Sexta-Feira 13 – Parte 4: O Capítulo Final (1984)

4.3
(3)

Sexta-Feira 13: Parte 4 – O Capítulo Final
Original:Friday the 13th: The Final Chapter
Ano:1984•País:EUA
Direção:Joseph Zito
Roteiro:Barney Cohen
Produção:Frank Mancuso Jr.
Elenco:Kimberly Beck, Corey Feldman, Erich Anderson e Crispin Glover

(o texto abaixo contém SPOILERS, revelações importantes sobre o enredo!)

A terceira sequência do mais emblemático dos slashers aposta na fórmula certeira que sempre garantiu, não apenas o sucesso da franquia, mas também a plena satisfação dos admiradores do icônico serial killer Jason Vorhess, ou seja, mortes criativas e violentas distribuídas num roteiro raso. Poderíamos até dizer que Sexta-Feira 13: Parte 4 – O Capítulo Final – desnecessário comentar sobre o sarcástico final presente no subtítulo, o mais desavisado dos leitores sabe que a série sempre foi símbolo de longevidade (até agora foram 12 filmes oficiais, contando o remake de 2009 e o crossover Freddy vs Jason, de 2003) – encerra com méritos o que seria o melhor momento da série: a fase inicial, composta pelas primeiras produções lançadas entre 1980 e 1984.

O mais rentável dos quatro filmes iniciais (custou U$ 1,8 milhões e rendeu quase vinte vezes o valor, cerca de U$ 33 mi), Sexta-Feira 13 – O Capítulo Final, também não arrisca na concepção dos personagens; a maioria das vítimas é formada pelo estereótipo jovem-em-busca-de-sexo. Se bem que o roteirista Barney Cohen inseriu na trama um caçador misterioso chamado Rob Dier, que estaria tentando vingar a morte da irmã assassinada por Jason no segundo filme. O problema é que o “capítulo final” se passa exatamente dois dias depois de Sexta-Feira 13 Parte II. É difícil aceitar que em menos de 48 horas o rapaz tenha sido informado da morte da irmã, se armado e planejado uma vingança contra um assassino em série que teria matado duas dezenas de jovens em apenas 2 dias. Se bem que o próprio roteiro faz questão de esquecer de Rob, dando-lhe um final medíocre. Enquanto é perfurado por uma dúzia de facadas, sussurra suas últimas e memoráveis palavras: – Socorro, ele está me matando…

Apesar dos diálogos sofríveis e personagens com pouco carisma (o que os tornam simplesmente descartáveis para o público), o elenco traz alguns nomes razoavelmente conhecidos, como Crispin Glover (A Vingança de Willard, 2003) interpretando o tímido e desengonçado Jimmy Mortimer, vítima fácil de Jason após levar uma bela garota para cama (sim, o assassino continua seguindo a cartilha transou-morreu); o ator Lawrence Monoson, conhecido na década de 80 pelo seu papel em O Último Americano Virgem (1982), vive o galã conquistador da turma; porém quem se destaca é o futuro astro mirim Corey Feldman – que participaria nos próximos anos de sucessos como Os Goonies (1985), Conta Comigo (1986) e Garotos Perdidos (1987) – vivendo pela primeira vez o garoto Tommy Jarvis, um aficionado por maquiagem e máscaras de filmes de terror.

Quem assumiu a direção desta quarta parte de Sexta-Feira 13 foi o cineasta Joseph Zito, que trazia em seu currículo outro slasher bem interessante, Quem Matou Rosemary? (The Prowler), de 1981. No entanto, Zito também seria responsabilizado num futuro muito próximo por pérolas como Braddock – O Super Comando (Missing in Action, 1984) e Invasão dos Estados Unidos (Invasion USA, 1985), ambas as produções estreladas pelo imortal Chuck Norris. O trabalho do diretor em Sexta-Feira 13: – O Capítulo Final é extremamente preguiçoso – não notamos em nenhum momento qualquer tipo de esforço, mínimo que seja, para criar algum suspense. As mortes simplesmente acontecem.

A boa surpresa fica para o retorno de Tom Savini aos efeitos especiais e à maquiagem – foi seu brilhante trabalho que assegurou parte do êxito conseguido pelo primeiro capítulo da franquia. E novamente, a perfeição e a técnica de Savini garantiria o realismo (e o sangue, é claro) nas sequências de morte. Savini ficou famoso pela parceria que manteve durante muito tempo com George Romero: ele é o responsável pela maquiagem de, entre outros longas, Despertar dos Mortos (1978), Dia dos Mortos (1985) e Dois Olhos Satânicos (1990). Savini chegou a anunciar sua aposentadoria em 2002 – seu último trabalho seria a biografia do serial killer Ted Bundy, lançada no mesmo ano. Felizmente, uma década depois, Savini retornaria como o supervisor de efeitos de maquiagem na produção de horror Redd Inc. (2012). Curiosamente, Sexta-Feira 13: Parte 4 presta uma pequena homenagem a Savini com o personagem Tommy, que além de aficionado por efeitos/maquiagem de filmes de horror, tem o quarto inteiramente decorado por diversas máscaras e artefatos criados pelo Savini.

