Aniversário Macabro (1972)

3.6
(14)

Aniversário Macabro
Original:The Last House on the Left
Ano:1972•País:EUA
Direção:Wes Craven
Roteiro:Wes Craven
Produção:Sean S. Cunningham
Elenco:Sandra Peabody, Lucy Grantham, David Hess, Fred J. Lincoln, Jeramie Rain, Marc Sheffler, Richard Towers, Cynthia Carr, Ada Washington, Marshall Anker, Martin Kove, Ray Edwards

O trabalho de estreia de Wes Craven, um dos mestres do gênero pela criação de Freddy Krueger, é, sem dúvida, muito ruim. Considerado um clássico do exploitation, visceral e amargo, Aniversário Macabro (The Last House on the Left, 1972) tem mais fama do que méritos, e talvez tenha atraído a atenção pela ousadia de sua proposta e não pela realização. Revisto hoje, mesmo em sua versão sem cortes, trata-se de apenas um longa apelativo, muito mal dirigido, com péssimas atuações e com falhas grotescas no roteiro, e que serve apenas como curiosidade para que os fãs do cineasta possam conhecer seu trabalho de estreia. Há quem o defenda pelos excessos e até aponte maravilhas em sua construção, criticando futuros filmes de Craven por não mais conter a mesma crueldade de seus primeiros trabalhos, mas, até para estes apaixonados, suas limitações e falhas devem ser consideradas.

O filme foi feito com baixíssimo orçamento, algo em torno de U$90 mil dólares, e contou com o envolvimento de Sean S. Cunningham, depois que ambos trabalharam em Together (1971), primeiro crédito de Wes Craven. Com o sucesso, a Hallmark convenceu os dois a trabalharem juntos novamente na concepção de um filme de terror, mas invertendo os papéis de direção e produção. Craven então escreveu o roteiro de um filme hardcore, convencido de que a tendência da época seria esses exageros gráficos, porém, durante o processo de filmagem, optou por deixá-lo menos agressivo. Com inspiração na balada sueca “Töres döttrar i Wänge“, que conta a história de três irmãs mortas por saqueadores que depois tentam vender suas roupas na fazenda dos pais delas, e também no filme de Ingmar Bergman, A Fonte da Donzela, de 1960, Craven deu ao enredo uma concepção mais moderna, com o contexto do aniversário.

Contando com elenco praticamente inexperiente, à exceção dos que compõem a família Collingwood, Aniversário Macabro mostra o dia em que Mari (Sandra Peabody) está comemorando seus 17 anos, com a intenção de ir a um show com sua amiga Phyllis Stone (Lucy Grantham), mesmo sob o olhar questionador de seus pais, o Dr. John (Richard Towers) e Estelle (Cynthia Carr), que lhe dão uma correntinha como símbolo de proteção e paz. As amigas curtem alguns momentos juntas na natureza, antes de passearem pela cidade para comprar drogas, ignorando alertas no rádio sobre a fuga do perigoso Krug Stillo (David Hess), que teria viciado seu filho Junior (Marc Sheffler) com cocaína, e poderia estar com os comparsas Sadie (Jeramie Rain) e o molestador de crianças Fred “Weasel” Podowski (Fred J. Lincoln). Fred e Krug depois inspirariam Wes Craven no nome de seu maior personagem, o vilão dos pesadelos Freddy Krueger.

Ao perguntar a Junior sobre como adquirir drogas, elas são levadas ao cativeiro do grupo, onde tem início um pesadelo de tortura, violência psicológica e estupro. Phyllis já é violentada no próprio quarto, antes da manhã seguinte, quando é colocada em um porta-malas com Mari. Toda a ação agressiva tem como contraponto as preparações dos pais de Mari para o aniversário, com enfeites pela casa e produção de bolo. Eles estranham a demora no retorno, mas inicialmente acreditam que possa ser um sinal de que a filha está crescendo, sem imaginar que no dia seguinte teriam que acionar o apoio da polícia para acusar o desaparecimento. O Xerife (Marshall Anker) e o policial que o acompanha, interpretado por Martin Kove, são extremamente idiotas, servindo como um alivio cômico desnecessário para o que o filme se propõe.

