Sete Almas (2012)

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Sete Almas (2012)
Muito mais que sete erros…
Sete Almas
Original:Seven Below
Ano:2012•País:EUA
Direção:Kevin Carraway
Roteiro:Kevin Carraway, Lawrence Sara
Produção:Eric Fischer, Brianna Lee Johnson , Aymie Majerski, Warren Ostergard, Terry Rindal
Elenco:Tia Sage, Val Kilmer, Luke Goss, Brianna Lee Johnson, Jennifer Trier, Rebecca Da Costa, Kaleigh Howland, Silvio Wolf Busch, Kylie Pfingsten, Bonnie Somerville, Christian Baha

Quem acompanhou o cinema das décadas de 80 e 90 deve lembrar de rostos como Val Kilmer e Cristian Slater, galãs que disputavam garotas e papéis principais em centenas de produções do período. É só lembrar que o primeiro foi o Batman, de Batman Eternamente, o Jim Morrison, de The Doors e o Simon, de O Santo, enquanto o segundo esteve em O Nome da Rosa, Jovem Demais Para Morrer, no ótimo Amor à Queima Roupa e, principalmente, em Entrevista Com o Vampiro, para entender o quanto seus nomes eram sempre associados a filmes populares. Apesar de ainda estarem na ativa, ambos não possuem o mesmo carisma de outrora, aparecendo em longas horrendos como O Ritual Playback (Slater) no mediano Twixt e no péssimo Sete Almas (Kilmer), lançado pela Focus Filmes em DVD e Blu-Ray.

O culpado por Sete Almas é o diretor e roteirista Kevin Carraway, que não aprendeu com os erros cometidos em O Quarto do Medo (2009) e acabou entregando uma produção quase trash, envergonhando a filmografia de outros rostos como Luke Goss (Corrida Mortal 2) e Ving Rhames, que nos tempos áureos participou de Alucinações do Passado, Pulp Fiction e até nos divertidos Madrugada dos Mortos e Piranha. E a vergonha alheia não está apenas no elenco, mas também na parte técnica: não dá para entender como um filme tão ruim pode ter a ótima fotografia de Harris Charalambous (de Deadgirl) e a maquiagem do experiente Adam Brandy (O Dia em que a Terra Parou, O Vencedor e outras 148 produções).

Com um trailer atraente e um pôster chupado de Sobrenatural (Insidious, 2010) – além da tagline nacional que lembra a de Halloween: Ressurreição (O Mal encontrou um Novo Lar) – imaginava-se uma produção, no mínimo, mediana, com alguns bons momentos graças ao elenco conhecido. No entanto, o resultado é uma mancha para o gênero fantástico, para a filmografia dos atores e para a Sétima Arte, enfim, uma afronta aos cineastas independentes com mais talento, mas menos oportunidades.

A sequência inicial é uma cópia cara-de-pau de Halloween, de John Carpenter, e Amityville 2: A Possessão, quando, numa noite chuvosa, um garoto mata a família inteira, incluindo duas meninas, a facadas, sem saber o porquê de seus atos, culpando uma voz que o obrigou a agir assim. Um século depois, um ônibus, com um grupo que parece estar voltando de um casamento, resolve parar na loja de conveniência de um posto de gasolina. Depois de paquerarem a atendente Courtney (interpretada pela brasileira Rebecca Da Costa), eles seguem viagem, até uma figura fantasmagórica tirar o veículo da estrada e fazê-lo chocar contra uma árvore, matando o motorista.

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Com o acidente, o grupo, composto por Bill McCormick (Kilmer) e sua esposa Brooklyn (Bonnie Somerville), Issac (Luke Goss), Adam (Matt Barr) e Dr. Lipski (Christian Baha), aceita uma carona até a casa do estranho Jack (Rhames), com a promessa de entrar em contato com a polícia e esperar dissipar a tempestade que se aproxima. Vestindo-se como um caçador, Jack pede que deixem o corpo na estrada e o acompanhem até sua morada para fazerem uma ligação, mesmo isso já servindo de motivo para uma estranheza por parte de pessoas normais, menos para o elenco que parece seguir o roteiro fraco de Kevin Carraway e Lawrence Sara.

Se deixar o corpo ali já não seria motivo para ignorar o convite, a situação fica pior quando chegam ao local e não vêem fotos de Jack entre as molduras e o local não ter telefones. Aliás, o próprio anfitrião havia pedido para eles não trazerem seus celulares, contrariando o que ele disse sobre telefonar para a polícia ou pedir ajuda. O único consciente é Bill, que adivinha o filme inteiro assim que chega ao local: Há fantasmas aqui. Eles vão nos matar, um a um.

Enquanto Bill vai para um quarto descansar, Adam pega o caminhonete de Jack para comprar suprimentos, encontrando encalhada na estrada Courtney (que mundo pequeno!), alegando estar sem gasolina! E o próprio rapaz estranha o fato dela estar com o carro sem combustível se ELA TRABALHA NUM POSTO…isso somado ao fato da garota estar com o capô levantado: está procurando gasolina no motor?. Com todos esses questionamentos, ele deixa sua testosterona falar mais alto e a leva numa carona até a casa de Jack, pois a estrada se encontra bloqueada devido a queda de uma árvore.

Bill é o primeiro a aparecer morto, encerrando quase por completo a participação de Val Kilmer, em ritmo de pagamento de contas. Apesar da morte repentina do marido, o roteiro infantil faz com que a esposa já esqueça do fato e até resolva dormir por lá. Mesmo depois da aparição de alguns fantasmas, da caminhonete ter sido mexida e da morte de alguém do grupo, eles ainda encontram motivo para jogar baralho e conversar futilidades, até mais corpos se amontoarem e o pânico tomar conta de vez.

Sete Almas é absurdamente ruim, tão ruim quanto às interpretações de Ving Rhames – com sua risada maléfica de vilão de quadrinhos – e de vários outros da película. Os diálogos chegam a ser engraçados pela falta de naturalidade ou conteúdo. Em certo momento, enquanto fogem pela floresta e resolvem se separar (!!!), a tal Courtney fará você rir quando disser: Ficarei aqui. Voltem logo. Se ouvirem eu gritar, voltem mais rápido.

Por essas e tantas outras, evitem a todo custo testemunhar essa tranqueira. Se não houver opção, veja um clássico logo após para tentar tirar da memória qualquer recordação desse filme maldito.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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