Godzilla: Planeta dos Monstros (2017)

3.3
(3)

Godzilla - Planeta dos Monstros
Original:Godzilla: Monster Planet
Ano:2017•País:Japão
Direção:Hiroyuki Seshita, Kôbun Shizuno
Roteiro:Gen Urobuchi
Produção:Takashi Yoshizawa
Elenco:Mamoru Miyano, Takahiro Sakurai, Kana Hanazawa, Tomokazu Sugita, Yûki Kaji, Jun'ichi Suwabe, Daisuke Ono, Kenta Miyake

Mesmo com toda a destruição promovida pelo “Rei dos Monstros“, com cidades transformadas em ruínas até quando as intenções eram boas, os japoneses mantêm seu fascínio por sua imponência. Fruto de armas nucleares, numa metáfora do poderio bélico inconsequente, Godzilla conquistou seu trigésimo segundo filme com o lançamento em 2017 de Godzilla: Planeta dos Monstros, animação grandiosa de Hiroyuki Seshita e Kôbun Shizuno, desenvolvida pela tradicional Toho Company. Como muitas vezes aconteceu com o personagem, aqui não há menção à aparições anteriores da criatura – não se trata de uma continuação e há pouca referência ao que fora mostrado anteriormente – tendo como propósito a renovação da franquia em uma nova trilogia. O longa chegou aos cinemas no Japão no dia 17 de novembro de 2017, com bastante sucesso, e dois meses depois já estava no sistema de streaming Netflix.

Apesar da boa receptividade, algo sempre comum em seus filmes, e da belíssima qualidade da animação (uma combinação fantástica de efeitos visuais e especiais, realizados pela Polygon Pictures em parceria com a Netflix), Godzilla: Planeta dos Monstros peca em sua essência: o fraco roteiro de Gen Urobuchi abusa dos clichês, da inverossimilhança, do exagerado heroísmo e entrega uma produção quase convencional (quase americana), ainda que explore a Ficção Científica e ouse na atmosfera claustrofóbica. O resultado é um deleite visual com muitas doses de entretenimento e emoção, ainda que esteja um pouco distante de outras produções com o monstro como até mesmo o americano Godzilla: O Rei dos Monstros, de 2014.

No prólogo, o jovem Haruo Sakaki (Mamoru Miyano) está no interior da nave-mãe Aratrum, pretendendo fugir com uma nave para o Planeta Terra. Ficamos sabendo que no último verão do século XX, monstros gigantescos começaram a emergir (alguns conhecidos dos primeiros filmes com o Godzilla), causando destruição e mortes. Entre eles, Godzilla, que começa, inclusive, a eliminar as demais criaturas, incluindo os seres humanos, numa caminhada acelerada para a extinção. Aqui cabe uma observação: ainda que o Rei dos Monstros seja uma gigantesca ameaça aos humanos, a impressão é que a raça humana inteira fica localizada no Japão, uma vez que não há projetos para fugir do país, atravessar os oceanos, e, sim, sair definitivamente do laneta, aceitando a supremacia da criatura. Entre as tentativas de explosões nucleares, surgem do espaço duas raças alienígenas, com suas características distintas: os religiosos Exif e os tecnológicos Bilusaludo, que desenvolvem um Meca-godzilla, desenvolvido com nanometal, que acaba falhando e obrigando a todos a uma imediata fuga para o espaço.

Durante o êxodo, os pais de Haruo, ainda criança, são mortos pelo Godzilla, o que desperta um trauma e um desejo contínuo de vingança. Vinte anos depois (no espaço, porque na Terra se passaram quase 20 mil anos!!), começam a surgir preocupações em relação ao abastecimento de comida. Uma tentativa de enviar os idosos para o planeta Tau-E, com a ameaça de explosão da nave por Haruo, visto no início, culmina com a morte dos passageiros e a condenação dele pelo crime cometido e desordem. Enquanto crescia, mantendo o desejo constante de eliminar Godzilla, Haruo manda um e-mail anônimo para os governantes com uma proposta de eliminação da criatura, uma vez que drones enviados à Terra revelaram que ele ainda se mantém vivo por lá.

Haruo fez um estudo detalhado da composição do monstro gigante e acredita que exista nele um ponto fraco, revelado no momento em que ele solta seu sopro atômico, quando seu escudo protetor regenerativo se revela falho. Provavelmente, a provocação de um pulso eletromagnético (PEM) poderia culminar em uma explosão interna e consequentemente sua completa destruição. Sem alternativas, são enviadas ao planeta 600 pessoas compondo vários pelotões para desenvolver o plano de Haruo, que exige um confronto direto para que o monstro permita o acesso ao seu “calcanhar de Aquiles“. Nessa jornada, destacam-se o comandante Leland (Daisuke Ono), além do alienígena Metphies (Takahiro Sakurai), que apoia a ascensão de Haruo para o comando das batalhas, e a jovem Yoko (Kana Hanazawa), apaixonada pelo protagonista.

As cenas de ação são bem configuradas e agradáveis de acompanhar. Aéreas e por terra, com os terráqueos usando roupas de proteção contra a radiação que eles mesmos provocaram, Godzilla surge em sua caracterização bem próxima da definitiva, e que também foi usado no filme americano. Movimentos lentos mas eficazes moldam um quadro belíssimo, quando visto por trás entre ruínas e destruição. Também são eficazes os diálogos intensos entre os personagens e o desespero do protagonista na sua tentativa de enfrentar o monstro mesmo que entenda suas limitações.

Se o aspecto técnico é de encantar os olhos e ouvidos, o roteiro não surpreende, rendendo-se a tudo o que o cinema já cansou de mostrar em produções épicas: sacríficos, tentativas constantes de conquistar a batalha nas situações mais extremas e um final que justifica a intenção de produzir uma trilogia. E tudo flui com inspirações rasas até mesmo em referências atuais como a série The 100, envolvendo a necessidade de viver no espaço e o grupo que arrisca a descer à Terra. Como o enredo precisa se desenvolver como capítulos de um filme único, há a necessidade de um final, sem que ele realmente represente isso.

Com mais acertos em sua execução, Godzilla: Planeta dos Monstros deve ser recomendado não apenas para os fãs do Rei dos Monstros, mas para todos aqueles que valorizam uma animação que traga momentos de diversão, com cenas de ação intensas, para todas as idades. Depois dele, vieram Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha (2018) e Godzilla: O Devorador de Planetas (2018).

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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