O veículo dos bandidos sofre pane na estrada, coincidentemente nas proximidades da casa de Mari. Eles levam as garotas à mata, onde mais episódios de violência são mostrados, como obrigar Phyllis a urinar, e ter contato íntimo com a outra. A jovem aproveita um momento de distração, com o afastamento de Krug, para fugir pela mata e dar uma chance a Mari também fazer o mesmo, porém a jovem acaba perdendo muito tempo tentando convencer Junior a ir com ela, permitindo que Phyllis seja encontrada e esfaqueada, tendo os órgãos expostos para diversão de Sadie – a versão sem cortes traz uma longa tomada dela brincando com as entranhas da garota. Depois é a vez de Mari ser estuprada por Krug, em uma ação em que o próprio deixa evidente uma sensação azeda de seu excesso, sem demostrar orgulho pelo ato cometido – um dos poucos momentos inteligentes do enredo.

Depois do crime, os criminosos buscam abrigo na residência mais próxima, exatamente onde moram os pais de Mari. Muito bem recebidos pelo casal, logo os dois lados percebem a mórbida coincidência, até mesmo em um pesadelo premonitório (cena angustiante que envolve dentes e um martelo). Daí então, depois que encontram o corpo da filha, resolvem se vingar com as armas que têm, seja com sedução ou no extremo com uma motosserra. John chega a preparar armadilhas pela casa, sem que surtam efeito, e quase é morto por Krug, se não fosse uma atitude de consciência de Junior. Os quatro vilões irão enfrentar a fúria dos pais, aparentemente tranquilos, mas contarão com a torcida do espectador, desejando que as mortes deles sejam tão cruéis quanto as das meninas.

Apesar da ideia ser até interessante dentro do subgênero rape and revenge, Aniversário Macabro é muito mal realizado. Não traz a fotografia crua e proposital de O Massacre da Serra Elétrica, mas opta por um mesmo estilo pelos próprios recursos dispostos. A direção de Craven é bem amadora, com tomadas fechadas ou enquadramentos falhos, e que deixa em evidência a limitação do elenco. Até mesmo os “experientes” agem de maneira muito artificial – o olhar de Richard Towers para a refeição da esposa e todas as atuações de Marc Sheffler são constrangedoras – , tendo destaque positivo apenas o líder dos vilões, interpretado por David Hess. Não é à toa que é um dos poucos que vingaram depois de participar de Aniversário Macabro, enquanto os demais ou apenas estiveram neste papel, ou fizeram somente mais algumas coisas irrelevantes no cinema.

Entretanto, muitas dessas falhas poderiam ser ignoradas se o filme tivesse um roteiro bem estruturado. Com o apoio de uma trilha sonora escrita por Stephen Chapin e pelo ator David Hess, o longa perde pontos pelos desnecessários desvios cômicos e por algumas ideias bobas do enredo. A fuga de Phyllis, além de mal dirigida, faz a floresta próxima parecer um quintal; assim como seria bastante difícil para os pais encontrarem Mari morta, sem saber exatamente onde procurar. É o tipo de conveniência que impede Aniversário Macabro de ter uma melhor avaliação. Quem é fã de exploitation pode até elogiar todo o contexto e a violência sugerida, mas precisa admitir que se trata de um trabalho caseiro de Wes Craven, que depois, aos poucos, acertaria a mão em seus filmes seguintes.

