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A Fonte da Donzela (1959) (3)

A Fonte da Donzela
Original:Jungfrukällan
Ano:1960•País:Suécia
Direção:Ingmar Bergman
Roteiro:Ulla Isaksson
Produção:Ingmar Bergman, Allan Ekelund
Elenco:Max von Sydow, Birgitta Valberg, Gunnel Lindblom, Birgitta Pettersson, Axel Düberg, Tor Isedal, Allan Edwall, Ove Porath, Axel Slangus. Gudrun Brost, Oscar Ljung

Uma jovem sai de casa e no caminho acaba sendo perseguida por um grupo de criminosos que a estupram e matam. Ao final do fatídico dia, os malfeitores buscam abrigo em uma casa sem saber que trata-se dos familiares da garota assassinada. Os pais descobrem o crime e partem para a vingança. Nesta leitura, é possível imaginar que estamos falando do filme Aniversário Macabro (The Last House On The Left), dirigido por Wes Craven, em 1972. Mas o enredo deste texto pertence na verdade ao filme A Fonte da Donzela (Jungfrukällan), do cineasta sueco Ingmar Bergman e que foi lançado em 1960.

Trata-se então de Craven ter refilmado o trabalho de Bergman? Muito mais do que um remake, temos em Aniversário Macabro uma completa releitura da produção sueca, que em nada pode ser considerada uma produção de suspense ou terror, embora lide com alguns elementos comuns ao gênero.

Se a trama de Craven traz a ação para uma família norte-americana contemporânea da década de 1970, a história de Bergman acontece em uma Suécia medieval do século XIV com seus cavaleiros e damas. Para os fãs da obra de Craven, assistir A Fonte da Donzela é um exercício mais do que interessante sobre este vasto universo das adaptações fílmicas e como o terror consegue fazer interessantes releituras de obras aparentemente tão antagônicas.

A Fonte da Donzela (1959) (1)

Na obra sueca, conhecemos, Herr Töre (o fabuloso Max von Sydow) e Märeta Töre (Birgitta Valberg). Eles são casados e possuem uma propriedade rural com servos e agregados. Cristãos fervorosos, eles pediram para a filha adolescente Karin Töre (Birgitta Pettersson) levar velas para a igreja da região e acendê-las para a Virgem Maria. Karin sonha em só se entregar para um homem quando estiver casada e esta posição é reforçada pois Ingeri (Gunnel Lindblom), uma serviçal que mora em sua casa, está grávida.

No caminho da igreja Karin é estuprada e assassinada por dois pastores de cabras. Quando a noite chega, ironicamente, os criminosos vão pedir comida e abrigo para os pais de Karin. Inicialmente, eles são recebidos cordialmente e Herr Töre lhes promete trabalho. Märeta está nervosa, pois a filha não retornou. No meio da noite, um dos pastores, sem imaginar, quer vender uma peça de roupa de Karin para sua mãe. Ela reconhece a roupa da filha. A peça está suja de sangue. A vingança será antes do amanhecer.

Diferente da releitura feita por Craven, onde a violência acaba sendo o carro chefe, A Fonte da Donzela acaba tendo uma narrativa muito mais simbólica e cheia de metáforas dentro de questões religiosas. Divididos entre o lado cristão e pagão, os personagens frequentam igrejas e levam velas para Maria enquanto outros fazem promessas para o deus nórdico Odin. Antes de sua vingança, o personagem de Von Sydow faz um ritual de purificação do seu próprio corpo.

Assim como outros filmes de Bergman, a narrativa é apresentada de forma lenta. É neste contexto que acompanhamos o triste destino de Karin e principalmente a transformação do seu pai. Aqui entra uma importante crítica e provocação do diretor ao colocar seu público na posição de escolher o que fazer com o assassino da sua filha única. Ao final, a questão religiosa volta a ser apresentada em uma das sequências mais icônicas criadas pelo diretor.

A Fonte da Donzela (1959) (2)

O resultado veio na forma de bilheteria e importantes prêmios. A Fonte da Donzela foi indicado à Palma de Ouro em Cannes, venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro e faturou o Globo de Ouro. Os amantes da obra de Bergman podem considerar o trabalho de Craven uma heresia visto as qualidades apresentadas na produção sueca. Mas ao acompanhar a lógica cinematográfica onde a repetição parece ser o carro chefe, Craven se saiu muito bem no processo de resignificação da obra de Bergman.

Comparações entre críticos e fãs sempre vão ocorrer. E neste caso, a disputa por um título de melhor filme acaba sendo injusta visto que tratam-se de dois produtos que seguem de pontos iniciais mas são trabalhados de formas antagônicas por seus diretores. O grande exercício talvez em assistir aos dois filmes não responde como buscar uma comparação, mas apenas observar o trabalho de dois importantes diretores do cinema.

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1 comentário

  1. O desejo de vingança venceu. Grande filme!

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