Le Chalet
Original:Le Chalet
Ano:2017•País:França Direção:Camille Bordes-Resnais Roteiro:Camille Bordes-Resnais, Alexis Lecaye Produção:Alexis Lecaye Elenco:Chloé Lambert, Philippe Dusseau, Blanche Veisberg, Eric Savin, Mia Delmaë, Manuel Blanc, Emilie de Preissac, Marc Ruchmann, Maud Jurez |
Está virando uma regra: os melhores produtos da Netflix – ou, pelo menos, os mais interessantes – são oriundos de países distantes da indústria de Hollywood. Só para citar dois exemplos recentes, basta dar uma oportunidade às séries La Casa de Papel e Dark. Talvez pela produção caprichada ou por se esquivar de muitos clichês, ou talvez por pura coincidência, uma vez que há quem venere Stranger Things, entre outras, o que se deve considerar na escolha de uma nova obra é seu país de origem e as criticas a respeito. No caso de Le Chalet, pode ser um pouco dos dois, em uma proporção discreta, desde que esteja preparado para o que irá assistir.
A sinopse e o trailer já deixam uma certa impressão: um grupo de pessoas isoladas por um incidente deve tentar encontrar meios de sair dali e procurar ajuda, enquanto luta para sobreviver às investidas de um assassino. Quais as razões para os desaparecimentos e o que isso tem a ver com uma tragédia ocorrida vinte anos antes? Ao mesmo tempo em que apresenta as ações nas duas épocas, com o efeito de causa e consequência, a narrativa também apresenta o interrogatório do provável único sobrevivente Sébastien (Nicolas Gob), que já permite que o espectador desconfie das atitudes de alguns personagens.
Ambientado nos alpes franceses, no vilarejo rústico de Valmoline, que possui como acesso uma única ponte, o enredo traz um grupo de pessoas que retornam ao local para um reencontro e também para a celebração do casamento de um deles, Laurent (Charles Petit), em companhia da noiva Tiphaine (Fleur Lise Heuet). Além do casal, há também Manu (Marc Ruchmann) e a namorada grávida Adèle (Emilie de Preissac); o já mencionado Sébastien e a namorada atriz Maud (Maud Jurez); Alice (Agnès Delachair) e Fabio (Mathieu Simonet); entre outros. São muitos personagens, uma vez que incluem as pessoas do vilarejo, como o pai de Laurent, Philippe (Philippe Dusseau), Muriel (Chloé Lambert)…E as idas e vindas do tempo também trazem versões jovens do grupo, como já acontecia em Dark, o que pode complicar se você tirar um cochilo entre as cenas.
O vilarejo é assombrado por uma tragédia do passado, quando uma família inteira desapareceu da noite para o dia. Enquanto o público acompanha as relações do reencontro, com Sébastien tentando resgatar um amor do passado, a narrativa mostra a chegada da família Rodier a Valmoline: Françoise (Mia Delmaë), que morou no local há alguns anos, seu marido, o escritor frustrado Jean-Louis (Manuel Blanc), e os filhos, com destaque para Julien (Félix Lefebvre), que nutria na época um interesse por Alice. A chegada ao chalé movimenta o povoado, devido a conflitos novos e antigos e a traição de Jean com a atendente do bar, Muriel.
Quando uma gigantesca pedra destrói a ponte de saída, tem início uma tensão crescente com o grupo envolto numa sensação de claustrofobia e insegurança. Desaparecimentos e acidentes estranhos passam a ser frequentes, levando-os à certeza de que há um assassino à solta. A primeira reação é a de buscar ajuda, mas a cada tentativa de explorar a região conduz à morte de alguém, seja por uma armadilha colocada no caminho ou a presença de um frio atirador escondido na mata densa. Assim que o desespero passa a manipular os personagens, segredos obscuros são revelados à medida que as máscaras começam a cair.
Lembrando vagamente a série Harper’s Island: O Mistério da Ilha (2009) pelo mistério proposto, Le Chalet é apenas mediano, não fazendo jus à regra das produções estrangeiras. Na verdade, em alguns momentos, parece uma novela francesa, com dramas que se arrastam entre conflitos, ciúmes e brigas bobas. Diferente de Dark, que trazia muitos personagens mas sabia usar uma dinâmica que evitava confusão, Le Chalet se atrapalha em decidir quem será o protagonista. Sem ter a quem torcer, o que sobra é o tal mistério envolvendo um assassino entre eles, mas…
A falta de criatividade na eliminação das vítimas é imensa: alguns são alvejados, há o que é arrastado por um carro – na morte mais boba da produção -, outro que é vítima de uma armadilha de urso…e até aquela que morre depois de uma simples queda no chão. Além disso, o ritmo é bastante irregular, alternando dramas e romances vazios com uma ou outra cena tensa, como a que envolve o claustrofóbico frigorífico. O elenco é muito bom, sabendo transmitir as angústias e o desespero, com destaque para a talentosa Fleur Lise Heuet, que constrói uma personagem bastante sensível.
Quanto ao mistério em si, a identidade do assassino, não há muito o que questionar. O infernauta atento irá identificá-lo desde o primeiro capítulo, restando os outros cinco – ainda bem que é uma minissérie em seis partes – para tentar entender a razão disso. Por volta do terceiro, já saberá do que se trata, bastando apenas uma última revelação, deixada para o último ato. Não chega a surpreender pela falta de suspeitos, depois que a grande maioria já se tornou vítima do massacre na canção-tema.
Com uma belíssima abertura em maquete, com um rio de sangue que inunda um vilarejo, o tal chalé torna-se apenas um pequeno detalhe dentro da trama. Teria sido melhor chamar a série de Valmoline, aproveitando que se trata de uma combinação reduzida de moradias e ambientes. Ao final, a minissérie apenas confirma a constatação do matemático Grossange (Thierry Godard), personagem esquecido no último capítulo, quando ele diz que o ser humano é o mal que habita a Terra. Dentro desse contexto, praticamente não há vítimas.
Quando se assiste a algo com uma certa expectativa, já que a França tem boas produções, como a excelente “Les revenants”, a decepção pode ocorrer. Mesmo sem isso, “Le chalet” não passa de uma produção mediana. Não chega a ser ruim, mas também não se destaca e não traz nada de novo. Para mim o maior mistério (até ser explicado) foi o que aconteceu com a família Rodier e o motivo, pois a responsabilidade pelos acontecimentos da segunda linha temporal era bem óbvia e frustrante por isso mesmo. Além disso, por mais que houvesse uma motivação, a mesma já usada em muitas tramas, tem de ter uma grande dose de loucura (também seria justificada…) para dedicar a vida a isso.
Assisti e achei extremamente arrastada. Há bons momentos mas são exceções. No último capítulo, já sem paciência, fui logo descobrir quem eram os tais… Hehe já vi coisas bem piores, mas não assistiria novamente.