A Maldição da Casa Winchester (2018)

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A Maldição da Casa Winchester
Original:Winchester
Ano:2018•País:EUA, Austrália
Direção:Michael Spierig, Peter Spierig
Roteiro:Michael Spierig, Peter Spierig, Tom Vaughan
Produção:Tim McGahan, Brett Tomberlin
Elenco:Helen Mirren, Sarah Snook, Finn Scicluna-O'Prey, Jason Clarke, Emm Wiseman, Tyler Coppin, Angus Sampson, Alice Chaston, Eamon Farren, Laura Brent

Não é a primeira vez que se associa uma casa aos dizeres dela ser a mais assombrada da América ou até mesmo do mundo. Basicamente, trata-se de uma maneira de atrair a atenção do público, seja para visitas em tours macabros ou para qualquer produto que venha a partir dela, como toda a franquia Amityville está aí para confirmar. No caso específico da Mansão Winchester, vale a curiosidade de conhecer um dos projetos de arquitetura mais insanos já realizados, e a intenção comprazida de abrandar os espíritos perdidos, vítimas da famosa fabricante de armas. O bom elenco e a bela fotografia também satisfazem os interessados, porém não escondem um roteiro pífio e repleto de clichês (para não dizer “lugares-comuns“).

Desde 2009, foram adquiridos os direitos de produzir um filme sobre a famosa casa. Até então, o local era aberto para o público tirar fotos e produzir suas próprias lendas, como alguns caçadores de fantasmas chegaram a fazer. Mesmo com o rascunho do roteiro já escrito, foi em 2016 que os irmãos Spierig assumiram a cadeira de diretor e finalizaram o enredo. Daí por diante, houve a seleção do elenco, com a contratação da estrela Helen Mirren, e, posteriormente, Jason Clarke, Sarah Snook e Angus Sampson, tendo as filmagens iniciadas em março de 2017 com o título Winchester: The House That Ghosts Built. Com um orçamento estimado em U$3.5 milhões, o longa estreou em 2 de fevereiro na América e em alguns países, alcançando o valor de U$21 milhões no box office, mesmo com algumas críticas pouco favoráveis.

No Brasil, A Maldição da Casa Winchester teve a distribuição da Paris Filmes, em 1º de março. Houve uma proposta inicial de que o Boca do Inferno fizesse um concurso para a seleção do título do filme, mas acabou não se concretizando porque o nome já teria sido escolhido pela própria distribuidora internacional, a Imagination Design Works. De qualquer modo, ele seguiu o padrão de lançamento por aqui, que visa a sugestão do gênero no título para evitar que os desavisados possam confundir o produto com a série Supernatural, por exemplo. Apesar que a confusão não seria assim tão absurda…

Antes, um pouco de História. Sarah Winchester (1840-1922) é a viúva do famoso fabricante de armas William Winchester. Eles se casaram em 30 de setembro de 1862, e tiveram uma única filha, Annie Pardee Winchester, que faleceu um mês depois do nascimento, em 1866. Sucumbido pela tuberculose, William faleceu em março de 1881, deixando para a esposa uma herança em torno de mais de U$20 milhões, além de 50% dos direitos pela companhia Winchester Repeating Arms Company. Para aliviar as perdas, Sarah, que se considerava amaldiçoada pelas vítimas da arma, passou o restante de sua vida construindo e reconstruindo uma mansão que adquirira em 1886, com ambientes que desafiam qualquer estudo de arquitetura e escadas e portas que não levam a lugar algum. Só houve um período sem reformas, quando a casa foi bastante atingida por um terremoto, em 1906.

Assim, nesse ano específico, o viciado em drogas e problemático doutor Eric Price (Clarke, de Planeta dos Macacos: O Confronto, 2014) foi contratado pela empresa Winchester para ficar durante um período na casa e avaliar a saúde mental de Sarah Winchester (Mirren, de Hitchcock, 2012). Se ela for considerada insana, perderá os direitos que possui pela companhia, um interesse particular daqueles que detêm a outra metade dos lucros. Quando chega à imensa residência, repleta de trabalhadores e serviçais para atender a todos os ambientes, Eric conhece duas parentes de Sarah – não mencionadas na História real -, Marion Marriott (Snook, de O Predestinado, 2014) e seu filho Henry (Finn Scicluna-O’Prey), o primeiro a demonstrar suscetibilidade aos fantasmas que são atraídos ao local.

Sem muita mobilidade pela casa, sendo vigiado constantemente pelos funcionários, o rapaz já começa a sofrer de visões fantasmagóricas, como a que aparece por detrás do espelho ou sentado numa poltrona, naqueles tradicionais e amargos jump scares do gênero. Se por um lado é interessante o sistema de comunicação por aberturas nos quartos, por outro, ele é pouco explorado, assim como boa parte das assombrações que vivem ali, presas em cômodos que imitam o lugar de suas mortes, com a tranca de 13 pregos. É impossível não traçar uma referência direta com o terror 13 Fantasmas (de 1960 e 2001), não apenas pela numeração mas pela intenção de habitar entidades em portas lacradas, outra inventividade que não tem relação com os fatos, no enredo dos Spierig e Tom Vaughan.

Acreditando que as visões possam ser oriundas de seu vício, Eric, fascinado pela moradia e anfitriã, custa a acreditar que Henry possa ter sido influenciado por algum fantasma. Ele também possui um próprio passado assustador para sua consciência, quando perdera a esposa Ruby (Laura Brent) de maneira trágica. Tudo se relaciona artificialmente aos propósitos de um roteiro que também pretende soar poético, com um vilão sem muita força aterrorizante, parecendo um monstro-da-semana da série Supernatural.

Apesar da ambientação interessante, A Maldição da Casa Winchester segue a cartilha das casas assombradas do gênero, ao explorar moradas sinistras, aparições macabras e uma maldição. Os Spierig, do recente Jogos Mortais: Jigsaw, conduzem de maneira tecnicamente eficiente, mas sem uma assinatura própria. Pecam por trabalharem ideias e fantasmas já vistos antes, deixando de lado um dos pontos mais eficazes do estilo: o terror sugestivo. Notem que o prólogo não serve para nada que não seja trazer um sustinho inicial com uma criança sinistra, com os olhos brancos e seu rosto coberto.

Do mesmo modo que Sarah tinha uma louca obsessão pela construção de sua casa, o enredo deve ter sofrido diversos ajustes. Passado de mão em mão e alterado diversas vezes durante as filmagens, ele justifica o porquê de algumas passagens não levarem a lugar algum.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “A Maldição da Casa Winchester (2018)

  • 20/06/2020 em 22:58
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    O filme em si e bom, mas se você esta a procura de algum filme que realmente o assuste e te deixe de boca aberta esse nao e o ideal. Nao me arrependo de ter assistido ele, mas nao tenho vontade de assistilo novamente justamente por ser “fraco”. De 0 a 10 minha nota e 6.

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  • 09/03/2018 em 01:18
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    Apostava alto nesse filme por causa de Helen Mirren e Jason Clarke. Fraquíssimo demais

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  • 08/03/2018 em 15:13
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    Esse é caído mesmo, parece episódio ruim de série de TV de terror. Até Helen Mirren está péssima no papel. Não vi Jigsaw, mas esses irmãos aí, pelo jeito, ficam na promessa.

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