Terra dos Lobos (2010)

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Terra dos Lobos
Original:Wolf Town
Ano:2010•País:EUA
Direção:John Rebel
Roteiro:Paul Hart-Wilden, Asabi Lee, Roel Reiné
Produção:Roel Reiné, Paul Hart-Wilden, Klaus von Sayn-Wittgenstein
Elenco:Levi Fiehler, Alicia Ziegler, Josh Kelly, Max Adler

Quando o homem entra em conflito com a natureza, surgem produções clássicas como Tubarão, de Steven Spielberg, Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, Orca, a Baleia Assassina, de Michael Anderson, além de todas aquelas pérolas das décadas de 50 e 60, quando o medo de uma guerra nuclear gerava encontros ingênuos com criaturas gigantes. Dentro desse subgênero, pode-se criar uma ramificação para filmes que envolvem o confronto com lobos, esses animais que inspiraram a criação dos lobisomens e, de acordo com sua natureza, raramente atacam os humanos. Nesta categoria também existem produções excelentes (Lobos aka Wolfen), interessantes (Pânico na Neve), boas (como o injustamente desconhecido The Canyon), a recente A Perseguição (The Grey) e tranqueiras como Terra dos Lobos (Wolf Town, 2010), dirigido porcamente por John Rebel (Perseguidos aka Bear, 2010), a partir de um roteiro co-escrito por Paul Hart-Wilden (Alone, 2002) e Asabi Lee, baseado numa história de Roel Reiné (também cometeu Perseguidos e outras porcarias).

Terra dos Lobos faz parte daqueles filmes que você percebe que é ruim em menos de dois minutos de exibição, quando cenas mal dirigidas e atuações ruins já incentivam o espectador a pensar se não vale a pena apertar o stop do controle para fazer algo melhor na vida. Se a produção foi alugada, só resta lamentar pelo investimento ruim e inventar uma desculpa para tal feito: Aluguei para fazer um trabalho na faculdade sobre roteiros mal desenvolvidos…. Agora, se você faz parte de um site de terror, não resta outra alternativa do que sobreviver aos 90 minutos para escrever uma resenha de alerta aos desavisados.

Logo na sequência de abertura, o espectador é surpreendido por um acontecimento no Velho Oeste – extremamente mal conduzido e mal representado num figurino óbvio -, época em que a cidade Paraíso passou a sofrer ataques de uma alcateia. Embora a narração diga que os lobos atacavam à noite, são cenas matutinas que tentam mostrar o confronto – sem mostrar uma criatura sequer. A propósito, se você dormir durante o prólogo, não se preocupe, pois ele será repetido mais tarde, incluindo a narração e as cenas do século XIX. Ainda sobre a introdução, ela diz que os lobos acabaram com TODA a população do local (!!!), ou seja, as armas de fogo e a proteção das moradias não foram suficientes para evitar a tragédia, algo que os jovens protagonistas conseguiriam mais de cem anos depois!

Por falar neles, os personagens da trama são quatro, cuja motivação é conhecer a tal cidade fantasma, seja para explorá-la geograficamente, seja para usá-la como pretexto para a aproximação de Kyle (Levi Fiehler, de Puppet Master: Axis of Evil) com a garota sem sal Jess (Alicia Ziegler, de Pânico no Lago 2). Para isso, leva a tiracolo o gordinho reclamão Ben (Max Adler, de Detention of the Dead), sem saber que a mulher dos seus sonhos irá acompanhada do namorado Rob (Josh Kelly, de Transformers: O Lado Oculto da Lua). Este, que deveria ser apenas o antagonista, revela-se o melhor personagem do filme, com sua coragem e atos que mantem o grupo vivo por mais tempo.

A montagem e a direção são tão ruins que a cena da viagem não consegue transmitir a distância sugerida. Além de utilizar uma música que remete a comédias light, a sequência é rápida, com diálogos vazios, deixando a impressão de que eles não foram muito longe. Ao chegar ao local pretendido, o grupo encontra uma mina abandonada e alguns objetos da época, mas o gordinho idiota – que aguentou uma viagem de várias horas num carro – não consegue ver nada interessante, mantendo suas reclamações e até pedindo para ir embora! E – pasmem! – estamos apenas nos dez minutos iniciais!!

O nível continua caindo, quando Kyle é surpreendido por um lobo. Com as tomadas fechadas, é evidente que o animal não está no mesmo local que o rapaz, mesmo com suas caretas que evidenciam uma provocação artificial. Sem ser atacado, ele retorna ao grupo e faz o alerta, mas é desacreditado por não saber a diferença entre um coiote e um lobo. E daí? Por acaso, a hostilidade do animal seria diferente?

Mesmo com uma cidade antiga à disposição para pesquisas e exploração, o gordinho idiota acha tudo maçante e prefere dar uma volta pelo mato sozinho. Ora, andar por um parque entre árvores deve ser realmente bem melhor do que conhecer um local que fez parte da História! É claro que essa é uma desculpa para o rapaz ser atacado por um lobo – numa cena risível, diga-se de passagem -, levar umas mordidas (o animal só queria ver se a carne não era de segunda), e voltar para pedir ajuda para o grupo.

Pensem neles como cachorros., diz Rob, esquecendo de que a comparação não ajuda muito, desde o momento em que eles são inimigos. Com esse pensamento, o grupo tenta encontrar um meio de fugir da cidade, principalmente com a chegada de outros lobos. Em cena, são vistos juntos apenas quatro exemplares, repetindo os animais para poupar coadjuvantes. Sempre com filmagens que isolam os animais do contato com os jovens para mostrar o quanto eles nem foram treinados adequadamente, a tensão nunca chega a atingir o espectador, em contínuas cochiladas.

Enquanto fogem de uma casa para outra da velha cidade, Kyle, aos poucos, vai revelando sua covardia, ao passo que Rob se mostra disposto a enfrentar a situação – uma decisão que evidencia o carisma do ator. Embora Rob seja despropositadamente mais interessante para o filme, o roteiro quer fazer de Kyle o herói, a ponto de fazê-lo enfrentar seu medo de cães (!!!) para salvar a situação. Por outro lado Rob resolve começar a agir de forma tola, como na cena em que ele foge do esconderijo e encontra uma caixa de dinamites, mas traz APENAS UMA.

É impressionante como nesses filmes de terror alguém se machuca gravemente e alguns minutos depois esquece da ferida para dar risada e lembrar dos velhos tempos. Aqui quem faz esse papel é a insossa Jess, cuja perna rasgada por um lobo não fora suficiente para evitar que ela apresente uma possibilidade futura para um relacionamento com Kyle e mais tarde até corra pela cidade! E é óbvio que alguns lobos irão fazer o favor de juntar os pombinhos para o roteiro esboçar um final feliz.

Por essas e inúmeras outras, passe longe de Terra dos Lobos. Há lugares mais interessantes na sua locadora, mesmo que sejam em outras seções, outros gêneros. Veja até Cães Assassinos, Ratos em Nova Iorque ou Serpentes a Bordo…animais que foram muito mais bem tratados do que os deste filme de John Rebel.

Em tempo: a tagline original do filme é Hungry, Vicious, Deadly e a distribuidora brasileira traduziu como Viciados, Famintos, Mortais. O termo em inglês vicious é um falso cognato e devia ser traduzido como ferozes ou até perversos , jamais viciados.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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