The Purge - 1ª Temporada
Original:The Purge - Season One
Ano:2018•País:EUA Direção:Ernest R. Dickerson, Anthony Hemingway, Clark Johnson, Nina Lopez-Corrado, Michael Nankin, Julius Ramsay, David Von Ancken, Tara Nicole Weyr Roteiro:James DeMonaco, Jamie Chan, Jeremy Robbins, Mick Betancourt, Thomas Kelly, Nick Snyder, Krystal Houghton Ziv Produção:Aaron Seliquini Elenco:Gabriel Chavarria, Hannah Emily Anderson, Jessica Garza, Colin Woodell, Lee Tergesen, Amanda Warren, Lili Simmons, Reed Diamond, Dominic Fumusa, William Baldwin, Christopher Berry, Fiona Dourif, Paulina Gálvez, Andrea Frankle |
Os mais de U$400 milhões de dólares arrecadados com o primeiro expurgo, lançado em 2013 com o título Uma Noite de Crime, serviram de incentivo para Jason Blum apostar em James DeMonaco no desenvolvimento de uma franquia violenta e reflexiva. O assustador toque da sirene permitia que, durante 12 horas, qualquer crime fosse cometido nos Estados Unidos, a partir de dados que comprovavam uma diminuição da violência no restante do ano. Os cidadãos de bem poderiam descarregar seu ódio, promover a vingança, destruir seus inimigos no período, numa ação política desenvolvida pela organização “The New Founding Fathers of America” (NFFA) para limpar a América daqueles que não contribuem para seu desenvolvimento. Com o primeiro filme, ambientado numa única residência, vieram as continuações, com a perspectiva de ampliar o alcance da agressividade, sempre com um tom político: Uma Noite de Crime: Anarquia (2014), 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição (2016), A Primeira Noite de Crime (2018) e esta série de TV.
Adaptar o conceito para dez episódios poderia funcionar, se os roteiristas soubessem desenvolver personagens e situações que sejam diferentes daquelas mostradas no cinema. Copiar o que já fora visto antes e encher os capítulos de cenas arrastadas e que não levam a lugar algum condenariam a produção a um cancelamento já na primeira temporada. Será que ainda existe o que contar nesse universo, sem soar oportunista e gratuito? Desenvolvida pelo canal USA Network e disponibilizada pelo sistema de streaming Amazon Prime Video – que, inclusive, tinha um interessante estande na CCXP, dando ao público uma pequena dose dos cenários apresentados -, The Purge estreou no dia 4 de setembro de 2018, obtendo opiniões divididas, mas com uma audiência que motivou a renovação para uma nova temporada, anunciada em novembro.
Iniciada cerca de duas horas antes do início do expurgo, a série apresenta personagens em situações isoladas, mas que acabam se cruzando nos dois últimos episódios. Recém saído da Marinha, Miguel Guerrero (Gabriel Chavarria, de Planeta dos Macacos: A Guerra) só pensa em reencontrar a irmã, Penelope (Jessica Garza), temendo que ela possa ainda estar envolvida com o traficante Henry (Dylan Arnold). O que ele não sabe é que a garota se associou a um culto religioso, liderado pela fria personagem de Fiona Dourif, que acredita na salvação da alma através da “dádiva” de alcançar o “invisível” se sacrificando no expurgo. Os jovens, vestindo mantos azuis, atravessam a cidade em um ônibus azulado e param em lugares específicos onde os “escolhidos” serão deixados para morrer.
Há também a executiva Jane Barbour (Amanda Warren), que decide passar a noite no prédio onde trabalha com a sua equipe, com a intenção de fechar um acordo benéfico com os japoneses. Poucos minutos antes do início do expurgo, ela contrata uma assassina para matar seu chefe, David Ryker (William Baldwin), para se vingar do assédio sofrido desde que passou a fazer parte da empresa. O local também envolverá uma disputa pessoal por uma possível promoção, desde que você realmente elimine o concorrente. Outros personagens de destaque são o casal Jenna (Hannah Emily Anderson, de Jogos Mortais: Jigsaw) e Rick Betancourt (Colin Woodell, de Buscando…), que resolvem participar de uma festa de gala, promovida por um dos organizadores da NFFA, Albert Stanton (Reed Diamond) e sua esposa Ellie (Andrea Frankle) para celebrar a noite. Eles participam do evento – que entre as bizarrices envolve a distribuição de máscaras de assassinos famosos e alguns expurgos – com a perspectiva de conseguir um financiamento para um projeto social. Lá eles reencontram a terceira ponta de um triângulo amoroso, a bela Lila (Lili Simmons), que voltou de uma viagem à Tanzânia para reconquistar seu amor.
Entre esses núcleos isolados, com seus próprios episódios de tensão, circulam outros rostos importantes como o do ex-policial Pete (Dominic Fumusa), que comanda um bar onde não há espaço para a violência e irá ajudar bastante Miguel; a doméstica Catalina (Paulina Gálvez), que trabalha com os Stantons e guarda um segredo sinistro; o desempregado Joe Owens (Lee Tergesen, de Outcast), que sai à noite como uma espécie de defensor dos expurgados, mas que também mantém um plano de vingança pessoal; e o coletor Rex (Christopher Berry), que ganha dinheiro sequestrando pessoas para eventos sangrentos. Sem inicialmente se cruzarem, todos os núcleos irão se unir no conflito final, rendendo momentos de desespero e um julgamento inesperado.
Mesmo com a necessidade de alguns flashbacks para explicar algumas ações – como a morte dos pais de Miguel e Penelope durante um expurgo; ou as situações que justificaram a vingança de Joe -, a série consegue manter uma boa dinâmica. Para evitar que os episódios se arrastem para nada, algumas boas ideias do enredo de Jamie Chan e mais cinco escritores mantêm o interesse do público. Em dado momento, Miguel é obrigado a participar de um jogo de sobrevivência na travessia um quarteirão, sendo transmitido ao vivo por alguns canais, podendo levar como prêmio um belíssimo carro – o que remete levemente àquele segmento de Olhos de Gato que envolvia o parapeito de um edifício. E há também a chamada “Feira da Carne“, um circo de horrores onde os pagantes ganham o direito de expurgar pessoas em leilões, lembrando o que Eli Roth fez em O Albergue.
Como é de costume da franquia, há grupos com máscaras bem desenvolvidas para trazer um aspecto assustador aos que ousarem andar à noite. O destaque fica por conta de freiras demoníacas, que coletam vítimas para A Feira; e o próprio visual exterminador de Joe na busca por aqueles que o agrediram durante sua vida. Só não se sabe porque ele só decidiu se vingar de todos nesse mesmo ano, tendo situações que aconteceram, por exemplo, em sua época escolar. E há outras falhas no enredo como a demora na ação vingativa de alguns personagens para justificar uma reação, e situações isoladas como a do vizinho que decide expurgar os Betancourt por um motivo bobo.
Com a aparência de um longa esticado, a série The Purge teve a boa direção de Ernest R. Dickerson (de The Walking Dead) e outro sete nomes que souberam conduzir bem os atos violentos. Deixou como sensação positiva um uso menor da política, comum nos filmes da franquia, para beneficiar momentos de tensão, suspense e desespero. Nem todos os personagens, mesmo os “mocinhos“, irão sobreviver ao expurgo até o toque final e poderão retornar na segunda temporada, caso optem por uma narrativa sequencial.
Achei a série boba e cheia de erros de conexão. Uma pena, a ideia da história é boa.