Antes dos créditos iniciais temos um prólogo (que reaproveita uma cena da parte 2) em que um personagem chamado Paul narra, ao redor de uma fogueira, a história de Jason Vorhess – é mostrada então uma montagem com diversas mortes acontecidas nos filmes anteriores. É irônico que, assim como as duas continuações anteriores, Sexta-Feira 13: Parte 4 comece exatamente onde o filme anterior terminou – sugerindo que os roteiristas/produtores se preocupam de algum modo com a cronologia da série. No entanto, embora as três continuações supostamente se passem em três dias consecutivos, notamos furos gigantesco no enredo quando visto como um único. Os dois mais incômodos são o próprio personagem Jason, que tem a aparência diferente (neste último ele perde a corcunda) em cada filme; e a própria ineficiência da polícia local, que parece não ligar para mais de 20 mortes ocorridas na região do lago e continua insistindo em não isolar o local, não chamar o FBI, não investigar…

No primeiro filme, como todos sabem, o assassino é a Sra. Pamela Vorhess, mãe de Jason. O capítulo 2 é o primeiro em que Jason sai de seu esconderijo na floresta e começa a matar os jovens ao redor do lago; e ele usa um saco na cabeça. A máscara de hockey só começa a ser usada na terceira parte. Até então uma dúvida ainda pairava no ar e era motivo de discussão: estaria Jason vivo ou morto? Seria ele um morto-vivo? O processo de zumbificação de Jason é confirmado apenas neste Capítulo Final. Comprovando que Jason realmente havia morrido no terceiro filme, a polícia encontra o seu corpo no celeiro, com um machado ainda cravado em seu crânio. O corpo é então levado para o necrotério (com máscara e tudo!), onde pouco depois acaba ressuscitando e matando um casal de jovens enfermeiros que “quase” transaram. Aliás, um ponto positivo neste episódio é a sexualidade mais assumida – não apenas peitos, mas bundas aparecem por diversas vezes, fazendo a alegria do público masculino.

Ignorando a pobreza de espírito já citada dos personagens, que continuam insistindo em se arriscar a nadar pelados num lago no meio da noite ou a andar sozinho em lugares desertos e esquecendo os furos e a falta de ritmo do roteiro, Sexta-Feira 13: Parte 4 surpreende com um desfecho bem mais elaborado que o dos seus antecessores: Tommy e sua irmã, Trish, estão encurralados por Jason em casa, quando o garoto tem uma ideia tão magnífica quanto maluca: ele raspa a cabeça, deixando apenas alguns tufos de cabelo. Tommy quer se passar pelo próprio Jason quando criança. O plano dá certo, e enquanto Jason permanece imóvel observando o garoto, a irmã acerta-lhe a cabeça com um facão. O assassino cai, fazendo com que a arma penetre ainda mais em seu rosto deformado, já sem a máscara. O cadáver de Jason jaz imóvel no chão. Enquanto irmão e irmã se abraçam aliviados, Jason ameaça uma nova ressurreição. Rapidamente Tommy acerta vários golpes de facão no assassino. A morte de Jason é um dos momentos mais violentos do filme, ao lado do assassinato de Jimmy Mortimer, que tem a mão perfurada por um saca rolhas antes de receber um golpe de cutelo no rosto.

Existe ainda um desfecho alternativo, que não foi utilizado na época, pois segundo o diretor contrastava com o conceito de um “Capítulo Final”. Neste desfecho, a irmã de Tommy pedia-lhe para chamar a polícia. Sozinha em casa, ela percebe gotas de água pingando do teto. Quando sobe até o andar superior, ela encontra a mãe morta na banheira. Então os olhos da mãe se abrem desesperados e Jason aparece em pé atrás da garota, pronto para atacar. De repente, Trish acorda no hospital, numa sequência muito similar a apresentada no desfecho do primeiro filme. Este final alternativo foi incluído numa edição de luxo lançada nos EUA em 2009.

Enfim, talvez o Capítulo Final do subtítulo seja válido de alguma maneira, pois como dito antes, Sexta-Feira 13: Parte 4 encerra de forma competente o primeiro ciclo da franquia, cometendo os mesmos erros e os mesmos acertos de seus antecessores. Mas fica uma breve reflexão: esqueça as falhas, não procure uma explicação factível para a imortalidade do vilão ou qualquer tipo de sofisticação no roteiro. Apenas aprecie mais uma carnificina, uma sequência de treze deliciosos assassinatos. Falando assim, parece doentio, não?

