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A trilogia de Ti West, que começou em 2022 com X e seguiu com Pearl em 2023, finalmente se encerra com MaXXXine, que estreou ontem nos cinemas brasileiros em sessões limitadas (o filme estreia oficialmente no dia 11, próxima quinta-feira). Ambientado na década de 1980, o filme acompanha a personagem interpretada por Mia Goth tentando emplacar na carreira de atriz em Los Angeles, ao mesmo tempo em que um serial killer faz vítimas na cidade.

Toda a trilogia X foi chegando de surpresa e, dias antes do filme chegar aos cinemas, o Boca do Inferno teve a oportunidade de conversar com o próprio Ti West sobre sua forma de trabalho, a colaboração com Mia Goth, as dificuldades de gravar em Los Angeles e mais! E podem ler sem medo porque não há spoilers de MaXXXine!

A história de Maxine e Pearl começou, na verdade, como um único filme, X, mas West pensou em aproveitar para gravar uma sequência na Nova Zelândia, usando a mesma locação. “Eu meio que brincando disse à A24: “Podemos chamar o primeiro de X e o segundo de XX. E depois podemos fazer um terceiro nos anos oitenta chamado XXX”. E eles poderiam ser, sabe, uma evolução do sistema de classificação pornográfica nos Estados Unidos. E então, cada um poderia ser mais exagerado que o anterior. E eu não estava falando particularmente sério sobre isso, mas estava sério sobre tentar fazer Pearl”, explicou o diretor.

West escreveu o segundo filme junto com Mia Goth durante a quarentena do covid-19 e os dois foram gravados consecutivamente. “E então a ideia do terceiro filme voltou, porque uma vez que tínhamos dois, era como, “bem, lembra quando eu falei sobre o terceiro filme? E se fizéssemos?” E a A24 basicamente disse: “Se as pessoas gostarem desses filmes, vamos considerar”. E então as pessoas gostaram. E eu comecei a escrever MaXXXine no final da pós-produção de Pearl, porque X já havia sido lançado e as pessoas estavam empolgadas com ele. E então, eles aprovaram o terceiro filme.”

Agora, com a trilogia encerrada, são bastante nítidas as semelhanças e diferenças entre eles, mas é inegável que cada um tem uma personalidade diferente, mesmo que tenham as mesmas duas protagonistas. West conta que “uma das ideias sobre esses três filmes é que eu queria que um dos elementos conectivos entre eles fosse o cinema e que cada um fosse um tipo diferente de cinema, e os personagens seriam afetados por um tipo diferente de cinema. Então, para mim, idealmente, quando você vê esses filmes, espero que goste dos três, mas mesmo que não goste, talvez goste mais de um do que dos outros.”

Apesar de ser uma trilogia, o diretor acha que cada filme também funciona individualmente: “Cada um está fazendo algo um pouco diferente e você não precisa ver os outros para apreciá-los. Enriquece a experiência se você viu os três, mas não é um requisito. E acho que eu teria ficado entediado se tivéssemos feito o mesmo filme, mas feito mais longo a cada vez. Então, para mim, era realmente sobre reinventar a vibe do filme, mas manter a personagem, os temas e o estilo de cinema como uma linha contínua e como algo que, espero, motive as pessoas a virem assistir.”

Agora, se os filmes podem ser assistidos separados, o fio que os conecta, Mia Goth, foi de extrema importância para que os três acontecessem, especialmente porque a atriz também trabalhou nos roteiros com West. “Quando conheci Mia pela primeira vez, perguntei: “Você quer interpretar esses dois papeis?” E ela ficou muito empolgada com isso, porque estava determinada a assumir a responsabilidade de ser a protagonista de um filme. E então fazer isso como duas personagens em um filme foi especialmente atraente para ela. E quando seguimos para fazer Pearl e ver essa personagem quando ela era mais jovem, foi outra oportunidade para ela evoluir como artista e também assumir um papel ainda mais importante, porque agora não era apenas um filme, não eram apenas duas personagens em um filme, era uma sequência.”

MaXXXine foi uma evolução desse processo dos dois filmes iniciais. West continua: “Era muito importante para ambos que não víssemos o mesmo lado de Maxine que vimos nos outros filmes. E acho que acabou sendo uma vitrine incrível para Mia, o que me beneficiou porque ela é muito talentosa. E também, ela foi a parceira perfeita porque estava tão dedicada a tudo o que estávamos tentando fazer. E acho que é isso que você procura em um colaborador: alguém disposto a dar tudo de si.”

O resultado dessa colaboração é algo muito bem-vindo no terror atual: “Sempre pensei que uma abordagem nova para o gênero seria ter Maxine como uma personagem que não fosse apenas mais uma vítima e não fosse apenas mais uma scream queen ou algo assim. Eu queria que ela tivesse autonomia e queria que todas as ameaças que ela enfrentasse no filme fossem ameaças reais e perigosas, mas também queria que ela fosse perigosa e capaz de se defender. E eu não queria fazer um filme em que a pessoa que a perseguia estivesse tropeçando e caindo o tempo todo. Eu queria fazer um filme onde ela lutasse de volta. E isso sempre me atraiu e sempre senti que elas não precisavam ser tão passivas e ainda poderiam ser as protagonistas.”

