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O Homem Mascarado
Original:El Mascarado Massacre
Ano:2006•País:EUA
Direção:Jesse Baget
Roteiro:Jesse Baget
Produção:Chris Moore
Elenco:Adam Huss, Jeremy Radin, Leyla Milani, Margaret Scarborough, Catherine Wreford, Zack Bennett, Irwin Keyes, Fred Tatasciore

“A versão slasher de Nacho Libre”

A luta livre mexicana – ou lucha libre como é conhecida por lá – é um dos esportes mais populares naquele país. Os luchadores – que sempre participam dos combates mascarados e são distinguidos pelo grande público apenas por codinomes – são tratados como reis e mais valorizados até do que grandes autoridades, provocando admiração nos adultos e servindo de modelo para as crianças.

Diz a sabedoria popular que um luchador mascarado jamais poderia revelar sua identidade na vida cotidiana e que ter sua máscara retirada após ser derrotado em uma lucha é um dos maiores sinais de humilhação que pode sofrer – se bem que mesmo desmascarado ele ainda pode apostar o cabelo contra outro luchador mascarado e recuperar parte de sua honra. Desta forma quanto menos se souber sobre quem está no ringue, maior o respeito que esta pessoa tem.

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Não é de se surpreender que estes fortões tenham também seus próprios filmes e no México o maior exemplo seja o luchador conhecido como ‘El Santo‘ – nome artístico de Rodolfo Guzmán Huerta, falecido em 1984 – que participou de mais de 50 produções em toda sua carreira (se quiser saber mais informações sobre El Santo, não se esqueça de ler a crítica de Felipe M. Guerra para o filme Santo Y Blue Demon Contra El Doctor Frankenstein).

Do outro lado da fronteira, nos Estados Unidos, Jesse Baget desde pequeno é fã de lucha libre e dos filmes de El Santo e por muito tempo quis realizar uma produção estrelada por um luchador maníaco-homicida. E foi deste tema que Baget realizou seu debut – dirigindo, escrevendo e editando The Mexican Porn Massacre cujo título se tornou El Mascarado Massacre e finalmente Wreslemaniac, como foi lançado em DVD lá fora. No Brasil, o nome escolhido pela distribuidora Paris Filmes para ganhar as prateleiras das locadoras foi O Homem Mascarado, estranhamente retirando tanto o terror quanto qualquer outra característica que dê uma pista sobre o que a produção se trata.

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Escolhas erradas à parte, O Homem Mascarado é um slasher sem maiores surpresas, com pontos altos e baixos que oscilam entre momentos de genuína diversão e outros de absoluta idiotice, mas de maneira geral é um considerável ponto de partida para o iniciante Jesse Baget.

No roteiro simples, seis pessoas estão se dirigindo dos Estados Unidos para Caba San Lucas, México, em uma perua com o intuito de filmar um pornô amador: Alphonse “The Dick” (Adam Huss) é o diretor, o gordinho Steve (Jeremy Radin, uma mistura engraçada de Jack Black e Jorge Garcia, o Hurley do seriado Lost) é o cameraman, o aditivado Jimbo (Zack Bennett) é o dono do veículo e as garotas Dallas (Leyla Razzari, que já participou de várias lutas de Telecatch), Debbie (Margaret Scarborough) e Daisy (Catherine Wreford) são as protagonistas. E só para constar, através do nome escolhido para as duas primeiras personagens femininas o diretor presta uma homenagem a um clássico do cinema erótico, Debbie Does Dallas, de 1978.

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A viagem continua animada, regada a cocaína, maconha e sacanagem, até que eles se vêem perdidos em uma estradinha de terra no meio do nada. Então a trupe roda a esmo até encontrar um posto de gasolina supostamente abandonado e pára por lá, porque uma das garotas precisa usar o banheiro. Disse supostamente, porque sai de lá um camarada totalmente bizarro (Irwin Keyes de A Casa dos 1000 Corpos, falecido recentemente) que fala, entre outras maluquices, que os viajantes estão muito longe da civilização e a única coisa que está por perto é uma pequena cidade fantasma chamada “La Sangre de Dios“.

Steve se revela empolgado com a possibilidade de conhecer a cidade, pois ele é fanático pelas histórias de lucha libre e, de acordo com a lenda, o maior luchador mexicano de todos os tempos, El Mascarado, foi enviado para esta cidade depois de enlouquecer e matar vários de seus oponentes no ringue. Após este evento, não mais se soube o que aconteceu com o local.

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De acordo com o diretor Baget, o roteiro deveria se passar em um hospício desativado, porém por conveniências de orçamento (que somam aproximadamente 850 mil dólares) a história foi alterada para se passar num vilarejo, porém a emenda não ficou tão convincente e acabou deixando esta explicação meio confusa: por que mandariam um louco ensandecido para uma pequena aldeia e não para uma prisão?

Enfim, já que o combustível é insuficiente para dar meia volta e sem muitas outras opções, o grupo resolve se dirigir até a cidade com Alphonse querendo aproveitar para rodar seu pornô por lá mesmo, até porque o veículo foi avariado por uma enorme pedra que estava na estrada.

