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Quando as Luzes se Apagam (2016)

Quando as Luzes se Apagam
Original:Lights Out
Ano:2016•País:EUA
Direção:David F. Sandberg
Roteiro:Eric Heisserer, David F. Sandberg
Produção:Eric Heisserer, James Wan
Elenco:Teresa Palmer, Gabriel Bateman, Maria Bello, Alexander DiPersia, Billy Burke, Alicia Vela-Bailey, Andi Osho, Rolando Boyce, Maria Russell

“Você já correu seus dedos pela parede e sentiu a pele de sua nuca arrepiar quando estava procurando a luz? Algumas vezes você está com medo de olhar no canto da sala, pois sente que alguma coisa está observando você?” (Fear of the Dark, Iron Maiden)

Sensações assim fazem parte de um dos medos mais comuns relatados durante análises em grupo: o medo do escuro, também conhecido como “escotofobia“. É o terror primário, aquele que perturba desde os anos iniciais de vida, muitas vezes acompanhado do alerta dos adultos sobre o que se esconde debaixo da cama ou no guarda-roupa, em uma tentativa de preservar o ambiente.

Sem a iluminação adequada, a imaginação desenvolve monstros repugnantes, psicopatas à espreita com seu punhal afiado ou assombrações diversas. Você não se sente corajoso o suficiente para encarar o seu medo, e a primeira reação é a de chamar alguém para protegê-lo do vilão obscuro. É claro que esse temor já foi inúmeras vezes abordado no gênero fantástico, com a escuridão sendo iluminada levemente pela lanterna falha ou pelo flash de uma câmera fotográfica, como visto em Espíritos – A Morte está ao Seu Lado (2004). Em um dos incentivadores da fórmula found footage, [Rec] (2007), de Jaume Balagueró e Paco Plaza, por exemplo, a sequência final, no quarto escuro que hospedou a Menina Medeiros, é um dos momentos mais apavorantes do cinema de todos os tempos.

Quando as Luzes se Apagam (2016) D

Infelizmente, o horror muitas vezes deixa de lado o sugestivo e coloca seus jovens personagens em matas iluminadas, para facilitar a visualização do susto, sendo que seria muito mais efetivo escondê-lo como em Extermínio 2 (2007), na cena do metrô, iluminado apenas pela lanterna. O escuro poderia ser muito melhor explorado se a sua frequência fosse maior no gênero, sem que os realizadores se preocupem com as expressões faciais, deixando o som externo fazer o seu trabalho. Em A Bruxa de Blair (1999), não há nada mais incômodo que a floresta morta que circunda o acampamento, além do choro de bebês nas proximidades.

Em 2013, o curta-metragem Lights Out, de David F. Sandberg, resgatou o medo do escuro em sua essência ao apresentar em menos de três minutos o que há de mais perverso nas sombras que a luz apagada permite quase ver. É claro que a febre de visualizações no Youtube encaminharia o curta para o mesmo caminho do efetivo Mamà, ampliando os sustos para uma versão mais completa, porém com o acréscimo de clichês comuns ao gênero já vistos em outros filmes escotofóbicos como Habitantes da Escuridão (They, 2002), Medo do Escuro (Fear of the Dark, 2002), No Cair da Noite (Darkness Falls, 2003) entre outros. Ainda assim, é possível que boa parte do público se divirta com essa nova assombração, em sua caracterização macabra, e o pesadelo dos que estão a mercê de suas ações.

Em mais uma noite estressante de trabalho na fábrica de tecidos, Paul (Billy Burke, da Saga Crepúsculo) é incomodado pela funcionária Esther (Lotta Losten, do curta Lights Out), a respeito de algo esquisito que ela testemunhou nas sombras. Uma silhueta feminina, de dedos longos e olhos iluminados, movia-se lentamente pelo ambiente a cada toque no interruptor. Paul estaria mais preocupado com a conversa que teve com seu filho Martin (Gabriel Bateman, de Annabelle, 2014), assustado com uma atitude estranha de sua mãe, Sophie (Maria Bello, de Os Suspeitos, 2013). Logo após, Paul encontra seu destino sendo estraçalhado na escuridão de seu escritório, não antes de mostrar rapidamente em uma estante um bonequinho do fantasma do curta Lights Out.

