Ataque ao Prédio (2011)

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Ataque ao Prédio
Original:Attack the Block
Ano:2011•País:UK, França
Direção:Joe Cornish
Roteiro:Joe Cornish
Produção:Nira Park, James Wilson
Elenco:John Boyega, Jodie Whittaker, Alex Esmail, Leeon Jones, Luke Treadaway, Flaminia Cinque, Nick Frost, Adam Buxton, Karl Collins, Joey Ansah

Antes da onda terror teen aflorar na América e todos culparem a franquia Pânico, eram comuns produções protagonizadas por crianças e adolescentes em aventuras de ficção científica, comédia e terror light. Nesse período, que teve seu ápice na década de 80, as sessões em família tinham como palco filmes como Os Goonies, Uma Noite de Aventuras, Os Garotos Perdidos, Conta Comigo, E.T. – O Extraterrestre, Sem Licença para Dirigir, O Enigma da Pirâmide, O Último Guerreiro das Estrelas, Viagem ao Mundo dos Sonhos, Viva! A Babá Morreu!, entre outros. Todas elas eram bem-humoradas, sem deixar de lado questões relevantes para o amadurecimento dos pequenos, com mensagens sobre a importância da família e dos amigos, a morte, a realização de sonhos, a descoberta do sexo oposto, a fantasia…

Foi com esse espírito saudosista que conferi obras divertidas lançadas em 2011 como Super 8 e este Ataque ao Prédio, dirigido e roteirizado por Joe Cornish. A proposta assumida é exatamente conduzir o espectador para a infância, quando andar de bicicleta e enfrentar perigos era parte da rotina de aventuras. Cornish também disse que se inspirou em sua própria experiência quando foi assaltado por crianças, tão assustadas quanto ele, e resolveu pesquisar suas vidas para saber o que os levou a uma atitude tão drástica.

Na trama simples de Ataque ao Prédio, um gangue de crianças tenta proteger seu quarteirão de um ataque de alienígenas. A enfermeira estagiária Sam (Jodie Whittaker, de Um Dia) é surpreendida pelo grupo quando voltava para casa. Os meninos, liderados por Moses (John Boyega, um mini Denzel Washington), agem até com um certo grau de violência no assalto, tendo apenas como distração a queda de um meteorito sobre um carro atrás deles. Ao averiguar, encontram uma pequena criatura, cheia de dentes e muita agilidade, que foge até um barraco próximo, onde acaba sendo morta num confronto com a turma toda.

Exibindo o monstrinho, e imaginando os lucros com a captura, os jovens retornam ao prédio onde moram, local onde alguns se drogam e outros apenas cantam seus raps. No entanto, novos meteoritos caem nas proximidades, exigindo que o grupo inicie uma batalha violenta, mudando a postura de vilões, vítimas do sistema, para os heróis da vizinhança. Mas, desta vez, os monstros são maiores e mais agressivos.

Alienígena-gorila-lobo é uma das definições dadas pelos jovens para a criatura sem olhos, coberta de pelos e com uma dentição fluorescente – com ótimos efeitos especiais, num CGI bem disfarçado e eficiente, realizado por uma equipe talentosa com nomes como Paul Hyett (Abismo do Medo, Juízo Final…). O que parece ser apenas um ataque pelo domínio do Planeta depois se transforma numa missão de resgate pelo filhote que caiu na sequência inicial. Eles farejam o sangue de seus semelhantes e atacam quando se sentem ameaçados.

Entre os moradores do edifício, há um rosto conhecido do humor inglês: Nick Frost (Todo Mundo Quase Morto) interpreta Ron, um traficante bem-humorado que não mexe um músculo para salvar o bairro, mas sempre distribui suas pérolas, como na definição dada ao filhote: Deve ter ocorrido uma festa no zoológico e o peixe comeu o macaco. Ele trabalha para o chefe da região, o violento Hi-Hatz (Jumayn Hunter, de Eden Lake, 2008), que não hesita em mostrar suas armas para impor domínio sobre os demais. No entanto, os verdadeiros vilões de Attack the Block acabam sendo os policiais, que agem com preconceito e não entendem a natureza complicada dos jovens, como na ótima sequência final.

Aliás, o longa é repleto de mensagens positivas, mesmo tendo esses fucking heroes como salvadores da Terra, intercalando a violência das drogas e dos assaltos, com a preocupação com o próximo e a falsa imagem que escondem de seus familiares. Enquanto tentam provar que são malvadões, não deixam de telefonar para a mãe e avisar que chegarão tarde em casa ou até mesmo disfarçar seu lado humano pelo domínio do grupo. Mesmo assim ainda transparece obviedade ao culpar o sistema ou dizer que fazem isso porque não lhes foram dadas outras alternativas. Nem sempre é assim.

Por outro, não deixa de ser divertido coletar as inúmeras referências ao mundo dos jovens com citações a Pokemon, Os Caça-Fantasmas, Gremlins, Gears of War, Fifa, além das gírias difíceis de traduzir e os raps que fazem alusão às armas e à violência. Torna-se um passatempo interessante ao passo que aproxima o público dos personagens, dando-os humanidade.

Não há muitas cenas violentas, porém é preciso comemorar que o lado ingênuo é colocado de lado com as mortes que acontecem o tempo todo. Realmente é possível se preocupar com a vida do grupo diante de inimigos tão ágeis e cruéis, em bom número, sedentos para rasgar a carne dos humanos, sejam eles crianças ou adolescentes, marginais ou policiais.

Embora seja divertido e bem feitinho, Ataque ao Prédio ficou um pouco distante dos anos 80, um de seus objetivos, mas, ainda assim, não pode ser apontado como um defeito. A simplicidade dos protagonistas cativava mais facilmente o público naquela época, com heróis-mirins politicamente corretos e finais felizes. Um período em que os pequenos se divertiam com as bicicletas que voavam e os alienígenas que apenas queriam voltar para casa…bons tempos!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

7 thoughts on “Ataque ao Prédio (2011)

  • 09/01/2023 em 23:42
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    “Vítimas do sistema, policiais vilões”. A resenha é mais divertida que o filme .

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  • 26/06/2016 em 22:20
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    pode assistir sem pretensao nenhuma que da para passar se divertindo legal.

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  • 29/05/2016 em 01:23
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    Decepcionante. Até tinha potencial para ser bom, mas a parte cômica não funciona e os aliens também não são muito ameaçadores. E não digo pelas mortes, mas pela própria aparência das criaturas. No final, acabou ficando no meio do caminho entre comédia, aventura e terror- não sendo totalmente satisfatório em nenhum dos gêneros. Também tem o Nick Frost batendo o cartão de ponto e só.

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  • 18/07/2013 em 15:15
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    Gostei muito! O anti-herói é mesmo a cara do Denzel Washington e os aliens são simples, porém assustadores. Acho uma pena que o grande público não conheça esse filme, que figura entre os melhores que assisti nos últimos tempos.

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  • 21/03/2013 em 02:05
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    Assiti esse filme e realmente me surpreendi mto bom,claro não se compara aos filmes dos anos 80 mas com certeza diverti.

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