Fanatismo Macabro
Original:Forever Evil
Ano:1987•País:EUA Direção:Roger Evans Roteiro:Freeman Williams Produção:Jill Clark Elenco:Red Mitchell, Tracey Huffman, Charles L. Trotter, Kent T. Johnson, Diane Johnson, Howard Jacobsen, Jeffrey Lane, Karen Chatfield, David Campbell, Susan Lunt, Marcy Bannor, Richard Zamecki |
Qual é o limite entre a homenagem, a boa influência e a picaretagem, a cópia descarada e sem-vergonha? É uma linha muito tênue para se afirmar com certeza, mas um filme como Fanatismo Macabro é um daqueles que não se limitam em copiar fórmulas, chegando até páginas inteiras de roteiro idêntico – neste caso em específico, Evil Dead.
Este filme, capitaneado pelo diretor Roger Evans e roteirizado por Freeman Williams, tem similaridades com a obra máxima de Sam Raimi que poderiam até rolar um processinho por plágio (algumas pessoas o chamam inclusive de Forever Evil Dead), no entanto sua execução é tão primária e tosca que nem chega a macular o grande clássico. Ou você acha genial (ou assustador) um zumbi assassino que se chama Alfredinho?!?
Mesmo como cópia o filme é falho, já que o roteiro não só xeroca Evil Dead nos primeiros 20 minutos, quanto tenta dar um além, como se Ash conduzisse uma investigação sem sentido para encontrar um responsável pelo ataque à cabana, no restante que lembra uma espécie de Arquivo X tosco.
Vamos analisar agora a maior colcha de retalhos que eu já vi, também chamada de roteiro:
Primeiro Ato – Introdução: A Sra. Weinberger (Kayce Glasse) é uma mulher falastrona e esotérica que adora tirar seu futuro nas cartas. Ela vai até seu tarólogo de confiança, Ben Magnus (o roteirista Freeman Williams) para tirar sua sorte mais uma vez. O problema é que Magnus prevê algo terrível e não revela o final das premonições, devolvendo o dinheiro de Weinberger e ordenando que saia. Magnus tenta fugir também, só que neste momento, aparece um misterioso homem com poderes sobrenaturais e olhos vermelhos brilhantes. Então o tarólogo morre da forma mais humilhante possível em um filme de horror: eletrocutado através de raios animados por computador.
Agora esqueça isso tudo enquanto assiste aos créditos iniciais que são iguais a um protetor de tela do Windows e vamos ao…
Segundo ato – O Ataque: Dois irmãos com suas respectivas esposas e alguns amigos se reúnem em uma cabana isolada no meio do nada. Tudo é muito calmo e tranqüilo. Segundo roteiro, é o local propício para se dizer um monte de bobagens e piadas sem graça. Marc (Red Mitchell, sim este banana é o nosso “herói“) é um deles e revela ao irmão Jay (Jeffrey Lane) que sua esposa Holly (Diane Johnson) está grávida, mas aparentemente não quer saber do bebê.
A noite cai e na mesa de poker os irmãos abrem uma discussão memorável sobre um pedaço de pizza que merece reprodução:
Marc: Você vai comer esta pizza?
Jay: Sim, eu vou querer…
Marc: Eu também quero…
Jay: Eu sou mais velho que você.
Marc: Eu sou mais novo e vou chutar o seu traseiro.
Jay: Eu sou mais bonitinho…
Meu Deus, que profundo!… Um vulto sonda a cabana enquanto Holly toma banho. Em seguida ela é encontrada morta com um rasgo de cima a baixo (ou então jogaram um monte de linguiça nela, sei lá…). A expressão do marido Marc não é menos que a indiferença. A partir daí um a um, os habitantes são eliminados ou desaparecem misteriosamente, até sobrar apenas Marc que precisa eliminar o zumbi Alfredinho (Kent T. Johnson) no meio da floresta, responsável por toda a matança e conseguir fugir para a estrada. Isso é tão chupado de Evil Dead que tem até alguns “galhos assassinos” que matam uma das mulheres.