Contagem de Corpos

Assassino: Jason Voorhees
1 (23): Axel – serra cirúrgica no pescoço e cabeça virada 360 graus.
2 (24): Enfermeira Morgan – enforcada e rasgada com uma faca.
3 (25): gordinha muda – faca por trás da garganta.
4 (26): Samantha – faca por trás do torso.
5 (27): Paul – flecha na virilha.
6 (28): Terri – facada por trás.
7 (29): Sra. Jarvis – morta offscreen.
8 (30): Jimmy – abridor de garrafa na mão, golpe de cutelo no rosto.
9 (31): Tina – atirada por uma janela em cima de um carro.
10 (32): Ted – facada por trás da cabeça.
11 (33): Doug – cabeça esmagada.
12 (34): Sara – machado no peito.
13 (35): Rob – garganta cortada.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.3 / 5. Número de votos: 3

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

16 thoughts on “Sexta-Feira 13 – Parte 4: O Capítulo Final (1984)

  • 26/03/2024 em 00:59
    Permalink

    Uma correção no texto: o Jason não morreu no final da parte 3 com a machadada. Ele chega ao necrotério no início do filme vivo. O Jason não tem a capacidade de ressuscitar espontaneamente, tanto que nas partes 6 (precisou da ajuda de dois raios), 7 (ressuscitou pelo poder da garota paranormal) e 8 (foi ressuscitado pela descarga elétrica de um cabo submerso) ele voltou à vida graças aos métodos externos citados. Ele não tem, portanto, a capacidade de resssuscitar por conta própria, por isso, não morreu como consequência da machadada na parte 3.

    Resposta
  • 25/01/2019 em 19:15
    Permalink

    Só um detalhe, a primeira foto não é da parte 3???

    Resposta
  • 24/12/2016 em 22:18
    Permalink

    Eu sou uma negação pra notar furos de roteiro, mas esse filme me superou ou se superou kkkkk no final a Trish está no hospital e nem pergunta pela mãe… E o que foi o cachorro se jogando pela janela? Se alguém entendeu isso, pode me responder.

    Resposta
    • 21/07/2020 em 21:18
      Permalink

      Pelo que eu entendi,parece que foi o Jason quem jogou o cachorro pela janela.

      Resposta
  • 13/07/2016 em 21:57
    Permalink

    Os primeiros 4 filmes da série são muito charmosos.Depois disso, caíram bem, gradativamente !

    Resposta
  • 22/06/2016 em 13:52
    Permalink

    O melhor Filme de todos. Depois vem o 6 e depois o 9. Esse é o mais assustador, o diretor deu um show no clima sombrio e o cara que fez o Jason foi o melhor até hoje.

    Resposta
  • 03/12/2014 em 21:33
    Permalink

    Eu gosto muito dos filmes sexta feira treze so nao entendo uma coisa o jason morreu afogado quando erra crianca ou ele so se afogou mas nao morreu quem sober por favor esplique

    Resposta
  • 15/02/2014 em 21:13
    Permalink

    Acrescentando: a irmã de Tommy realmente acerta a primeira facada mas apenas remove a máscara de Jason. Enquanto este investe contra a moça Tommy agarra o facão e golpeia a cabeça do assassino com toda vontade praticamente partindo ao meio o crânio de Jason!! O grito agonizante de Jason (no idioma original, pois na dublagem da globo parece um galo cacarejando) até hoje me impressiona. Graças a esta cena e outras tantas do filme considero Ted White o melhor intérprete do personagem depois de Kane Hodder!

    Resposta
  • 22/06/2013 em 19:17
    Permalink

    otimo filme,otima critica, so errou em uma coisa, jason so morreu mesmo no final deste parte 4, nos outros filmes mesmo com uma machadada na cabeça, ele inexplicavelmente nao morria.

    Resposta
    • 07/06/2014 em 12:16
      Permalink

      um dos erros piore do filme que não disseram e simplesmente aquela morte como jason mata a garota no lago se ele tem medo de agua,pois quando criança se afogou e pior ainda como ele enfia um fação na garota por baixo do bote e ele ainda continua cheio quando o rapaz encontra o corpo dela.kkkkkkkkkkkkkkk

      Resposta
    • 22/06/2016 em 13:51
      Permalink

      Errado. Ele morre pela primeira vez quando criança, depois morre pela segunda vez na parte 3 ao levar uma machadada na cabeça. A própria sinopse diz que Jason ressuscita num necrotério. E morre pela terceira vez na parte 4.

      Resposta
  • 01/05/2013 em 18:31
    Permalink

    Eu sou fã da série, da saga Jason. Claro que como o texto informa e diz muito bem, os 4 primeiros filmes são os melhores e encerra o capítulo final de uma maneira bem atraente aos fãs.

    Resposta
  • 29/03/2013 em 22:08
    Permalink

    FILME RAZOÁVEL, REALMENTE A DIREÇÃO FOI PREGUIÇOSA ESCONDENDO O ASSASSINO O TEMPO TODO , CLARO QUE NÓS JÁ SABIAMOS QUE ERA JASON, MAS PREFIRO O 3 AO INVÉS DESSE…

    Resposta

Deixe um comentário para vanessa vasconcelos Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *