5
(4)

O Reflexo do Mal
Original:The Reflecting Skin
Ano:1990•País:Canadá, UK
Direção:Philip Ridley
Roteiro:Philip Ridley
Produção:Dominic Anciano, Ray Burdis
Elenco:Jeremy Cooper, Viggo Mortensen, Lindsay Duncan, Duncan Fraser, Sheila Moore, David Longworth, Robert Koons, David Bloom, Evan Hall, Codie Lucas Wilbee, Sherry Bie, Jason Wolfe, Dean Hass. Guy Buller

“Algumas vezes, coisas horríveis acontecem de forma bastante natural”

Filmes do gênero fantástico são alegóricos por natureza. Das ficções científicas distópicas e seus robôs, alienígenas e insetos gigantes, até os longas de horror com situações sobrenaturais que escondem seres humanos atormentados, o cinema sempre se utilizou de vários expedientes como metáforas para problemas e dilemas reais e concretos. Em O Reflexo do Mal, uma pequena pérola anglo-canadense esquecida pelo tempo, não é diferente, num belo filme que pode ser interpretado como uma reflexão mística, lírica, simbólica da infância e da perda da inocência em forma muitas vezes de sonho… ou pesadelo.

O britânico Philip Ridley (Marca da Vingança, Paixões na Floresta) dirige e assina o roteiro sobre um garoto de nove anos, Seth Dove (Cooper), que vive na região rural de Idaho com sua mãe autoritária e de modos brutos (Moore) e seu catatônico e reservado pai (Fraser), enquanto seu irmão mais velho (Mortensen, de Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3 e O Senhor dos Anéis) luta na Segunda Guerra Mundial. O longa acompanha as travessuras do garoto e seus amigos em cenários idílicos (Ridley fez questão de pintar à mão os trigais da região de um amarelo vivo, berrante). O alvo preferido dos meninos é Dolphin Blue (Duncan), uma mulher inglesa que vive isolada em uma casa nos arredores. Quando o pai de Cooper lê um romance barato sobre vampiros, Cooper imediatamente associa a figura mítica à Dolphin, crendo de fato que a coitada é uma vampira. Acontecimentos inusitados como a chegada de uma gangue de jovens de óculos escuros e vestidos de preto em um Cadillac e o desaparecimento de crianças na região completam o cenário de eventos que de tão estranhos, parecem de fato, obra sobrenatural. Mas não se engane, O Reflexo do Mal trata seus personagens e situações de maneira ultrarrealista, causando, inclusive, uma espécie de estranhamento no espectador, tamanha teatralidade nas atuações e na mise-en-scène. Não por acaso, Ridley trabalhou muito mais nos palcos ingleses do que no cinema. Tematicamente ambicioso, há espaço para discussões de fundo religioso e moral, revelando, por exemplo, a tormenta da homossexualidade reprimida pelo pai de Seth.

Fotografado com a excelência característica de Dick Pope, o filme é permeado por uma atmosfera intensa e constante de caráter onírico e lúgubre, já que estamos vendo o filme pelos olhos do menino Cooper. Cada plano poderia ser emoldurado como uma pintura em tela, tamanho cuidado e perfeição nos enquadramentos. E é justamente seu desfecho, de uma força e significado ímpares, que encerra todo o belo simbolismo desse horror gótico moderno.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 4

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

6 Comentários

  1. Baixei esse filme aleatoriamente e me surpreendi com a fotografia magnífica e o enredo peculiar. Vale muito a pena, mas queria algumas explicações sobre algumas alegorias do filme que ficam em aberto.

  2. Lembro de ter assistido a este filme por volta de 1993 ou 1994 na TV Cultura. É um filme angustiante, tenso o tempo todo devido situações próximas a realidade. Os personagens são perturbados, amargos e mesmo as crianças e suas “brincadeiras”com requintes de crueldade(a cena do sapo é bem perturbadora, por isso difícil esquecer) são o cenário de desalento, falta de perspectivas e mudanças mais animadoras somadas a apatia, falta de compreensão e humanidade.

    1. O cara fez uma crítica sem se estender muito eu consigo entender o filme parabéns porque algumas críticas no site são muito longas pra encher linguiça

  3. Nunca tinha ouvido falar desse filme, mas me deu vontade de assisti-lo agora!

    1. É um filme pertubador, mas reflexivo. As belas paisagens contrastam com a apatia, crueldade e tristeza de quem vive em uma cidade pacata e bucólica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *