Museu de Cera (1953)

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Museu de Cera
Original:House of Wax
Ano:1953•País:EUA
Direção:André De Toth
Roteiro:Crane Wilbur, Charles Belden
Produção:Bryan Foy
Elenco:Vincent Price, Frank Lovejoy, Phyllis Kirk, Carolyn Jones, Paul Picerni, Roy Roberts, Angela Clarke, Paul Cavanagh, Dabbs Greer, Charles Bronson

Um dia se revela todo o crime. Mesmo aquele que o peso da terra oprime. – Prof. Henry Jarrod

Um filme em especial, bastante lembrado e comentado do nostálgico cinema de horror produzido na década de 1950, e também da carreira do lendário ator Vincent Price, além de apresentar uma técnica inovadora em sua época, a exibição em três dimensões, está completando 62 anos de idade. Trata-se de Museu de Cera (House of Wax, 53), dirigido por André De Toth a partir de uma história de Charles Belden. É aquele típico filme que não envelhece e sustenta seu interesse ao longo de décadas, apresentando um protagonista principal que é uma pessoa importante e inteligente, mas que transforma-se num ser insano e vingativo após ser vítima de eventos trágicos e criminosos. Nesse caso, um célebre escultor de estátuas de cera que é traído pelo sócio e tem suas obras de arte destruídas por um incêndio que também desfigura violentamente seu rosto e mãos, fazendo com que retornasse como um assassino vingativo obcecado em reconstruir sua obra artística a qualquer preço, mesmo que em troca de vidas inocentes.

A história de Museu de Cera é ambientada na New York do início do século passado, onde um talentoso escultor chamado Prof. Henry Jarrod (Vincent Price), possui um museu com estátuas reproduzindo personalidades históricas moldadas habilmente em cera, como por exemplo a rainha do Egito Cleópatra e seu amante Marco Antonio, o presidente americano Lincoln e seu assassino John Wilkes Booth, a líder revolucionária Joana D’Arc, e outros. Ele é visitado por um conceituado e rico crítico de arte, Sidney Wallace (Paul Cavanagh), que fica fascinado pela beleza artística das obras de Jarrod, comprometendo-se em financiar seu trabalho quando voltasse de uma viagem após alguns meses. Porém, como os negócios estavam um fracasso e a situação financeira do museu passava por uma grande crise, o sócio de Jarrod na galeria, Matthew Burke (Roy Roberts), interessado unicamente nos lucros como empresário, preferiu agir desonestamente provocando um incêndio criminoso no museu para receber o dinheiro do seguro.

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Após uma briga com Jarrod, este último é abandonado desmaiado em meio ao fogo que consumia suas obras de arte, derretendo implacavelmente anos de trabalho dedicado com as figuras de cera.

Passado algum tempo, o famoso escultor reaparece novamente, sobrevivendo ao incêndio que desfigurou violentamente seu rosto e atrofiou as mãos impedindo-o de voltar a moldar suas estátuas. Ele agora apenas ensina outros escultores como o surdo-mudo Igor (Charles Bronson) e o alcoólatra e ex-presidiário Leon Averill (Nedrick Young), montando um novo museu de cera com a batizada Câmara dos Horrores, uma ala da galeria reservada especialmente para a exposição de estátuas de assassinos famosos e instrumentos de execução como a guilhotina e cadeira elétrica, além da reprodução de assassinatos históricos, investindo num negócio mais rentável ao explorar o mórbido fascínio que o horror e a violência sempre exerceram no público.

A partir daí, começaram a ocorrer mortes misteriosas na cidade com o estranho desaparecimento dos cadáveres do necrotério, como a namorada do ex-sócio de Jarrod, a loira Cathy Gray (Carolyn Jones), e o próprio criminoso Matthew Burke, responsável pelo incêndio que impediu para sempre o escultor de criar sua arte. Até que a bela Sue Allen (Phyllis Kirk), que dividia o aluguel de um quarto com Cathy, reconheceu uma incrível semelhança física entre a amiga desaparecida e a estátua de cera de Joana D’Arc numa visita ao museu através de um contato com seu namorado, o jovem escultor Scott Andrews (Paul Picerni), um novo aluno de Jarrod. Nesse momento, entra em cena uma dupla de policiais investigadores, o Tenente Tom Brennan (Frank Lovejoy) e o Sargento Jim Shane (Dabbs Greer), que começam a suspeitar de relações entre os desaparecimentos de cadáveres e as figuras de cera.

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Museu de Cera tornou-se muito conhecido por apresentar a técnica de exibição em três dimensões, num trabalho intenso de marketing que levou muita gente aos cinemas para conferir a novidade. Em determinado momento do filme, uma sequência em especial foi filmada de forma proposital para enfatizar os efeitos tridimensionais, onde um homem faz diversos malabarismos com uma bola amarrada por um fio em uma raquete, em frente ao museu de cera para chamar a atenção do público em conferir o espetáculo. Ele faz uma série de movimentos com a bola e raquete dando a impressão de acertar as pessoas que estão assistindo o filme sentadas nas poltronas do cinema. Curiosamente, na metade do filme houve até uma pausa inusitada, com a interrupção da projeção e aparecendo na tela uma breve mensagem de intervalo.

Vincent Price está como sempre muito convincente e intenso no papel de um artista amargurado com uma tragédia pessoal, e que se transforma num assassino insano e obcecado por vingança. Museu de Cera é um de seus primeiros trabalhos de horror, gênero que o consagraria para sempre. Já Charles Bronson ainda estava em início de carreira, e mesmo sem falar uma única palavra, já demonstra um talento que lhe garantiria uma enorme e merecida carreira de sucesso, principalmente em filmes de ação. Por curiosidade, a cena final faz uma interessante menção ao seu personagem surdo-mudo Igor, e que poderia tranquilamente servir como um gancho para uma continuação onde ele daria sequência ao legado de horror de seu mestre.

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O cineasta húngaro André De Toth nasceu em 1912 e faleceu no final de outubro de 2002 na Califórnia, Estados Unidos. Ele era especialista em filmes do gênero western e conhecido por seu talento em trabalhar com filmes de baixo orçamento. Com uma filmografia relativamente pequena, de aproximadamente 40 títulos, seu último trabalho foi em 1987 com o obscuro A Noite dos Horrores, trazendo no elenco o falecido ator Cameron Mitchell, sempre bastante participativo no gênero fantástico e que curiosamente também interpretou um vingativo e desfigurado curador de museu em Pesadelo de Cera (69), com história similar ao Museu de Cera.

O elenco é liderado por Vincent Price, um dos maiores atores de horror de todos os tempos, permanecendo imortal numa galeria de astros formada ainda por Lon Chaney, Bela Lugosi, Boris Karloff, Peter Lorre, John Carradine, Peter Cushing, Donald Pleasence e Christopher Lee, entre outros. Price nasceu em 1911 no Estado de Missouri, Estados Unidos, e faleceu em outubro de 1993, vítima de câncer no pulmão.

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Ao longo de sua bem sucedida carreira cinematográfica, ele participou de uma infinidade de séries de televisão e realizou mais de 100 filmes, sendo muitos deles de horror, gênero que o imortalizou definitivamente. Em sua obra encontram-se diversas preciosidades como A Mosca da Cabeça Branca (58), A Casa dos Maus Espíritos (59), A Queda da Casa de Usher (60), O Poço e o Pêndulo (61), Muralhas do Pavor (62), O Corvo (63), O Castelo Assombrado (63), Farsa Trágica (64), A Máscara Mortal (64), O Caçador de Bruxas (68), O Ataúde do Morto-Vivo (69), Força Diabólica (69), O Abominável Dr. Phibes (71), As Sete Máscaras da Morte (73), A Casa do Terror (74), A Mansão da Meia-Noite (83), entre outros. Muitos desses filmes foram dirigidos por Roger Corman em histórias baseadas na literatura macabra de Edgar Allan Poe.

Curiosamente, entre os coadjuvantes de Museu de Cera, estão dois nomes que merecem uma citação especial. A atriz Carolyn Jones (1929/83), que interpretou uma das vítimas da câmara de horrores, foi a cadavérica Morticia na série de TV A Família Addams (1964/66), num visual gótico com longos cabelos negros, bem diferentes de sua personagem loira em Museu de Cera, o que demonstra a facilidade em se mudar a cor dos cabelos dependendo da necessidade (algo similar e notável aconteceu também com Christina Ricci, que foi a garota morena Wednesday no filme A Família Addams (91), e uma bela jovem loira em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (99). Já Charles Bronson, que nasceu em 1921 e morreu no final de agosto de 2003, participou em Museu de Cera como o surdo-mudo Igor, em início de carreira quando ainda era creditado como Charles Buchinski. Com um personagem que não fala uma única palavra, ninguém imaginaria que o ator viria a se tornar famoso e muito requisitado depois, com uma carreira de sucesso de quase 100 filmes, e se destacando em papéis de policiais e justiceiros violentos. Sua imagem ficou eternamente associada à série de filmes Desejo de Matar, iniciada em 1974 e com uma franquia de cinco produções.

