A Casa da Noite Eterna (1973)

4.5
(16)

A Casa da Noite Eterna
Original:The Legend of Hell House
Ano:1973•País:UK
Direção:John Hough
Roteiro:Richard Matheson
Produção:Albert Fennell e Norman T. Herman
Elenco:Clive Revill, Gayle Hunnicutt, Pamela Franklin, Peter Bowles, Roddy McDowall e Roland Culver

“Para o bem de sua sanidade mental, reze para não ser verdade.”

Buscando comprovar a existência de vida após a morte, o milionário Rudolph Deutsch financia um estranho e perigoso experimento no qual uma equipe formada por quatro pessoas deve passar alguns dias isolada num antigo casarão conhecido como mal-assombrado. Uma generosa quantia de 100 mil libras será paga a cada um dos participantes, independente do resultado.

A Mansão Belasco, palco da experiência, possui um passado um tanto obscuro e sinistro. No início do século passado, o patriarca da casa, Lorde Emeric Belasco, promovia orgias regadas a drogas e bebidas que frequentemente culminavam em canibalismo e vampirismo. Numa destas orgias, os participantes acabaram misteriosamente aprisionados no interior da mansão, onde ficaram até a morte.

São recrutados para a experiência o cético psiquiatra Dr. Lionel Barrett (Clive Revill), sua esposa Ann (Gayle Hunnicutt), uma jovem com supostos poderes psíquicos chamada Florence Tanner (Pamela Franklin) e o único sobrevivente de uma reunião anterior, o misterioso médium Benjamin Franklin Fischer (Roddy McDowall). Cabe ao grupo compreender os fenômenos que afligem a antiga construção e encontrar a única maneira de eliminar totalmente o mal que habita o local; e então, quem sabe, sobreviver ao maior pesadelo jamais imaginado.

Sobre o autor e o roteiro

Embora menos popular que Stephen King e outros autores contemporâneos, o americano Richard Matheson é responsável por uma dezena de clássicos da literatura e cinema fantásticos. Adaptou Poe em parceria com o lendário produtor e diretor Roger Corman em A Queda da Casa de Usher (House of Usher, 1960), O Poço e o Pêndulo (Pit and the Pendulum, 1961), Muralhas do Pavor (Tales of Terror, 1962) e O Corvo (The Raven, 1963). Sua famosa novela I’m a Legend foi transportada para o cinema pela primeira vez em 1964 com o título de Mortos que Matam (The Last Man on Earth), com Vincent Price no papel do solitário Robert Morgan. A trama que mostra a terra assolada por uma doença que transforma a população em vampiros foi novamente filmada em 1971, como A Última Esperança da Terra (The Omega Man), com Charlton Heston no papel que foi de Vincent Price na versão anterior. Em 2008 uma nova refilmagem teve Will Smith como protagonista. Na televisão, escreveu uma dezena de episódios do cultuado seriado Além da Imaginação (Twilight Zone, 1959-1964). Matheson é o autor ainda do roteiro (inspirado num conto de sua autoria) de Encurralado (Duel, 1971), primeiro sucesso do diretor Steven Spielberg.

Em A Casa da Noite Eterna, Matheson transporta para o cinema outra novela de sua autoria, The Hell House (A Casa Infernal). O roteiro tenso e sóbrio, aliado posteriormente à fotografia escura, constrói com grande eficácia a atmosfera perturbadora da mansão mal-assombrada. A competência com que o roteiro apresenta e desenvolve os diálogos e os personagens, abordando o eterno conflito entre a ciência (representado pelo cético parapsicólogo Lionel Barrett) e a fé (representada pelos médiuns Benjamin Franklin Fischer e Florence Tanner), atribui (de forma invejável à maioria das produções recentes) seriedade e credibilidade para as situações sobrenaturais exploradas pelo enredo.

Sobre o diretor

O diretor inglês John Hough, que realizara dois anos antes pelos estúdios Hammer, As Filhas de Drácula (Twins of Evil, 1971), esbanja talento e segurança em seu melhor trabalho, fazendo de A Casa da Noite Eterna um dos melhores filmes do subgênero casas mal-assombradas. Outro trabalho, um pouco mais recente do diretor, e que merece uma conferida é Os Anfitriões (American Gothing, 1988, EUA).

Sobre o elenco

O elenco é encabeçado pelo ótimo Roddy McDowall, interpretando o médium Benjamin Fisher. McDowall já havia interpretado outro personagem importante dentro do gênero fantástico, o Cornélius do clássico da ficção científica Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968) e viveria no futuro o inesquecível e covarde caçador de vampiros Peter Vincent, em A Hora do Espanto (Fright Night, 1985). O casting conta ainda com as beldades Pamela Franklin e Gayle Hunnicutt.

O equilíbrio

O mérito do êxito comercial e de crítica de A Casa da Noite Eterna está na soma (e no equilíbrio) da excelente equipe técnica, do elenco talentoso e do roteiro inteligente. A ambientação sóbria, o horror subjetivo e a trilha sonora sempre opressiva (composta por Delia Derbyshire e Brian Hodgson) transportam o expectador para o interior da mansão demoníaca, inspirando medo, mesmo sem exagerar na violência explícita.