Para a sorte ou azar de Marc, o rapaz é atropelado e sobrevive ao massacre, acordando no hospital. Então, vamos esquecer tudo isso e partir para o…
Terceiro ato, o mais longo e mais chato – A Investigação: Marc permanece um tempo no hospital e enquanto se recupera cria laços de amizade com Leo (Charles L. Trotter), o investigador responsável pelo caso (que inclusive vai ensinar Marc a atirar, mas com balas de verdade no porão de sua casa).
E como se não bastasse, Marc é abordado por Reggie (Tracey Huffman), uma sobrevivente de um outro massacre semelhante onde seu noivo foi a vitima (só faltou ela dizer que foi numa cabana no meio do nada também…) e que agora corre o mundo atrás do demônio responsável por aquilo, porém sua função principal é servir de interesse romântico do rapaz.
Juntos os três passam a procurar pela verdade, e as respostas não convencem muito. Na realidade ficaria melhor se estes ataques fossem eventos aleatórios, concentrando mais a ação na caça ao Alfredinho. Entretanto o roteiro teima em manter a investigação e tentar dar uma explicação plausível que liga os três “atos“, o resultado não passa de confuso, esdrúxulo e decepcionante.
Roger Evans foi competente na parte de filmagem do ataque, só que chega uma hora que dá no saco de tanto que ele abusa da visão em primeira pessoa. Outra falha é justamente deixar a peteca cair depois do ataque na cabana: é uma sequência frenética e, não fosse o elenco ruim, poderia ser mais bem sucedida, porém depois que começa a tal investigação a velocidade cai muuuuito, as coisas demoram demais pra acontecer e fatalmente o público mais despreparado vai cochilar. Também não é pra menos, a duração total do filme é 110 minutos, muito extenso para um fio de roteiro como este. O pior é que na edição especial do diretor em DVD duplo lançado nos States, ainda tem mais 7 minutos, gerando mais de duas horas de entretenimento arrastado.
Claro que o principal culpado é o roteirista Freeman Williams, que além de merecer lustrar sua face com óleo de peroba por ter “chupinhado” Evil Dead na caruda, lança uma série de ideias sem ligação (o cachorro preto que fica aparecendo e sumindo, a vizinha de Leo, os pesadelos de Marc, etc.) e diálogos que não tem fundamento algum no desenrolar da trama, que termina por aporrinhar o público que esperava um filme mais dinâmico ou coerente. Há quem possa dizer que a premissa de contar a história depois do massacre seja interessante, mas falha miseravelmente na execução e na pobreza de detalhes convincentes. O roteiro peca também por não caracterizar as personagens como deveria, passando uma falsa sensação de profundidade que é agravada com algumas decisões estúpidas tomadas pelas personagens principais.
O elenco também não ajuda, especialmente o mocinho Red Mitchell que entre outras coisas vê sua esposa morta com o bucho aberto e é incapaz de soltar um grito, uma lágrima ou mesmo uma expressão de medo; ele fica olhando fixamente para a câmera como quem visse um pombo atropelado na rua – simplesmente lamentável.
Não vou negar que existem pelo menos duas cenas mais sangrentas um gore bem feito (apesar de não impressionar), que ganha um ponto positivo para os efeitos especiais, no entanto é muito pouco, muito pouco mesmo, para salvar este filme do bolor do fundo da locadora. Resumindo esta crítica em uma palavra: Evite.
Curiosidades:
– Hoje em dia Freeman Williams continua com seu ofício de escritor, mas agora com seu próprio site de reviews de filmes B, o The Bad Movie Report que também contém um diário de produção deste Fanatismo Macabro, entitulado “Making a Bad Movie – My Personal Nightmare“, onde Williams conta passo a passo todo o processo de escrita. Interessante leitura para quem pretende seguir o ofício de roteirista.
“Um monte de bosta”
Papaco, famoso pistoleiro brasileiro, comentando esta porcaria de filme
quero vê este filme , fiquei interessado..
eu ri com a sua crítica hahaha. não vi esse filme mas deve ser divertido de tão trash.