Esfera
Original:Sphere
Ano:1998•País:EUA Direção:Barry Levinson Roteiro:Kurt Wimmer, Michael Crichton, Stephen Hauser, Paul Attanasio Produção:Michael Crichton , Barry Levinson, Andrew Wald Elenco:Dustin Hoffman, Sharon Stone, Samuel L. Jackson, Peter Coyote, Liev Schreiber, Queen Latifah, Huey Lewis, James Pickens Jr. |
As intenções de fazer de Esfera (Sphere, 1998) o novo clássico da ficção científica se afundaram no oceano melodramático das críticas negativas. Observa-se esse intento como uma ilha cercada por patrocinadores, elenco de rostos conhecidos e frases de efeito, tendo como base um romance desenvolvido por Michael Crichton, um fértil autor de blockbusters. Só para o infernauta entender a presunção dos envolvidos, Crichton (1942-2008) escreveu, entre outros, O Enigma de Andrômeda, Congo, Jurassic Park, O Mundo Perdido e Twister. Basear uma produção em alguma obra de sua autoria era praticamente sinônimo de sucesso. Por que, então, Esfera não funcionou?
Com um orçamento estimado em quase 80 milhões de dólares, o filme de Barry Levinson – do divertido O Enigma da Pirâmide (1985) e de outros ótimos trabalho como Rain Man (1988), Avalon (1990) e Sleepers – A Vingança Adormecida (1996) – não alcançou os 40 em sua passagem desastrosa pelos cinemas, com mais críticas negativas do que elogios. Na época, o crítico da Folha de S.Paulo José Geraldo Couto escreveu “Esfera é ficção científica quadrada“: “Barry Levinson quase transforma tudo num teatrão meloso, que é o que ele gosta mesmo de fazer. O problema é que na ficção científica não dá para enrolar. Tem que ser do ramo.” E realmente é bem por aí, principalmente quando tudo o que envolve o produto do título se dissolve na primeira parte, a única que vale a pena.
Quatro especialistas – o psicólogo Dr. Norman Goodman (Dustin Hoffman), o matemático Dr. Harry Adams (Samuel L. Jackson), a bioquímica Dra. Elizabeth ‘Beth’ Halperin (Sharon Stone) e o astrofísico Dr. Ted Fielding (Liev Schreiber) – são chamados para uma aparente missão de resgate. Algo caiu no oceano e eles precisam auxiliar nas investigações a partir de seus conhecimentos. A missão secreta, aparentemente Norman acredita que se trata de um avião com sobreviventes, necessitará um envolvimento profundo da equipe para estudar o achado que poderá revolucionar a ciência.
Nas profundezas, instalados numa base submersa, eles acessam uma nave americana e encontram no interior uma esfera brilhante, dourada, gelatinosa, algo com identidade alienígena. Além da curiosidade diante dos mistérios que envolvem o artefato, os cientistas precisam aprender a lidar com suas diferenças intelectuais – Harry e Ted vivem em eterno conflito – e com o passado mal resolvido – Norman e sua ex-paciente Beth tiveram uma relação intimamente complicada. Nesse processo, a esfera não pretende solucionar os embates, mas ampliá-los a partir de sua cativante atração. Assim, antes de iniciar as pesquisas, Harry já se voluntaria para ser absorvido pela esfera, retornando pouco depois diferente, como que possuído por uma força misteriosa. E ele não será o único a tentar uma aproximação.
Depois desse contato com o objeto, tanto o longa quanto o espectador perdem o interesse. Acusações sobre atitudes suspeitas promovem o drama além do limite aceitável, e os diálogos com as forças alienígenas pela tela de um computador ultrapassado soam bobas e desnecessárias. Nesse embrólio de ficção científica, até mesmo o elenco parece perdido na importância de 20.000 Léguas Submarinas, no temor de Harry da página 87, desperdiçando a participação do comandante da expedição Harold C. Barnes (Peter Coyote) em prol da limitada Alice ‘Teeny’ Fletcher (Queen Latifah). Talvez Esfera tivesse mais sucesso se viesse antes de O Enigma do Horizonte (1997), que mantém a mesma temática da idolatria e transformação, mas com um resultado mais eficiente ao dialogar o medo com a ficção científica.
Se Esfera se beneficia da claustrofobia, da sensação de missão suicida, nas palavras de Harry, e dos aspectos técnicos, por outro lado não explora o tempo da missão e a loucura proeminente do estado de impotência diante da força superior. Dividido em capítulos que não representam absolutamente nada, o longa não sai do lugar-comum, nem traz conteúdo suficiente para alcançar a superfície das produções de ficção científica.
Quando criança, eu confundia este filme com o Enigma do Horizonte. rsrsrs