O Mito do Lobisomem

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Lobisomem

por Paulo Anibal G.Mesquita

Dentre todos os mitos que misturam aspectos anatômicos humanos e animais no mesmo personagem , certamente os “lobisomens” são os que mais “povoam” as profundezas da imaginação humana – são relatados em diversos países ao longo da história humana, principalmente à partir do fim da idade média. Um mito onde uma pessoa que no período de lua cheia transforma-se numa forma de vida peluda com garras e presas semelhante à um lobo ganhou grande impulso em produções cinematográficas nas últimas décadas, mas será que à biologia atual não está concebendo “lobisomens” com os organismos transgênicos? O que realmente pode acontecer no futuro com o uso indevido na combinação de DNA de diferentes espécies?

Desde o século 10 a.C. há referência sobre esse mito por um filósofo grego chamado Heródoto ao citar o “povo dos neuros“, onde as pessoas assumiam à aparência de um lobo todos os anos por durante alguns dias. Porém, foi Petronious, autor romano da peça teatral “Satyricon” no ano 5 a.C., que combinou o fenômeno astronômico da lua cheia com à transformação de um homem em lobo, mas foi um outro autor romano – Ovídio –, onde no ano 1 d.C. escreveu sobre o mito do rei Likaon, que teria desrespeitado o deus Júpiter ao lhe oferecer carne humana escondida num banquete e, então, Júpiter ao perceber à trama ficou extremamente furioso jogando uma maldição sobre Likaon transformando-o em um lobo, aí surgiu o termo “lykantropos“- aquele que vira lobo, onde esse termo também é usado posteriormente para designar uma doença, a licantropia.

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Em termos históricos, foi na idade média que os lobisomens ficaram mais conhecidos e ganharam um “status” maligno na sociedade. Só na França onde era chamado de “loup-garou“- entre os anos de 1520 e 1630, relataram-se 30.000 casos, talvez o mais famoso seja o caso de Pierre Bourgot, um pastor que foi julgado em 1521 por uma série de assassinatos brutais de mulheres jovens, onde o mesmo declarou que se auto-transformava em lobo. Isso só para evidenciar que no século XVI milhares de pessoas, acusadas de bruxaria e de serem lobisomens com práticas de canibalismo, foram condenadas pela à inquisição e mortas na fogueira, sendo que a grande maioria eram camponeses – isso provavelmente associado com os graves problemas sócio-econômicos e desigualdades sociais, além da pobreza e miséria as inúmeras doenças e fome salientavam ainda mais à paranoia de lobisomens.

Naquela época na França, qualquer pessoa que tivesse muito pelo no corpo todo, com sombrancelhas grossas que se fundem, com as palmas das mãos muito ásperas e calejadas e com grandes olhos arregalados podia ser acusado de ser um lobisomem pela inquisição e, posteriormente condenado à morte ou à severos castigos, onde os crimes com extrema crueldade eram julgados equivocadamente como práticas de lobisomem.

Em 1573, uma aldeia francesa nas proximidades de Dôle foi “palco de terror” das atrocidades de um grande lobo que matou e devorou parcialmente dezenas de crianças. Constatou-se que o mesmo animal tinha uma enorme semelhança facial com uma pessoa chamada Gilles Garnier, que. ao ser preso, confessou sob tortura que fizera pacto com um espírito maligno da floresta onde lhe dera um líquido que, aplicado ao corpo, transformava-o em um lobo – após o julgamento foi queimado vivo.

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Na região norte e nordeste brasileiro há muitas lendas envolvendo esse personagem em noites de luas cheia, marcante no folclore, inclusive com ataques à seres humanos; mas uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo, Joanópolis, possui tradição nos relatos de lobisomens. Como curiosidade, no sertão nordestino há à lenda do Labatut, um ser de andar bípede da altura de um homem, extremamente peludo, cabelos longos, pés arredondados, mãos compridas com garras, com apenas um olho na região da testa (ciclópico), audição apurada e presa enormes é considerado um “tipo” pior que o próprio lobisomem, de ação noturna e extremamente esfomeado atacando qualquer possível presa, inclusive o ser humano.

Além dos aspectos históricos citados, temos algumas manifestações de certas doenças que também podem ter originado o mito dos lobisomens, como a doença genética conhecida como Hipertricose, que causa um crescimento anormal e exagerado de peêlos por todo corpo de uma pessoa conferindo-lhe um aspecto animalesco e assustador. Porém, há uma outra doença chamada de Licantropia, ou seja, uma manifestação psicológica de comportamento “tipo lobisomem” , mas na realidade é uma doença mental e sob ação de drogas alucinógenas fazia seu usuário acreditar que podia mudar de forma, isso associado à vontade sádica de ingerir carne e de beber sangue, o que transformava essa pessoa em um monstro assassino.

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Provavelmente na idade média, o comportamento licantrópico atingiu grandes proporções, pois naquela época era muito comum o uso de ervas para fabricar porções relacionados com bruxaria, onde inclusive se utilizava sementes de papoula e de beladona, esta feita na forma pastosa, que, através da pele ou da ingestão, atinge à corrente sanguínea e afeta o SNC (Sistema Nervoso Central), causando sintomas como delírio, alucinações e agitação intensa; certamente muitas alucinações foram causadas pela ergotina, uma substância originada de um fungo da mesma família do LSD que contaminava o centeio do pão. Juntando tudo isso uma pessoa normal podia ter comportamento alterado de maneira agressiva repentinamente, ou seja, uma manifestação de licantropia.

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Não podemos esquecer que os lobos sempre estiveram presentes na cultura humana, inclusive com uma constelação no firmamento celeste; até a origem da cidade de Roma é mitologicamente atribuída à dois irmãos que foram amamentados e criados por uma loba, mas isso na realidade seria possível? Sim, pois em 1920 na Índia, duas meninas – Camala e Amata -, que foram criadas por lobos foram retiradas de uma gruta, onde comprovou-se que as mesmas sobreviveram se alimentando por carne fresca e andavam de quatro sob total influência de lobas. Será que os aspectos históricos e as doenças aqui citadas seriam realmente à explicação para a origem do mito do lobisomem? Ou será que muitas pessoas não focalizam nesse mito os mais profundos desejos comportamentais e sexuais reprimidos? Ou através do mito simplesmente não estamos mascarando nossos instintos animais? Será que à ciência, através da criação de seres transgênicos, não pode criar os atuais “lobisomens“? Seja como for aos lobos têm sobrado a fama de maus na atualidade, mas apenas são mamíferos da mesma “família” biológica dos cachorros, onde alguns dos quais já foram extintos pelo homem recentemente, como o “Lobo da Tasmânia” neste século.

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