Com 007 Viva e Deixe Morrer
Original:Live and Let Die
Ano:1973•País:UK Direção:Guy Hamilton Roteiro:Tom Mankiewicz Produção:Albert R. Broccoli, Harry Saltzman Elenco:Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour, Clifton James, Geoffrey Holder, David Hedison, Gloria Hendry, Bernard Lee, Lois Maxwell, Tommy Lane, Earl Jolly Brown |
O oitavo filme da série, e o primeiro com Roger Moore como Bond, é o único da franquia com elementos de filmes de terror, tendo vilões que mexem com magia negra.
Poderíamos também afirmar que aqui 007 enfrenta o blacksploitation. Devemos lembrar que a fase Roger Moore foi a época em que a série mais se apropriou de tendências em voga do momento – Vide os posteriores 007 Contra o Foguete da Morte, em que, graças ao sucesso de Star Wars, mandam o agente britânico literalmente para o espaço, sem antes passar pelo carnaval brasileiro. Há também 007 Contra Octopussy em que as cenas de ação eram inspiradas em Os Caçadores da Arca Perdida. Por isso não seria absurdo deduzir que o filme aproveita a onda black do cinema americano da época, apesar dos negros serem vilões.
Aqui Bond é chamado para investigar o assassinato de três agentes secretos britânicos, e descobrir a verdadeira conexão entre Mr. Big, um misterioso e poderoso traficante de heroína (que além de dominar todo o Harlem em Nova York, tem seus tentáculos em Nova Orleans) com dr. Kananga (o ótimo Yaphet Kotto, que depois faria o clássico Alien), o primeiro-ministro de uma ilha do Caribe, a fictícia San Monique.
Kananga se mostra um adversário invulgar, que espalha o terror com seus rituais de vodu e prevê o próximo passo de seus inimigos graças a ajuda das cartas de Tarot, manipuladas por Solitaire (Jane Seymour, num papel que chegou a ser cogitada para Diana Ross), uma vidente que vive praticamente aprisionada pelo chefe de estado e cujos poderes são atribuídos à sua virgindade. E como todo bom exemplar de 007 das antigas aqui também não falta o capanga bizarro do vilão, no caso Tee Hee (Julius W. Harris, que lembra uma versão não bombada e anos 70 do Ving Rhames), que possui um mortífero braço mecânico. Caberá a Bond desbaratar a quadrilha de traficantes, enfrentar Kananga, ignorar as mandingas e, claro, tirar a virgindade da bela Solitaire.
Visivelmente feito com um orçamento reduzido, talvez os produtores não quiserem arriscar muito com Moore como novo Bond (apesar de ele já ter sido uma opção em 1962, quando o papel ficou com Sean Connery na estreia da série com o Satânico Dr. No). Chamaram o competente diretor Guy Hamilton, que tinha experiência na serie, já tinha dirigido dois filmes da franquia, inclusive 007 Contra Goldfinger, o meu favorito do personagem.
Inspirado no ótimo livro de Ian Flemming, a segunda obra de 007, o primeiro seria Cassino Royale, a trama do livro se passava na Jamaica, mas como Bond já tinha passeado por lá em Satânico Dr. No, resolveram mudar a ambientação para a fictícia San Monique; é a primeira vez na série em que Bond vai parar num país fictício, a segunda seria apenas em 007- Permissão para Matar, que curiosamente utiliza algumas ideias e subplots do mesmo livro de Flemming, mas que não foram utilizadas aqui. Na verdade Live and Let Die, o livro. é tão legal e “recheado” que foi possível extrair dali inspiração para três filmes da série, além dos já citados Viva e Deixe Morrer e Permissão para Matar, ainda tem material em 007 – Somente para Seus Olhos.
Curiosamente o filme foi filmado boa parte na Jamaica mesmo, mais precisamente numa fazenda do próprio Fleming e numa outra fazenda que pertencia ao coordenador de dublês Roos Kananga (que era tão gente boa, que resolveram homenageá-lo com o nome do vilão). As sequências na propriedade onde fazem o refino de heroína e criação de crocodilos é do próprio Roos, inclusive uma placa de aviso que aparece no filme: WARNING: TRESSPASSERS WILL BE EATEN era real.
Este filme é famoso pela música-tema, a balada título interpretada por Paul & Linda McCartney, que já foi regravada várias vezes, sendo uma das versões mais famosas a do Guns ‘n’ Roses.
Com 007 – Viva e Deixe Morrer também é famoso por conter uma das mais espetaculares perseguições de lanchas da história do cinema! Filmado na gloriosa época pré-CGI, vemos lanchas reais saltando nos ares e se esborrachando em carros de verdade. O curioso é que no roteiro não havia descrições das cenas e nem storyboards, apenas estava escrito assim: “cena 156 – A perseguição do barco mais incrível que você já viu“. E assim foi feito. Tanto que um dos barcos num salto acabou parando dentro dum carro da polícia, o que não estava planejado e acabou ficando no filme.
Porém, cena antológica mesmo, o que supera todas, não dura vinte segundos: Bond ilhado num pequeno pedaço de terra em meio a vários crocodilos, onde ele, simplesmente, no melhor estilo desenho animado, escapa correndo por cima dos répteis. Imagina isso sendo feito hoje em dia, com computação gráfica, que broxante que seria.
Também não faltam diálogos saborosos que não se escrevem mais, nem mesmo na própria série; como James quando vai se apresentar para o traficante Mr. Big: ele começa com a famosa frase “Meu nome é…“, porém é interrompido pelo bandido: “nomes são para túmulos, baby”.
O baixo orçamento se faz sentir aqui, como o esconderijo do vilão, geralmente feito em cenários suntuosos, aqui é o mais simples possível. Isso em algumas mancadas, como o agente assassinado no prólogo, durante um ritual. O infeliz é mordido por uma cobra, porém, visivelmente a cobra passa distante do pescoço do ator, e eles nem sequer se preocupam em colocar uma maquiagem ali. Dando a impressão que o homem morreu mais de susto mesmo.
Como curiosidade temos a participação do ator Clifton James no papel do xerife J. W. Pepper, o típico sulista tosco e reacionário que aqui serve como contraponto cômico na perseguição de lanchas (e se saiu tão bem que repetiria o mesmo personagem no filme seguinte 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro). Também vale destaque a participação da atriz Gloria Hendry, uma personagem secundaria e que seria a primeira bond girl negra da série – o detalhe é que todas as cenas dela de amasso com o 007 foram cortadas nas exibições da África do Sul na época, por causa do maldito apartheid que reinava naqueles dias.
Com 007 Viva e Deixe Morrer se sobressai graças aos elementos macabros e as boas cenas de ação. É o exemplar mais próximo do cinema exploitation da série. É daqueles filmes subestimados, mas que só melhora a cada revisão.
Otimo filme! Vou ler o livro! “James Bond, o maior detetive do mundo”- marcio “osbourne” silva de almeida – jlle/sc
Consegui o livro do Sir Ian Fleming (1908-1964) – Viva e deixe morrer, via o filme nas reprises da globo nos ’80 e’90. Unico livro que retrata de Vodoo Haitiano (magia negra caribenha)! – marcio “osbourne” silva de almeida – jlle/sc
A estréia de Roger Moore realmente foi com o pé direito, e esse é um os meus filmes preferidos de Bond. Uma das cenas mais legais, é a do velório na rua , até hoje surpreende. Merece ser revisto…