Ti West descreve Goth como uma presença única, que passou de intérprete de uma personagem a parte integrante do que os filmes são. “Quero dizer, não haveria trilogia sem ela. Não é como se outra atriz pudesse interpretar a personagem. Então, nós estamos muito ligados por causa disso. Em muitos aspectos, esses filmes existem por causa de mim, mas também existem igualmente por causa dela. E isso tem sido uma colaboração realmente incrível. É parte do que me orgulha tanto de fazer parte disso, porque pude ver a evolução dela e ela pôde ver a minha evolução.”

O diretor continua, elogiando a forma como Mia trabalha: “Ela é uma atriz muito imprevisível e destemida, então nunca se sabe ao certo o que você vai receber. Às vezes, algo no roteiro pode ser apenas interessante, mas ela o torna incrivelmente interessante. Quando estávamos fazendo Pearl, por exemplo, é uma coisa olhar para um longo monólogo no roteiro, mas é outra coisa assistir ela fazer e passar por todas as emoções dele. Isso realmente demonstra o quão talentosa ela é. Então, ter a oportunidade de fazer um filme com alguém tão talentoso como ela é algo de que sou muito grato por ter vivido.”

A trajetória de Maxine começou nos anos 70, quando foi gravar um filme pornô em uma fazenda e, depois de ver seus amigos serem assassinados, teve que enfrentar Pearl, uma idosa que ficou obcecada por ela. Mas desde o começo tudo o que Maxine queria era ser famosa, e essa busca prosseguiu até a década seguinte, agora em um lugar bem diferente. “Hollywood, que é tão glamoroso quanto qualquer outro lugar do mundo, mas também tem um lado mais obscuro e sórdido. É o auge não apenas dos filmes de Hollywood, mas dos filmes em VHS. E é o auge do consumismo e do excesso por toda parte. Eu apenas senti que, para uma personagem que tinha ambições de ser uma estrela, em muitos aspectos, é o lugar perfeito para ela estar porque é o lugar onde ela poderia realmente realizar esses sonhos. E no caso deste filme, ela tem essa oportunidade, mas algo do seu passado vai tirá-la. E ela é apenas uma personagem muito determinada e muito dedicada e não iria deixar nada fazer isso. Acho que de muitas maneiras, é onde ela sempre quis estar.”, explica o diretor.

E, se o resultado de cada filme é diferente do outro, a forma de fazê-los também foi, especialmente quando se muda da fazenda para a cidade grande. “Logisticamente, tudo foi bastante difícil. Tentar controlar a Hollywood Boulevard é muito, muito difícil. Então, mesmo que estivéssemos filmando uma cena bem simples, pode ser apenas ela saindo de um carro e andando até uma porta. Fazer o tráfego fluir e transformar toda a Hollywood Boulevard nos anos 80 e impedir que seja, sabe, o que é atualmente, isso foi bem difícil. E, em geral, este filme foi muito ambicioso. Então, houve muitas cenas que foram difíceis de produzir. Mas do ponto de vista puramente criativo, não houve nada tão difícil. Foi apenas a logística deste filme.”

West prossegue, comparando a experiência de MaXXXine com a dos filmes anteriores: “Eu passei de dois filmes muito contidos, onde estávamos no mesmo lugar todos os dias, onde se você quisesse melhorar algo ou refazer algo, podia fazer isso e podia ensaiar no local. Você podia ver no que o departamento de arte estava trabalhando porque eles estavam lá todos os dias. [Em MaXXXine] estávamos praticamente em um lugar diferente todos os dias em uma cidade metropolitana muito movimentada, tentando transformá-la nos anos 80 e, em seguida, tentando fazer um filme. Então, foi realmente um processo difícil.”

O diretor finalizou a primeira parte da entrevista falando um pouco mais sobre seu próprio processo junto com o elenco e a equipe, comentando que não costuma pedir que os atores vejam filmes específicos para se preparar para seus papeis. “O processo de cada ator é muito diferente. Se eles querem ver filmes da era porque não estão familiarizadas, ou querem saber mais ou menos a vibe do que estou pensando, então fico feliz em dizer: “Ei, você já viu isso? Você já viu aquilo?” Mas eu realmente não faço isso.” Para a equipe a coisa muda um pouco: “Acho que, para a equipe, às vezes direi algo como: “Você já viu este filme? Talvez assista porque se passa na mesma época ou está fazendo movimentos de câmera semelhantes aos que faremos, e coisas assim.” E isso é útil para as pessoas que estão do lado técnico, para não serem surpreendidas pelo que estamos fazendo.”

Ti West ainda comentou sobre suas cenas favoritas na trilogia, como seria Maxine se sua história se passasse nos dias atuais, planos para o futuro e mais! Mas nós continuamos essa conversa na semana que vem. Até lá!

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