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O local tranquilo está vazio aparentemente e as construções parecem abandonadas há muito tempo – inclusive o roteiro aproveita para prestar tributo a Jason Voorhees colocando seu sobrenome em uma das fachadas do comércio. Como curiosidade a cidade fantasma foi utilizada anteriormente como locações para o filme Bubba Ho-Tep, com Bruce Campbel.

Voltando ao roteiro, não é preciso alongar demais a resenha para o leitor adivinhar que eventos estranhos acontecem e logo mais a noite eles vão confirmar que a lenda de El Mascarado (o luchador profissional Rey Mysterio Sr.) é mortalmente real.

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Eu poderia até parar a sinopse por aí, mas não poderia deixar de relatar a amalucada origem do maníaco, e como não faz diferença alguma na trama, não se trata de um spoiler: na verdade El Mascarado é uma experiência do governo mexicano para ganhar a medalha de ouro nas olimpíadas de 1968 (aparentemente o governo mexicano não sabia a diferença de luta olímpica e lucha libre na época) e para tanto foi feita uma “fusão” de seus três melhores atletas através de cirurgias. E o instinto violento do espécime foi tão feroz que dizimou a cidade! Parece realmente um vilão saído de um filme de El Santo

O roteiro deveria ficar excelente no papel, com elementos de O Massacre da Serra Elétrica e da franquia Sexta-Feira 13, as piadas funcionando e os momentos de suspense bem cadenciados, porém na prática não é isto o que acontece. Simplesmente as situações são forçadas demais para serem verossímeis e os personagens são bobos demais para se levar a sério.

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Senão vejamos: um gordinho nerd tarado por lucha libre (ele anda até com uma máscara amarela no bolso), um diretor de pornô amador que participa “ativamente” de suas produções (e se desloca milhares de quilômetros até o México só pra filmar sacanagem), um cara chapado de maconha que não faz merda nenhuma o filme todo e três gostosas com a libido em fervorosa (que rendem as cenas de nudez gratuita)… não é o tipo de público que costuma se dar bem contra assassinos mascarados. Todavia não é tudo o que fica prejudicado e algumas coisas até funcionam dentro do contexto horror/comédia, como a “posição de esconder” da personagem Dallas.

Se você tiver sangue frio o suficiente para comprar a ideia de Baget na esportiva, fica muito mais fácil de engolir. Claro que ainda assim precisa-se levar em conta que não deve se esperar mais do que um slasher padrão com muitas perseguições e mortes violentas, com direito a dentadas em concreto maciço e peles do rosto arrancadas a mãos nuas.

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Neste caso, o quesito que faz a diferença na hora da locação é a técnica do diretor, bastante trabalhada para uma produção de estréia com baixo orçamento. Em uma cena em especial, quando Steve entra no ringue contra El Mascarado pela primeira vez, a câmera fica por fora do recinto com as portas fechadas se aproximando lentamente. Apenas ouvimos os gritos do gordinho e pensamos em seu destino… É Argento puro! Não à toa, o diretor afirmou em entrevista que o trabalho de câmera foi inspirado principalmente por Prelúdio para Matar e Faster, Pussycat! Kill! Kill! do mestre do softcore, Russ Meyer.

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Porém o nível não se mantém por muito tempo e logo na continuação desta mesma cena, o diretor falha em mostrar que Steve não apenas está bem, mas ainda se levanta para enfrentar o maníaco novamente.

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O exemplo desta sequência se aplica para todo o restante da película: Baget não se decide se deixa o sugerido ou mostra explicitamente (embora a segunda escolha seja a mais usada), o que avaria significativamente a condução da narrativa.

Também existem outras coisas que chamam a atenção, como a fantástica trilha sonora – uma mistura de clássicos do folclore mexicano e músicas contemporâneas – e a caracterização do famoso luchador mexicano Rey Mysterio Sr. (nome verdadeiro, Miguel Ángel López Díaz) como El Mascarado, que, na minha opinião, apesar de aparecer menos do que deveria, rouba a cena em todas as vezes que o faz. Permanentemente sujo de sangue, o homem é troncudo de meter medo e por isso é bem aceitável que ele subjugue todas suas vitimas com tamanha violência. Enfim, uma escolha louvável do diretor.

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No frigir dos ovos, O Homem Mascarado irá funcionar mais para quem tem afinidade por luchas libres e está a fim de ver uma sincera homenagem vinda de um diretor estreante, pois apenas como slasher deixa muita coisa a desejar para ser memorável. Se ainda estiver na dúvida, alugue assim mesmo, pois no pior dos casos são somente 75 insanos minutos de brutalidades, peitos de fora e luchadores assassinos. E com uma fórmula desta é difícil errar.

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3 Comentários

  1. Longe de ser um clássico, mas tirando os furos do roteiro e interpretações fracas, o filme é bem razoável e dá para assistir tranquilamente.

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