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Jogos Infantis
Original:Dictado / Childish Games
Ano:2012•País:Espanha
Direção:Antonio Chavarrías
Roteiro:Antonio Chavarrías, Sergi Belbel
Produção:Antonio Chavarrías
Elenco:Juan Diego Botto, Bárbara Lennie, Mágica Pérez, Nora Navas, Monti Castiñeiras, Adrián Bermúdez

Crianças podem ser cruéis. Quem convive com elas sabe disso, mas há sempre o cinema de horror para comprovar do que são capazes, caso não tenham uma boa educação ou sejam possuídas por alguma entidade maléfica. Ainda assim as mais assustadoras não vieram de outro planeta, nem trazidas de volta por clonagem ou de um cemitério indígena, mas aquelas mini-pessoas comuns, que assistem desenho, riem das piadas mais sem graça, gostam de um doce, e sabem torturar psicologicamente alguém, cutucando velhas feridas e traumas do passado. Lembra do gêmeo ruim de A Inocente Face do Terror, ou o maléfico Henry Evans, de O Anjo Malvado?

Um exemplo recente é o ótimo thriller espanhol Dictado (em inglês, Childish Games), de Antonio Chavarrías. Num processo criativo, o cineasta evidencia que a maldade infantil pode estar relacionada ao modo como os fatos são apresentados a ela, devido a sua ingenuidade facilmente influenciada, e não a sua natureza. Em outras palavras, seus atos são consequências de sua submissão ao universo adulto e como enxergam o mundo através dos olhos puros. O monstro existe, mas a perspectiva é que vai desmascará-lo.

O casal de professores Daniel (Juan Diego Botto) e Laura (Bárbara Lennie, de A Pele que Habito) está tentando ter um filho. A sorte parece sorrir para eles, quando um velho amigo de Daniel, Mario (Marc Rodríguez), faz uma visita à sua escola e pede que ele conheça sua filha. Sem entender a atitude insana, ele se assusta quando o visitante se suicida na banheira, deixando a pequena Júlia (Mágica Pérez) sob a tutela do governo até a aparição de algum parente distante. Laura consegue convencê-lo a adotá-la temporariamente com a intenção de efetivar o processo com o tempo, mas Daniel não imaginava o problema que estaria trazendo para dentro de casa.

Júlia demonstra ser uma garota tímida, assustada pelo episódio que testemunhou, e também cruel nas suas atitudes, resgatando no novo pai um passado que ele demorou muito para esquecer. Quando criança, ele foi um dos grandes responsáveis pela morte de uma menina durante um passeio ao cemitério, culminando com a pequena Clara (Cristina Azofra) sendo enterrada viva. Júlia parece conhecer bem aquele episódio, trazendo à tona objetos que a garota usava, frases que dizia e até mesmo uma velha canção conhecida como Dictado.

Aos poucos Daniel passa a acreditar que Júlia é um fantasma ou reencarnação da menina morta e que voltou para se vingar, obrigando-o a agir de forma definitiva para evitar que sua vida, casamento e sanidade sejam destruídas. Seria a garota uma criatura sobrenatural ou vítima de uma coincidência? Como enterrar de vez um passado que parece estar voltando de vez para castigá-lo?

As principais qualidades de Dictado estão na sua história bem contada, dirigida e atuada. Antonio Chavarrías desenvolve o mistério de modo eficaz, apresentando os elementos que compõem a trama gradualmente, sem apelar para sustos falsos (só o da banheira cheia de terra!), mortes ocasionais ou sangue em demasia. É um filme que poderia passar tranquilamente na TV aberta, mas sem que isso desmereça suas virtudes. Em sua estreia no cinema, a pequena Mágica Pérez é uma graça: atua com tranquilidade, sabendo explorar a frieza de sua personagem, assim como seu lado infantil.

Consciente do material que possui, Chavarrías castiga o público com doses amargas de suspense, principalmente no ato final, quando é impossível não se preocupar com o destino de uma personagem. Talvez tenha faltado coragem para tornar sua produção clássica e inesquecível, optando por uma conclusão rasteira e comum. Apesar disso, o longa é eficiente no que se propõem, entrando facilmente na lista dos belos exemplares espanhóis do gênero.

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3 Comentários

  1. Se não me engano, passou uma vez no Cine Alta Tensão, da Rede Brasil.

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