Durante muito tempo fui fã de Aniversário Macabro. Tinha visto apenas duas vezes – uma versão cortada e outra com mais cenas -, e resolvi lhe dar uma chance com um olhar mais crítico. Por diversas vezes, senti vontade de usar o controle remoto para acelerar o filme, não porque as cenas violentas estivessem me deixando agoniado, mas porque boa parte do filme é enfadonho e arrastado, parecendo ter uma duração maior do que acusa a projeção. Nem mesmo os momentos mais agressivos justificam tantas avaliações positivas, a partir de seus supostos excessos. Assim, Aniversário Macabro funciona como curiosidade pelo primeiro trabalho de direção de Wes Craven, além da polêmica envolvida, apenas isso.

É apenas um filme. Apenas um filme ruim demais.

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Média da classificação 3.6 / 5. Número de votos: 14

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

11 thoughts on “Aniversário Macabro (1972)

  • 16/12/2023 em 21:46
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    Sem dúvidas o cara do site tá certo mesmo o filme e ruim mesmo de 0 a10 eu daria um 2 por ter sido feito por Sean cunigan o criador de sexta feira 13 e wes craven os caras por traz das duas maiores franquias de terror dos anos 80 só por isso o filme e muito porcaria e aquela musica parece trilha sonora do chaves o filme não tem clima os atores parecem amadores de enfim um lixo o trailer vende gato por lebre com a frase isso e só um filme ruim

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  • 15/12/2022 em 16:15
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    Um dos policiais patéticos é o Kreese (No Mercy) do Karatê Kid….

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  • 13/08/2022 em 19:03
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    Poxa, dessa vez eu discordei do Boca do Inferno. Esse é meu filme preferido desse diretor. Mas respeito a opinião do autor do artigo.

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      14/08/2022 em 10:35
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      Eu gostava também. Tinha uma imagem diferente do filme de estreia de Wes Craven. Mas ele não passou por uma nova conferida, depois que seus defeitos saltaram aos olhos. Direção ruim, atuações horríveis, roteiro cheio de falhas. Ele vale como curiosidade por toda a polêmica envolvida.

      Abs

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    • 14/08/2022 em 12:27
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      Esse filme é daqueles que não fazem juz à fama que tem. Apesar disso, prefiro ele ao remake…

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  • 13/08/2022 em 13:25
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    Estranho, lembro que o site já fez 1 ou 2 críticas falando bem do filme, por que metem pau agora? Seria uma consequência da praga do politicamente correto que está contaminando o site?

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      13/08/2022 em 13:40
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      Nada estranho. Tinha uma outra crítica favorável, mas a opinião de um autor não representa a de todos que escrevem e colaboram com o Boca do Inferno. E se você ler a crítica, verá que eu argumentei sobre os motivos que me fizeram desgostar dessa produção com o passar do tempo.

      Agora vem a questão: que politicamente correto é esse que está contaminando o site?

      Seria, para você, politicamente correto analisar produções (como muitas que farão parte do SexTERROR) sem expressar sexismo, racismo ou qualquer tipo de preconceito? Se sim, esse pensamento SEMPRE fez (e fará) parte das opiniões por aqui.

      Abs

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      • 13/08/2022 em 14:34
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        Não quis dizer o site em si, falei da mídia e cultura pop em geral e que o site poderia estar em risco de se juntar a esse tipo de pensamento.

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    • 02/01/2023 em 17:35
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      Verdade. Estão acabando com o boca do inferno, que há anos era minha referência como dicas de filmes de terror. Bons tempos do Felipe M. Guerra.
      Elew estao revezando as críticas que antes eram bem feitas sem mimimi e trazendo para lado da lacraçao, endeusando filmes comuns fracos em prol da lacraçao e detonando os clássicos.

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      • Avatar photo
        03/01/2023 em 14:29
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        Não estamos acabando com nada. Simplesmente, o Felipe não faz mais parte da equipe. E os textos e opiniões mudam. Aniversário Macabro é realmente um clássico, mas é muito mal realizado, mal feito mesmo. Agora não discutimos com argumentos como “mimimi” e “lacração”. Se não está satisfeito, é só procurar outros sites de terror por aí.

        Abs

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