Desde que O Massacre da Serra Elétrica, dirigido em 1974 por Tobe Hooper, ganhou sua versão em 4K que os fãs da obra sonham com a oportunidade de assistir a este clássico do terror em uma tela de cinema. E em comemoração aos 40 anos da película, esta nova cópia começou a circular em festivais, como o de Cannes, e exibições comemorativas. Recentemente o filme foi exibido no VII Festival Janela Internacional de Cinema, que acontece na cidade de Recife no final do mês de outubro e o Boca do Inferno esteve presente nesta mostra histórica.
Antes de apresentar os detalhes da exibição, é bom entender o porque de tanto barulho entorno de filmes em 4k. Em 2006 os grandes estúdios começaram a testar uma tecnologia de captação de imagens digitais chamada 2K. Esse sistema contempla uma resolução de 2048×1080 pixels. Para se ter ideia, é uma resolução levemente superior a da HDTV que exibe imagens em 1920×1080 pixels. A tecnologia 4K propõe algo bem acima e com ela, a resolução de captação e de exibição salta para impressionantes 4096×2160 pixels de resolução – definição cinco vezes maior do que a melhor das telas de cinema em 2K. Isso significa a compressão de 8 milhões de pixels em uma única imagem e, claro, a possibilidade de telas ainda mais amplas sem que haja algum tipo de perda visível na resolução das imagens.
Para quem não conhece a história, O Massacre mostra um grupo de cinco amigos em viagem ao Texas. Com pouca gasolina, eles vão pedir ajuda em uma casa isolada e são atacados por um louco com uma motosserra conhecido como Leatherface (Gunnar Hansen). Logo os quatro são mortos e sobra para a mocinha Sally (Marilyn Burns) ser perseguida, presa, torturada e espancada por Leatherface e sua família até um dos finais mais memoráveis de obras do gênero.
É possível acreditar que boa parte do público presente no festival já havia assistido ao filme e o resultado foi realmente impressionante. Em primeiro lugar, é necessário destacar que existe uma grande diferença de assistir uma obra fílmica em uma tela de TV e em uma tela de cinema. Na grande sala escura, a imersão parece muito maior. O que se viu após a narração tétrica de introdução foi um Massacre da Serra Elétrica limpo e claro com uma riqueza de detalhes de deixar o público presente de boca aberta.
Quem conhece a obra original provavelmente se lembra que algumas sequências são bastante escuras como quando Sally está fugindo de Leatherface. É claro que tratam-se de cenas noturnas e que precisam ser escuras dentro de uma narrativa fílmica. O problema é que algumas cópias em DVD eram realmente muito escuras não apenas nestas partes mas em cenas passadas em ambientes fechados como dentro de casas mesmo durante o dia chegando a dificultar a compreensão do que estava acontecendo.
Pela primeira vez é possível ver a morte de Kirk (William Vail) de forma clara. A força do golpe de Leatherface é tão forte que o corpo do rapaz gira no momento em que é atingido. Aqui é um dos pontos fortes do filme onde as vítimas não são assassinadas, mas abatidas como animais. Além disso, detalhes da própria casa que sempre pareciam escondidos nas sombras tornam-se visíveis. A própria perseguição de Sally tem um aspecto real, embora algumas imagens mais escuras permaneçam granuladas, porém visíveis.
Mas não é apenas a tela da uma sala de exibição que faz a diferença na hora de ver um filme querido. O som de O Massacre da Serra Elétrica nunca foi tão importante para a narrativa fílmica. Não apenas o barulho da motosserra ou os gritos de Sally, mas todos os efeitos sonoros e desenhos de som da obra incluindo os clássicos flahses das fotografias feitas no começo do filme ou barulhos de quando Sally era espancada.
Aliás, parece que o sofrimento da mocinha consegue ser acentuado ainda mais na versão em 4k do filme. Como é possível ver mais e escutar mais, é quase geral o sentimento de pena para que o sofrimento de Sally termine logo. Mas em um filme com o título O Massacre da Serra Elétrica, é irreal querer que o diretor pegue leve e assim vamos acompanhando o drama sem fim de Sally, que é apelidada por alguns fãs de a “imorrível” tamanho o sofrimento da moça.
O Massacre soa tão imponente e distante de um final feliz, e, em uma tela de cinema, este pessimismo é ainda maior. Pela primeira vez parece claro o porque de Leatherface não morrer ao final do filme. Ao conseguir fugir da família louca, Sally começa a rir de forma histérica. Ali não era necessário matar o monstro, como o gênero tanto prega. A salvação vem na forma de fuga. E Leatherface fica na estrada para depois provavelmente voltar para sua casa. A partir de então, as vizinhanças e pequenas cidades não eram mais lugares seguros. Sally jamais esqueceria o que passou naquela noite e o cinema de terror também não assim como seu público. E 40 anos depois, o Massacre da Serra Elétrica nunca se mostrou tão contemporâneo.
Este é um filme angustiante e desesperançoso. Assisti pela 1ª vez no saudoso VHS. E também pensei como voce escreveu, como seria a sensação de assistí-lo na tela grande junto a outras pessoas. Se em casa já foi assustador imagine na sala do cinema?