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Assombração
Original:Gwai wik / Re-Cycle
Ano:2006•País:Tailândia, Hong Kong
Direção:Oxide Pang Chun, Danny Pang
Roteiro:Oxide Pang Chun, Danny Pang, Cub Chin, Sam Lung, Thomas Pang
Produção:Sa-Nga Chatchairungruang, Alvin Lam
Elenco:Angelica Lee, Pou-Soi Cheang, Ekin Cheng, Lawrence Chou, Viraiwon Jauwseng, Siu-Ming Lau, Rain Li, Zeng Qi Qi, Jetrin Wattanasin, Yaqi Zeng

Procure se lembrar de seus piores pesadelos, os que possuem lógicas ou não, sequências ou apenas conjuntos de imagens desconexas. Recorde dos sonhos mais obscuros e surreais, mas que também conseguem ser visualmente chamativos e até belos. Será justamente dentro desse universo onírico e quase sensorial, semelhante aos sonhos, que grande parte da ação de Assombração (Gwai wik, 2006), dirigido pelos imãos Pang, acontece. O trabalho, no entanto, está dividindo opiniões com relação ao seu resultado graças a uma incomum, porém bem feita, união entre o terror e uma poesia visual e estética.

Achou confusa essa introdução? Pois é bom se acostumar, por que Assombração é, antes de tudo, um filme que não se preocupa muito com lógica ou em ter todas as perguntas respondidas. A produção é apresentada ao público como um conjunto de imagens e ações que vão dando direcionamento para a história, mas que nem sempre vão gerar uma conclusão simples ou mesmo unitária diante da recepção das pessoas. O enredo de Assombração acompanha a rotina da escritora Chu Xun (Angelica Lee Sinje), que começa a produzir um novo romance, cujo tema abordado será o sobrenatural. Na medida em que começa a desenvolver o projeto, coisas estranhas começam a acontecer, como vultos misteriosos que aparecem. Nada muito novo ou original para os fãs do gênero, até que, durante uma dessas visões, a moça resolve seguir o tal espírito e acaba indo parar em um estranho, perigoso e horrendo mundo, habitado por seres igualmente macabros.

Os irmãos chineses Oxide e Danny Pang ficaram conhecidos internacionalmente pelo filme The Eye – A Herança (Gin Gwai, 2002) e suas sequências. Os trabalhos da dupla são caracterizados pelos já tradicionais fantasmas das produções vindas do oriente que assombram os vivos por motivos que são explicados no decorrer das tramas. No entanto, Assombração vai seguir um caminho diferente ao colocar uma pessoa real dentro de um mundo espiritual, ou que não é um plano físico, o que proporcionou para os diretores uma grande gama de possibilidades para serem trabalhadas, tanto de roteiro, como de estética.

Nesta primeira parte da trama, a dupla de diretores consegue criar interessantes momentos de sustos, mas nada além do que já foi visto antes, principalmente nos trabalhos deles. Quem não se lembra das ótimas sequências passadas dentro de elevadores nos três filmes da série The Eye? Pois Assombração também possui uma semelhante e igualmente interessante cena. De certa forma, é quase como se os irmãos estivessem preparando a audiência para a segunda parte da história.

E nesse quesito, a dupla foi extremamente feliz por ter conseguido levar a personagem, assim como o público, para esta estranha viagem dentro de um mundo tão diferente e assustador, mas ao mesmo tempo rico esteticamente. Tal passagem do filme é semelhante a um conto de fadas gótico, quase como um Alice no País das Maravilhas bizarro. Com cores (ou falta delas) exageradas, os cenários deste estranho mundo são uma atração à parte, pela forma como foram concebidos: extravagantes, oníricos, obscuros e ao mesmo tempo, chamativos e capazes de despertar curiosidade e admiração.

Deste bizarro local, destaca-se a rua inicial, repleta de casas abandonas e destruídas, na qual espíritos planam perseguindo Chu Xun. Aliás, tal forma de andar dos fantasmas é um efeito bastante simples, até mal feito, mas que funciona de forma positiva dentro da proposta do filme, fazendo de tal perseguição um dos momentos mais tensos da história. Um outro exemplo de como um lugar comum e bastante conhecido foi trabalhado em Assombração é um parque de diversões, que na trama, é localizado entre prédios. Nada nesta sequência é feio ou bizarro, mas o contexto cria uma morbidez implícita que incomoda personagem e público.

Merecem destaque também a ponte dos fantasmas, o corredor de fetos abortados, que gera um dos momentos mais angustiantes da trama, além do local para almas que foram esquecidas pelos parentes. Essa última sequência possui uma plasticidade semelhante a um quadro em movimento, mesmo sendo uma das passagens mais obscuras. Um parêntese deve ser aberto para a trilha sonora que pontua de forma eficiente cada um dos momentos da história.

Os Irmãos Pang também repetem a boa parceria com a atriz Angelica Lee Sinje, que já havia dado um banho de interpretação como a cega que, após um transplante de córnea, passa a ver espíritos no primeiro The Eye. Em Assombração, a personagem da atriz é uma moça séria, triste e focada no seu trabalho. Durante o desenrolar da trama, vamos descobrir os motivos que levaram a jovem escritora a ser tão desiludida com a vida. Sem parecer exagerada, a atriz consegue mesclar todo o pavor com a beleza e o drama que vão sendo apresentados durante os 108 minutos de filme.

Apesar das qualidades, Assombração pode seguir um caminho duvidoso junto a determinados grupos de fãs do gênero, pois o trabalho tem um lado experimental, o que pode não agradar a todo mundo. E no caso do Brasil ainda existe o problema do título. Com o nome de Assombração, muitas pessoas podem ir assistir ao filme esperando uma história tradicional de fantasmas. O título original pode ser traduzido como “reciclagem”, algo que tem mais proximidade com a trama. A dica é dar o play e ficar com a mente aberta para uma história que possui suas qualidades e, como em um sonho, se deixar levar sem se preocupar muito com a lógica.

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3 Comentários

  1. alguém sabe o nome do estúdio de dublagem?

  2. faz bastante tempo que assisti, é legalzinho, sempre bom ver algumas historias mais originais do que apenas fantasmas em filmes do genero

  3. Eu gostei bastante deste filme. No começo é bem apavorante, mas depois os sustos vão dando lugar para algumas cenas mais emotivas e, visualmente, mais belas, mantendo sempre a tensão do desconhecido. O final, apesar de um pouco confuso, é bem bacana. Vamos dizer q o filme é um quadro enigmático e belo, mas perturbador à quem olha.

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