Quando as Luzes se Apagam (2016) (2)

Com a morte do pai, o garoto se sente ainda mais impotente diante das insanidades da mãe. Sua insegurança se intensifica quando ele a fragra conversando com algo sombrio que se esconde da luz e que o manterá acordado por noites até chamar a atenção da meia-irmã Rebecca (a gatinha Teresa Palmer, de Meu Namorado é um Zumbi, 2013), esquivando-se de uma relação mais profunda com Bret (Alexander DiPersia, de Forever, 2015). Preocupada com a angústia de Martin, a garota aos poucos se convence de que um pesadelo que a atormentou na infância pode ter retornado para fazer o mesmo com o pequeno. Tema Diana (Alicia Vela-Bailey, de Uma Noite de Crime, 2013)!

A partir daí, cenas de aparições sinistras, vozes anasaladas e algumas pistas conduzem a protagonista a uma investigação do passado, como Rachel, de O Chamado (2002), e tantas outras heroínas ocasionais do gênero. Uma foto facilmente encontrada no quarto, com a pequena Diana escondida nas sombras; um hospital psiquiátrico e seus experimentos estranhos; fitas de áudio guardadas – sabe-se lá porque – com o som no trecho necessário para o entendimento do público. São essas facilidades do roteiro de Eric Heisserer (do remake de A Hora do Pesadelo) que impedem uma avaliação mais positiva.

Lights Out (2016) (1)

Isso somado a um apagão repentino; à lanterna de luz negra encontrada facilmente no porão; ao momento em que Rebecca e Martin decidem olhar um material do hospital e ficam sob a iluminação de um pequeno abajur, mesmo sabendo da ameaça na escuridão; os policiais que chegam para investigar sem função aparente…enfim, falhas e clichês que poderiam ser resolvidos com um roteiro mais bem estruturado. Por outro lado, há uma boa dose de sustos, poucos personagens e todos carismáticos, atuações boas – principalmente a do menino – em um filme curto, de apenas 1h20. Entre os momentos mais interessantes, Sophie resolve apresentar oficialmente Diana para o filho, tentando deixá-lo no mais absoluto breu.

Quando as Luzes se Apagam (2016) (1)

Quando as Luzes se Apagam tem uma história simples de assombração, daquelas sempre presentes no “monstro da semana” de várias séries do gênero como Supernatural e Arquivo X. Não há razões contundentes para o desenvolvimento da vilã, apresentada de maneira estereotipada e sem os elementos necessários para fazê-la – desculpe o trocadilho – brilhar. Contudo, o sucesso do filme, com o orçamento pago no final de semana de estreia, já impulsionou uma continuação e ainda elevou o diretor David F. Sandberg ao status de novo nome do gênero, tendo como primeiro passo o comando de Annabelle 2. Muito pouco para um filme que até diverte, mas deve desaparecer de sua memória quando as luzes do cinema se acenderem.

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4 Comentários

  1. quem fez essa crítica? o filme é muito bom. entrega o que quem que entregar, cria uma boa atmosfera e atende sim às expectativas. o boca do inferno tem ficado muito chatinho esses últimos tempos. tudo é motivo de crítica negativa, inclusive boas produções. sinto falta dos antigos colaboradores.

  2. é incrível como filme nesse estilo tipo, “annabelle” e “invocação do Mal” (que são divertidos…) façam mais sucesso que filmes tipo “The Babadook” e ” A Bruxa” ….o terror tem que ser tão “polido” pra fazer sucesso ? acho esse tipo de filme divertido ,mas esses sustos no escuro já estão repetitivos!! ótima critica Marcelo parabéns!!

    1. Poxa, Vitor, citando “The Babadook” e “A Bruxa”, bate até uma bad. Filmes tão bons e tão raros… Temos uma proporção de 1 filme desses lançado no cinema por ano, e olhe lá.
      Não que o susto fácil não seja divertido, mas a frequencia de filmes lançados nesse estilo causa esse sentimento – essa saudade de filmes complexos e bem construídos. =/

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