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Museu de Cera foi lançado no Brasil no formato DVD em 24/09/2003 pela Warner, trazendo também no lado B do disco o filme original de 1933, Os Crimes do Museu (Mystery of the Wax Museum), de Michael Curtiz, que é bem inferior à refilmagem de 1953, podendo ser considerado apenas como um bônus do material extra. Também vieram como extras um trailer de dois minutos sem legendas e apresentando basicamente várias frases promocionais em letras garrafais, enfatizando as inovadoras técnicas de 3D (para a época), num estilo de marketing que era bastante utilizado nos filmes do passado, além de imagens rápidas da movimentação de bastidores numa pré-estreia de Museu de Cera no cinema.

Vinte anos antes do lançamento de Museu de Cera, em 1933 foi produzido Os Crimes do Museu com Lionel Atwill no papel do escultor desfigurado Ivan Igor e a bela Fay Wray (a mocinha de King Kong, do mesmo ano) como sua musa inspiradora Charlotte Duncan. O filme tem várias diferenças em relação à refilmagem de André De Toth, as quais acabaram definindo-o como uma obra infinitamente inferior, sendo uma exceção quando na maioria das vezes o filme original tem superado as versões posteriores. Começando pela performance de Atwill, como o vingativo proprietário do museu, muito abaixo da atuação de Vincent Price, e também do assistente surdo-mudo Hugo (Matthew Betz), sem nenhum destaque e bem mais inexpressivo que o carismático Charles Bronson. Além de outros elementos que afastaram o filme de um clima de horror, aproximando-o mais de um thriller policial arrastado, cheio de erros de continuidade e edição, comuns nas produções do início da década de 1930, nos primeiros anos do cinema falado, além de ser filmado num sistema de poucos recursos em apenas duas cores. Outro fator negativo é a inclusão de uma inconveniente jornalista, Florence Dempsey (Glenda Farrell), que fala demais e muito rápido, sendo a heroína da trama por desvendar o mistério do museu de cera antes dos incompetentes policiais, e que tem uma relação conflituosa com seu igualmente descartável chefe, o editor do jornal Express, Jim (Frank McHugh). A utilização de irritantes diálogos com tentativas de comédia romântica e a medíocre cena final também ajudaram a fazer de Os Crimes do Museu um filme pouco empolgante e apenas comum.

Os Crimes do Museu (1933)
Os Crimes do Museu (1933)

Como curiosidade nesse filme de Michael Curtiz, numa determinada cena a jornalista Florence, ao tentar descrever para a polícia a aparência do assassino desfigurado, deformado no incêndio, disse que ele se parece com Frankenstein. Esse é um erro que já foi e continua sendo cometido uma infinidade de vezes, tanto pelo cinema quanto por fãs em geral, insistindo no equívoco de associar uma imagem horrível à Frankenstein, que na verdade é o nome de um cientista, em vez de fazerem a comparação com a criatura de Frankenstein, que é o monstro criado pelo cientista a partir de pedaços de cadáveres de seres humanos. Essa confusão aumentou ainda mais após o lançamento de A Noiva de Frankenstein (35), cujo título do filme reforçou a impressão, errada por sinal, de que o monstro se chamava Frankenstein, pois na história o cientista criava uma noiva para o monstro.

Os Crimes do Museu (1933)
Os Crimes do Museu (1933)

Para finalizar e confirmando a falta de originalidade que a indústria do cinema americano está enfrentando atualmente, Museu de Cera, que já é uma refilmagem de Os Crimes do Museu, com algumas variações, houve também um remake da Dark Castle, de Joel Silver e Robert Zemeckis, chamado A Casa de Cera, lançado em 2005. A produtora é responsável por outras refilmagens de filmes dos anos 1960 como A Casa da Colina (House on Haunted Hill, 99) e Treze Fantasmas (Thirteen Ghosts, 2001), além de Navio Fantasma (Ghost Ship, 2002) e Na Companhia do Medo (Gothika, 2003).

Os Crimes do Museu (1933)
Os Crimes do Museu (1933)é

As figuras de cera também se parecem com outras pessoas. Pessoas que desapareceram…

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Juvenatrix

Uma criatura da noite tão antiga quanto seu próprio poder sombrio. As palavras são suas servas e sua paixão pelo Horror é a sua motivação nesse Inferno Digital.

5 thoughts on “Museu de Cera (1953)

  • 22/06/2022 em 23:43
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    Assisti essa noite, achei bem criativo, mas terror mesmo eu não achei mas ainda consegue cria um clima de horror graças as esculturas de cera em uma cena no escuro

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  • 15/07/2015 em 22:27
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    este filme é um classico e melhor do que original de 1933,este filme era exibido a exaustão pela TVS nos anos 80,faz anos que ele não é exibido na TV Aberta assim com muitos outros classicos do genero terror e fantastico.. não são exibidos mais triste fim da TV Brasileira,hoje só passa lixo.

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