A pseudo-refilmagem

Uma refilmagem inspirada em A Casa da Noite Eterna e Desafio ao Além (The Haunting, 1963), de Robert Wise, foi rodada em 1999 pelo fabricante de blockbusters Jan De Bont. Os efeitos despretensiosos e o clima gótico dos originais foram esquecidos e substituídos por uma avalanche de efeitos especiais sem sentido. O inevitável resultado: A Casa Amaldiçoada foi um grande e merecido fiasco, tanto de público quanto de crítica.

Melhores Momentos (contém SPOILERS)

Na primeira noite que passam na casa, o médium Benjamim Fisher é questionado a respeito dos acontecimentos passados que fizeram com que o local fosse considerado amaldiçoado. O trecho abaixo representa a força de um diálogo bem construído:

“- O seu nome era Emerich. Nasceu em 23 de março de 1879. Era o filho bastardo de um fabricante de armas. Tinha uma face terrível… Como a cara de um demônio… A qual havia adaptado algum aspecto humano. Esta é uma citação de sua segunda esposa, qual se suicidou nesta própria sala em 1927. Media mais de dois metros. Chamavam-no O “Gigante Colossal”.

Já neste primeiro diálogo um pouco mais longo, fica evidente o talento e o entrosamento dos atores, em especial do londrino Roddy McDowall, que interpreta brilhantemente o perturbado médium Benjamim Fisher. Sua descrição do antigo dono da mansão só é superada pela descrição das atrocidades ali cometidas em outros tempos:

“- O que fez para tornar tão diabólica esta casa, Sr.Fischer? – O uso de drogas e de álcool, sadismo, bestialidade, mutilação, homicídio, vampirismo, necrofília e canibalismo. E sem mencionar uma variedade grande de atividades sexuais. – Como acabou? – Se tivesse acabado, nós não estaríamos aqui. – Que aconteceu com o Sr. Belasco? – Ninguém sabe. Quando parentes dos hóspedes entraram na casa em 1929 encontraram todos mortos por um motivo ou outro, 27 no total. Mas Belasco não estava entre eles. Seu corpo nunca foi encontrado.”

No desenrolar dos acontecimentos é a jovem médium Florence Tanner a primeira a sofrer os ataques da entidade que habita a Mansão Belasco. Em meio a aparições em pesadelos, num determinado momento a médium é atacada por enorme gato preto possuído. Embora os efeitos sejam modestos, a cena é convincente. Florence continua sendo assediada pelo fantasma, que acaba violentando-a sexualmente.

Com certeza as vítimas preferidas da casa são as mulheres. A esposa do parapsicólogo, Ann Barret, lentamente tem sua personalidade alterada (e a sexualidade aflorada, diga-se de passagem). A linda mulher passa então a tentar seduzir o médium Benjamin Fisher, que incrivelmente consegue resistir.

O desfecho

O interessante desfecho traz um twist que de certo modo faz a junção entre o sobrenatural e a lógica científica do cientista Lionel Barret – mas acaba sendo motivo de polêmica, não agradando a todos os espectadores e decepcionando aqueles esperavam por uma explicação totalmente fora das leis naturais.

Enfim, A Casa da Noite Eterna é um clássico absoluto e obrigatório, que mesmo reprisado à exaustão nas madrugadas dos idos anos 80 é pouco conhecido das novas gerações – recentemente foi lançado no Brasil em DVD pela Continental.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

22 thoughts on “A Casa da Noite Eterna (1973)

  • 13/05/2019 em 08:32
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    Filme ruim, sem uma logica, com motivação fraca, uma historia boba e final irrisório.

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    • 04/12/2019 em 02:59
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      filme excepcional, ótimos atores, roteiro muito bom e direção e fotografia bem elaborada. Um filme marcante em todos os sentidos.

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  • 22/09/2018 em 02:27
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    Meu filme favorito de terror de casa mal assombrada!

    Listei os registros de exibição na tv aberta:

    1978 – 30/09 – Globo – 22:45 – Sábado – Primeira Exibição

    1979 – 08/06 – Globo – 00:30 – Sexta-Feira – XXXXX

    1981 – 07/11 – Record – 23:00 – Sexta-Feira – XXXXX

    1982 – 11/12 – Record – 23:00 – Sábado – XXXXXX

    1988 – 23/08 – Globo – 00:05 – Sábado – Sessão de Gala

    1991 – 31/07 – Gazeta – 21:30 – Quarta-Feira – XXXXXXXX

    1992 – 09/10 – Globo – 02:20 – Sexta-Feira – Corujão

    1996 – 25/06 – Band – 15:15 – Terça-Feira – Cine Trash

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  • 30/08/2018 em 21:47
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    Filme pra ser bom,qualquer gênero,tem que ter um sentido, um propósito, uma história bem contada, e esse não tem, é apenas um grupo de especialistas atrás de espíritos numa casa assombrada.

