será uma feira de empregos. Ele avança sobre a multidão, ocasionando um cena grotesca de carnes e ossos esmagados, misturados com o asfalto, no pontapé inicial da trilogia Bill Hodges, sobre um detetive amargurado e o seu confronto com o assassino conhecido como Mr. Mercedes. Depois do primeiro livro, Mr. Mercedes, ele continuaria com Achados e Perdidos, com uma participação discreta do vilão Brady Hartsfield e terminaria no lançamento em 2016 de O Último Turno. Intrigante, embora convencional, a obra original seria levada às telinhas com a série Mr. Mercedes, de David E. Kelley, com mudanças interessantes, um elenco muito bem escolhido e uma trilha absolutamente perfeita. Se não fossem os tropeços do episódio final, nas mudanças que não serviram bem ao proposto, o produto poderia ser considerado uma das melhores adaptações de Stephen King.

Com boas críticas e 86% de aprovação pelos críticos, a série foi renovada para uma segunda temporada. Sabendo que o segundo livro traz uma aventura alternativa de Bill Hodges, Holly e Jerome, ainda que mostre as primeiras reações estranhas de Brady no hospital, era de se imaginar um caminho alternativo para a continuação. E ele realmente foi o melhor de todos: optou-se pelo enredo do terceiro livro, uma vez que este é totalmente relacionado ao assassino. Porém, apesar da boa ideia, bebeu-se bem pouco da fonte original, apresentando muitas liberdades criativas que, de certa forma, feriram as melhores possibilidades. Havia muito potencial ali, se soubessem dosar as diferenças e se dedicassem mais ao escrito.

No fim da primeira temporada, Bill Hodges (Brendan Gleeson), tal qual sua versão literária, sofreu um enfarte durante a tentativa de evitar que Brady (Harry Treadaway) cometesse um outro assassinato em massa. O vilão só não obteve êxito porque a esperta Holly (Justine Lupe) agiu com inteligência e violência, levando-o a um estado de coma, considerado irreversível. A nova temporada começa bem, ao mostrar o protagonista e seu inimigo sendo conduzidos ao hospital. Enquanto Bill se recupera bem e passa a visitar o assassino constantemente, este não apresenta qualquer reação ou perspectiva de retorno à consciência. No entanto, o neurocirurgião Felix Babineau (Jack Huston), sob a influência da esposa Cora (Tessa Ferrer), que trabalha em uma indústria farmacêutica, está disposto a testar uma nova droga no paciente, esperando assim a cura para diversas doenças mentais.

Como acontecia no segundo livro, Bill se une a Holly no desenvolvimento da agência Achados e Perdidos, que investiga desaparecimentos, incluindo de pessoas que se escondem da lei. Ainda mal humorado, carrancudo e irritado – e descontando na parceira -, sua sensibilidade deixa escapar algumas presas, numa versão diferente, mas bem aceita de seu personagem. Jerome (Jharrel Jerome) está de volta de Havard, sem perspectiva de retorno à universidade, alterando, inclusive, suas baixas notas para continuar impressionando seu pai. Logo nos primeiros movimentos da nova temporada, há uma grande mudança em relação ao texto original: o detetive Pete (Scott Lawrence) sofre um enfarte e morre, para desespero de Bill, abrindo espaço para as ações do promotor Antonio Montez (Maximiliano Hernández), em busca de seu primeiro e chamativo caso.

A droga começa a dar resultado. Em um recurso bem interessante, Brady é visto sob o prisma de sua consciência, no porão de sua antiga casa. Ali, ele assiste ao que acontece em seu quarto, e recebe a visita de algumas de suas vítimas, como seu irmão e o ex-chefe. Com a potencialização de seu cérebro, Brady consegue invadir a mente da enfermeira Sadie (Virginia Kull) – que constantemente é chamada de Mrs.Sadie para sonoramente aparentar Mercedes – e começa a agir pelo hospital, intrigando sua colega Wilmer (Tammy Arnold) e o próprio e desacreditado Bill. A cena em que Sadie está a frente de um veículo prestes a atropelar Bill é um dos pontos altos da temporada. Essa “invasão mental” acontecia também na obra, mas havia uma interessante conexão com as pessoas que sobreviveram à tragédia da feira de empregos, como se o assassino ainda estivesse agindo contra os sobreviventes.

Outro que também é hipnotizado para ações criminosas é o auxiliar do hospital, Al (Mike Starr), como acontece no livro. Ele é “possuído” quando utiliza o jogo dos peixinhos, e que é mencionado por Ida (Holland Taylor), que voltou a trabalhar na educação, como uma febre entre os jovens. Tal ideia, que traz um caráter apocalíptico no livro final, não se desenvolve nessa temporada, talvez com os realizadores já pensando na terceira. E há também como diferença a não influência de Babineau por Brady, que chegava a pedir a ajuda de Lou (Breeda Wool) para ampliar sua força dominadora em O Último Turno. Lou está abalada psicologicamente pelos acontecimentos finais, e luta contra sua própria consciência para tentar manter a sanidade.

Com essas mudanças – e outras que, se mencionadas aqui, poderiam estragar a surpresa do infernauta -, a segunda temporada se desenvolve como uma drama intrigante e bem menos suspense. Os episódios finais são bem diferentes do livro, apostando no nonsense de uma discussão de tribunal, do que para o melodrama das últimas páginas. Era claro que haveria algumas diferenças, como ocorre com todas as adaptações, mas as escolhidas para a série diferem completamente do que Stephen King fez em sua trilogia. E isso inclui a presença ativa da ex-esposa de Bill, Donna (Nancy Travis); a exclusão de Felix e Cora da sequência final; a pouca importância de Jerome e sua família.

Em contrapartida, é preciso enaltecer mais uma vez o aspecto técnico: a direção de Jack Bender, entre outros, e a trilha escolhida continuam muito bem afinadas. A sequência do suicídio de uma personagem em You Can Go Home Now é muito bem dirigida e traz o impacto perfeito de sua ação. As atuações de Harry Treadaway (em três camadas, é preciso enaltecer) e Justine Lupe são os destaques da temporada, embora é preciso elogiar o crescimento de Breeda Wool na série, partindo de uma grande amiga de Brady para uma pessoa vingativa e agressiva no avanço dos episódios.

Mesmo com as mudanças, a segunda temporada se encerrou de maneira bem fechada, podendo encerrar adequadamente a série. Contudo, uma nova temporada já foi anunciada, ainda com o título Mr.Mercedes, o que mostra que os realizadores poderão optar por dois caminhos: explorar o jogo dos peixes e um lado mais sobrenatural; ou apresentar os acontecimentos do segundo livro, que tem uma história que merecia uma boa adaptação. De qualquer modo, o veículo ainda continuará em movimento em agosto para mais vítimas, suicídios e mistério.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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