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  • 12/08/2018 em 22:08
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    Vi esse filme nos meus 12 ou 13 anos, e me deixou intrigado, gostei muito pois era um filme que nos prende e quado temos essa idade tudo parece ser verdade e o filme é imersivo, com a musica envolvente tem aquele ar depressivo e de suspense o tempo todo, o elenco é excepcional destaque para Roddy Mcdowall e pela fragilidade Pamela franklin no enredo como medium. Posso dizer que após assistir a casa de noite eterna com 12 anos, certamente me fez caminhar pela parapsicologia anos mais tarde.

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  • 26/07/2018 em 19:47
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    Assisti uns 30 anos atrás…era criança…lembrei o nome do Belasco …não me lembrava do nome do filme…tinha 12 anos na época…mas vou ver de novo.

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  • 08/06/2018 em 09:04
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    Tem filmes nos anos 70, que sempre vão ser lembrados para sempre,pois alem da historia o terror psicológico que nos envolve no filme alem da arte fica depois aquele gostinho de quero mais, o contrario de hoje que passa abacaxi e ainda tem coragem de dizerem que é terror ontem por exemplo, assisti ao cair na noite 2017 e me perguntei já passando na metade do filme, cade o terror e a historia,um refugo da Netflix, que bem poderia passar clássicos como a casa da noite eterna que só no observar a capa já percebe-se que ali tem coisa boa!!

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  • 21/09/2017 em 19:10
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    Adorei esse filme. Foi um dos primeiros filmes que eu vi do gênero. Achei a produção muito bem feita, para a época. Não sabia que era adaptação de um livro. Li Horror em Amtyville, achei o livro fantástico assim como o Exorcista, mas os filmes, deixaram um pouco a desejar. Acho que o Exorcista foi o que chegou mais perto do livro. Horror em Amtyville passou longe. Vou ler a Casa da Noite Eterna, se caso encontrar pois acredito que seja dificil de achar já que é muito antigo. Vale a pena rever o filme, uma pena que no You tube não esteja tão bom, mas quem sabe cavucando na internet,encontre algo melhor. Adorei os comentários. Fiquei fã da página

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  • 03/05/2017 em 16:08
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    Sensacional!!! Meu pai viu no cinema há anos atrás e recomendou para a família. Muitos voltaram arrepiados do cinema. Hoje, temos no youtube, ainda bem! Baita filme!!!!

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  • 25/04/2015 em 17:33
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    Nunca vi este filme, eu nasci em 1980, mas não lembro de ter visto este filme, parece ser interessante.

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  • 06/03/2014 em 00:33
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    Eu vi a muito tempo, fiquei com vontade de ler o livro agora (e rever o filme).

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  • 21/01/2014 em 12:55
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    Filme ótimo, o bom desse filme e que eles não usaram praticamente nenhum efeito especial, se o fisesse concerteza nos dias atuais pareceria um filme de um suposto meio comico, um exemplo de cena (na minha opinião) e a cena de O Exorcista 1973, que a garotinha esta deitada na cama, e aparece um efeito de um demonio que não bota medo em ninguem, a não ser crianças, porem O Exorcista e um clássico exelente, lembrando que esses efeitos antigos, não se pode ser julgado por nenhuma pessoa da era da tecnologia, pois julgar as coisas fora de seu tempo não funcinam, parabens a toda a equipe do Boca do Inferno ótimo site que acompanho diariamente, abraços.

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    • 30/08/2018 em 21:39
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      O exorcista é um dos maiores testamentos de fé e esperança da história do cinema, o exorcista não é pra você ter medo e sim para voce refletir, eu ainda não vi um filme de terror tão brilhante e lindo como o exorcista e acredito que não existirá

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  • 12/06/2013 em 22:57
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    QUE BOSTA DE FILME, EU ACHANDO QUE POR SER ANTIGO, TINHA ALGUM TIPO DE TERROR, AFF. PERDI QUASE 2 HORAS DO MEU TEMPO VENDO ESSE LIXO. SEM SENTIDO ALGUM O FINAL, E COMEÇO E MEIO TOSCO… NÃO RECOMENDO.

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    • 21/10/2016 em 09:59
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      Deve ser porque você é burro e não consegue compreender o enredo, seu analfabeto funcional.

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        • 11/10/2021 em 06:17
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          Assisti em um sábado à noite na Globo, final dos 70’s. Assustador, e curioso para mim. Tinha uns 12 anos, acho.
          A coitada da minha professora de inglês, no colégio, é que precisou responder sobre sadismo. Nunca mais me esqueci da palavra, rsrsrs. Gostei do final.

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  • 05/04/2013 em 16:32
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    PArabéns Kaos, seus artigos estão muito bons.

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  • 02/04/2013 em 22:11
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    FIQUEI CURIOSA……………

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    • 27/02/2023 em 21:53
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      Grande obra, diálogos e atuações de bom níveis. Achei o final bem interessante e desnuda os mistérios alimentados durante a apresentação desse filme.

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